Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

CAPÍTULO 1: Uma Nação Nasce

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

O Nascimento do Povo de Israel

Antes de mergulharmos no significado e posição do povo de Israel no mundo, precisamos olhar para  a  razão  pela  qual  a  nação  Israelita  se formou, e como essa formação se revelou. Vamos, por um momento, viajar praticamente seis mil milhas para o leste, e praticamente quatro mil anos no passado, para a antiga Mesopotâmia, o coração do Crescente Fértil, o berço da civilização. Situada dentro de um  vasto  e  exuberante trecho de terra entre os rios Tigre e Eufrates, no que hoje é o Iraque, a  cidade-estado  Babilônia  representava-se anfitriã para uma civilização florescente. Explodindo com vida e ação, ela era o centro de comércio do mundo antigo.

Babilônia, o coração dessa civilização dinâmica, era uma panela de pressão, um substrato ideal sobre o qual uma miríade de sistemas de crença e ensinamentos cresceram e floresceram. Os Babilônios praticavam muitos tipos de idolatria. O Sefer HaYashar [O Livro do Justo] descreve a vida dos Babilônios nessa altura, e como eles adoravam: “Todas as pessoas da terra fizeram, cada uma, seu próprio deus nesses dias, deuses de madeira e pedra. Eles os adoravam, e se tornaram deuses para eles. Nesses dias, o rei e todos seus servos, e T erah [pai de Abraão] e seu inteiro agregado, foram os primeiros entre os adoradores de madeira e pedra. … [Terah] os adoraria e se dobraria a eles, e assim fez o todo dessa geração. Todavia, eles haviam abandonado o Senhor, que os havia criado, e não havia um único homem em toda a terra que conhecesse o Senhor…”16

Ainda assim, o filho de T erah, Abraão, que  então  ainda era chamado pelo nome de Abrão,  possuía  uma  certa qualidade que fazia dele único: ele era invulgarmente perceptivo, com um zelo cientifico pela  verdade.  Abraão era também uma pessoa preocupada, que reparou que o povo da sua cidade estava tornando-se crescentemente infeliz. Quando ele refletiu sobre isso, descobriu que  a  causa da sua infelicidade era o crescente egoísmo e  alienação que se apoderavam deles. Dentro de um período de tempo relativamente curto, eles declinaram a união e preocupação mútua, tendo sido “De uma língua  e  uma  fala” (Génesis 11:1), para a vaidade e alienação, dizendo “Vinde, construamos uma cidade, e uma torre, com seu topo  nos  céus,  e   façamos   para   nós   mesmos   um nome”  (Génesis, 11:4).

Na realidade, eles estavam tão preocupados em construir sua torre de orgulho que se esqueceram completamente   das   pessoas   que   lhes   eram    em tempos parentes. A composição, Pirkey de Rabi Eliezer (Capítulos  de  Rabi  Eliezer),  um  dos  Midrashim  sobre  a Torá (Pentateuco), oferece uma descrição vivida não só da vaidade dos Babilônios mas também da alienação com a qual eles se consideravam uns aos outros. O livro escreve, “Nimrod disse a seu povo, ‘Construamos uma grande  cidade e moremos nela, caso contrário ficaremos dispersos pela terra como os primeiros, e construamos uma grande torre dentro dela, subindo em direção aos céus  …  e  façamos para nós um grande nome na terra…’

“Eles a construíram alta … aqueles que trariam os  tijolos a subiam pelo seu lado oriental, e aqueles que desciam dela, desciam pelo seu lado ocidental. Se uma pessoa caísse e morresse, eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro em seu lugar’”.17

A atitude dos conterrâneos de Abraão uns para com os outros o incomodava, e ele iria até lá e observaria a conduta dos construtores. Pirkey de Rabi Eliezer continua  a descrever suas observações da sua animosidade  de  uns  para os outros: “Abraão, filho de Terah, passou e os viu construir a cidade e a torre”. Ele tentou falar com eles e lhes contar sobre o Criador, a força governante da união que ele havia descoberto, para atestar que as coisas seriam ótimas somente se eles seguissem a lei da união, também. “Mas eles abominaram suas palavras”, o livro descreve. Em vez disso, “Eles desejaram falar a língua uns dos outros”, como antes, quando ainda eram de uma língua, “Mas eles não sabiam a língua uns dos outros. Que fizeram eles? Cada um deles pegou sua espada e lutou com o outro até à morte. Certamente, metade do mundo morreu ali pela espada.”18

À luz da grave situação do seu povo, Abraão decidiu espalhar o princípio que ele havia encontrado, independentemente dos riscos. Na sua composição,  HaYad HaChazaká (A Mão Poderosa), também conhecida como Mishnê Torá (Repetição da Torá), o reconhecido acadêmico do século XII, Maimonides (o RAMBAM), descreve a determinação de Abraão e esforços para descobrir as verdades da vida: “Desde que este firme foi desmamado, ele começou a questionar. …Ele come çou a ponderar dia e noite, e ele questionava -se como era possível que esta roda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a si mesma? Ele não tinha nem professor nem tutor. Em vez disso, ele foi cunhado em Ur dos  Caldeus entr e os idolatras iletrados, com sua mãe e pai, e todas as pessoas que adoravam as estrelas, e ele, adorava com eles.”19

Na sua busca, Abraão descobriu a união, a unicidade   da realidade, essa força singular criativa que cria, sustenta    e conduz toda a realidade para a sua meta. Nas palavras de Maimonides, “[Abraão] alcançou o caminho da verdade … com sua sabedoria correta, e sabia que havia um Deus que conduz… que Ele criou tudo, e que em tudo o que há, não há outro Deus senão  Ele.”20

Para compreender precisamente o que é que Abraão alcançou, mantenha em mente que quando os Cabalistas falam de Deus, eles não se referem a um ser todo-poderoso ou a uma força que você deve adorar, agradar e apaziguar, que em retorno recompensa os devotos adoradores com saúde, riqueza, longa vida e outros benefícios terrenos. Em vez disso os Cabalistas identificam Deus com a Natureza, o todo  da Natureza.

Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada), fez várias afirmações inequívocas sobre  o sentido do termo, “Deus”. Sucintamente, ele explica que Deus é sinônimo de Natureza. No ensaio, “A Paz”, Baal HaSulam   escreve   (num   excerto   ligeiramente    editado),

“Para evitar de ter que usar ambas as línguas daqui em diante, ‘Natureza’  e  um  ‘Supervisor’,  entre  os  quais,  como demonstrei, não há qualquer diferença…é melhor para nós … aceitarmos as palavras dos Cabalistas que HaTeva [A Natureza] é o mesmo…que Elokim [Deus]. Então, serei capaz de chamar às leis de Deus ‘mandamentos da Natureza’, e vice-versa, pois eles são um e o mesmo, e não precisamos discutir mais.”21

“Aos  quarenta  anos  de   idade”,   escreve  Maimonides,  “Abraão  veio  a   conhecer   seu Fazedor”, a  lei singular da Natureza, que cria todas as coisas. Mas Abraão não manteve sua descoberta para si mesmo: “Ele começou a fornecer respostas ao povo de Ur dos Caldeus,    a conversar com eles e  a  lhes  contar  que  o  caminho  sobre o qual eles caminhavam não era o caminho da verdade.”22 Assim, Abraão foi confrontado pelo estabelecimento, que neste caso era Nimrod, rei de Babel.

O Midrash Rabá, escrito no século V da  E.C.,  apresenta uma descrição vivida  da  confrontação  de  Abraão com Nimrod, um vislumbre das dificuldades que Abraão sofreu por sua descoberta e sua  dedicação  à verdade. Ele também fornece uma  divertida  visão  no fervor de Abraão. “Terah [Pai de Abraão]  era  um  adorador de ídolos [que ganhava sua vida fazendo e vendendo estátuas na loja da família]. Uma vez, ele foi a certo lugar e disse a Abraão que ficasse em seu lugar para ele. Um homem entrou e quis comprar uma estátua. [Abraão] perguntou -lhe, ‘Quão velho sois vós? ‘E  o  homem respondeu, ‘Cinquenta ou Sessenta’, Abraão disse- lhe: ‘Ai daquele que tem sessenta e tem de adorar uma estátua de um dia.’ O homem ficou envergonhado e partiu.

“Outra vez, uma mulher entrou com uma taça de semolina. Ela disse-lhe, ‘Aqui,  sacrifica  perante  as  estátuas’, Abraão levantou-se, pegou no martelo, quebrou todas as estátuas, então colocou o martelo nas mãos da maior. Quando seu pai regressou, ele perguntou- lhe,  ‘Quem fez isto’? [Abraão] respondeu,  ‘Uma  mulher  entrou. Ela trouxe-lhes uma taça de semolina e pediu-me que sacrificasse  perante elas. Eu sacrifiquei  e uma disse,  ‘Eu comerei primeiro’, e a outra disse, ‘Eu comerei primeiro’. A maior levantou-se, pegou o martelo, e as quebrou’. Seu pai disse, ‘Estás tu a enganar-me? O que sabem elas’? E Abraão respondeu-lhe, ‘Tuas orelhas  escutam o que tua boca  diz’?”23

Nesse ponto, Terah sentiu que não conseguia mais disciplinar  seu   filho   descarado. “[Terah] levou [Abraão]  e entregou-o a Nimrod [o rei, mas também a autoridade espiritual mais alta da Babilônia]. [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora o fogo’. Abraão respondeu, ‘Talvez deva adorar a água, que extingue o fogo’? Nimrod respondeu, ‘Adora a água’! [Abraão] disse-lhe: ‘Então talvez deva adorar a nuvem, que transporta a água’?  [Nimrod]  disse-lhe,  ‘Adora  a nuvem’!

“[Abraão] disse-lhe: ‘Nesse caso, devo eu adorar o  vento que dispersa as nuvens’? Ele disse-lhe, ‘Adora o vento’! [Abraão] disse-lhe, ‘E devemos nós adorar o  homem, que sofre do vento’? [Nimrod] disse-lhe: ‘Tu falas demasiado, eu adoro somente o fogo. Eu jogar-te-ei nele, e deixarei que o Deus que adoras te venha salvar dele!

“Harã [irmão de Abraão] lá se encontrava. Ele disse,   ‘Se Abraão vencer, eu direi que concordo com Abraão, e se Nimrod vencer, eu direi que concordo com Nimrod’. Quando   Abraão   desceu   à   fornalha   e   foi   salvo,   eles perguntaram [Harã], ‘Com quem estais’? Ele  disse-  lhes: ‘Eu estou com Abraão’. Eles o levaram e o jogaram no fogo, e ele morreu na presença de seu pai. Assim foi dito,    ‘E Harã morreu na presença de seu pai Terah’.”24

Assim Abraão resistiu Nimrod, mas foi expulso da Babilônia e partiu para a terra de Harã (pronunciada Charan, para distingui-la de Harã, filho de Terah). Mas Abraão não deixou de circular sua descoberta só porque ele estava exilado da Babilônia. As descrições elaboradas de Maimônides contam-nos, “Ele começou a clamar  ao  mundo inteiro, para os alertar que há um Deus para o mundo todo… Ele clamou,  vagueando de cidade em cidade e de reino em reino, até que chegou à terra de Canaã…

“E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinava a todos…até que ele os trouxe   de volta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo da casa de Abraão. Ele colocou seu princípio nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho  Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou,  e informou Jacó, e o nomeou professor, para se sentar e ensinar… E  Jacó o Patriarca ensinou todos os seus filhos. Ele separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar e aprender o caminho de Deus…”25

Para garantir que a verdade se transportaria pelas gerações, Jacó “ordenou a seus filhos que não parassem de nomear nomeado após nomeado de entre os filhos de Levi, para que o conhecimento não fosse esquecido. Isto continuou e se expandiu nos filhos de Jacó e naqueles que  os acompanharam.”26

I S R A E L — O  M A I S  P R O F U N D O  A N S E I O

O resultado surpreendente dos esforços de Abraão foi o nascimento de uma nação que conhecia as leis mais profundas da vida, a derradeira Teoria de Tudo, ou nas palavras de Maimônides: “Uma nação que conhece o  Senhor foi feita no mundo.”27

Certamente, Israel não é meramente o nome de um povo. Em Hebraico, a palavra, Ysrael (Israel), consiste de duas palavras: Yashar (direto), e El (Deus). Assim, Israel designa uma mentalidade de querer descobrir a lei da vida, um desejo de alcançar ou perce ber  o  Criador.  Nas palavras de Rabi Meir Ben Gabai,  “No  significado  do  nome ‘Israel’  há também Yashar El [direito a Deus]” .28  Em semelhança, no seu Drush [sermão escrito] a respeito  da Oração do Viajante, o grande Ramchal escreveu simplesmente,   “Israel — Yashar El”.

Colocando-o diferentemente, Israel não é uma atribuição genética, mas em vez disso o nome, ou direção  do desejo que conduziu Abraão à s suas descobertas. Geneticamente, os primeiros Israelitas  foram  Babilônios  ou membros de outras nações que se juntaram ao grupo     de Abraão. O significado de seu nome era claro para os antigos Israelitas. Como Maimônides  escreveu,  eles tiveram seus professores, os  Levitas,  e  eles  foram ensinados a seguir as leis essenciais da vida.

Hoje, contudo, estamos inconscientes do fato de que “Israel” na realidade se refere ao desejo de conhecer a lei básica  da  vida,  o  Criador,  e  ele  não  faz  alusão  a  uma linhagem genética. Quase 2000 anos de ocultação  da verdade desde a ruína do Segundo Templo praticamente obliteraram a verdade de que a descoberta de Abraão era dirigida para todas as pessoas no mundo, tal como o  próprio Abraão o pretendia para todas as pessoas na Babilônia, e mais tarde “começou a clamar ao mundo inteiro”, para citar  Maimônides.

Com o passar dos anos, somente os Cabalistas mantiveram esta verdade viva. Cabalistas tais como Elimelech de Lizhensk,29 Shlomo Ephraim Luntschitz,30 Chaim Iben Attar,31 Baruch Ashlag32 e muitos outros escreveram em palavras simples: Ysrael significa Yashar El (diretamente a Deus).

Além do mais, a necessidade de descobrir esta força é mais pertinente hoje que nunca. Nada mudou na Natureza desde o tempo de Abraão, e o Criador ainda é a força una que cria, governa e sustenta a  vida.

O que mudou é que hoje precisamos de verdadeiro conhecimento do Criador mais que nunca. No tempo de Abraão, a humanidade  teve numerosos   outros caminhos   a seguir além do caminho da verdade de Abraão. Os caminhos sociais de hoje, contudo, estão gradualmente a    se provar a si mesmos ineficazes em solucionar a nossa moral e coesão social em  declínio.

Certamente, a seu tempo, a cultura Babilônia se dissipou e as pessoas se dispersaram pelo mundo. Sua alienação e discórdia social, que causaram sua queda, representadas pela queda da torre, se tornaram discretas e comedidas. As pessoas realojaram -se em novos lugares, trazendo com elas a cultura e atitude Babilônia, inconscientes      de    que  transportavam  seus  costumes de

Agora que temos uma comunidade global, cada crise é numa escala global. Os erros que fizermos fazem sua cobrança no mundo inteiro, tornando  a  descoberta  de  uma única força de Abraão informação soberana e salva- vidas que deve ser somada aos nossos cálculos e planos se desejamos sobreviver.

U N I Ã O — E  D E S S E  M O D O ,  I G U A L D A D E

Hoje, nossa única esperança é nos unirmos, porque  a  união, como veremos abaixo, é a direção da força que conduz toda a vida. Nosso  desafio,  desta  forma,  é  aprender como nos unirmos. É possível e é plausível, mas num tempo de crises, isso exigirá reconhecer a  força  da vida e gerar um esforço mútuo para cooperar e colaborar para que possamos viver pelas prescrições desta lei.

Deve ser notado, contudo, que união não exige paridade ou semelhança. Em vez disso, ela exige  disparidade, sobre a qual nos unirmos. Hoje, por exemplo, há muitas denominações dentro da religião Judaica, bem como Judeus não afiliados. União Judaica significaria que sem mudar nossos costumes, sem convergir para  uma  única denominação, nos uniríamos e aprenderíamos a valorizar, e eventualmente nos preocuparmos verdadeiramente  uns  pelos outros.

Isso pode parecer impossível, considere uma família com várias crianças.  Numa  família  normativa,  cada criança tem sua  personalidade  única.  Mais  frequentemente que o contrário, essas personalidades colidem, como nossas memórias das nossas brigas de infância        com        nossos        parentes        testemunham.

Frequentemente pensamos de nossos irmãos e  irmãs  em tais termos como, “Se ele/ela não fosse meu irmão/irmã, nunca estaria perto dele/dela”.  Mas,  precisamente  esse  fato de que estamos juntos com nosso parente muito diferente prova que quando há amor, podemos unir-nos acima  das diferenças.

É precisamente o que precisamos fazer,  nos  unir  acima de nossas diferenças. Desse modo intensamente sentiremos tanto nossa diversidade, frequentemente qualidades opostas, e a união que cavalga acima delas. Quando isso acontecer, seremos capazes de usar nos sas diferenças para o melhor, pois cada um de nós contribui perspectivas, ideias e modos de ação que mais ninguém consegue, assim formando um todo mais forte. Tal como nossos corpos precisam de diferentes órgãos para nos manter  saudáveis,  precisamos  permanecer  diferentes  e nos unir acima das diferenças por uma meta comum de realizar o papel do povo Judeu, trazer a luz da união às nações.

Seguindo a partida de Abraão da Babilônia,  regressando ao nosso tópico anterior, a cidade continuou     a cultivar a despreocupação egocêntrica.  E  embora  não haja nada de errado com prazer e diversão, quando é absolutamente egocêntrico, no fim é autodestrutivo. O verdadeiro   propósito   da   vida,   Abraão   descobriu,    é nos tornarmos semelhantes à força singular da vida, experimentar a unicidade com tudo. Nossos  sábios  chamam a essa união e unicidade,  Dvekút  [adesão],  e  o que pretendem eles dizer com essa palavra e que eventualmente devemos  adquirir  as  qualidades  do  Criador e nos tornarmos similares, ou até iguais a Ele.

Para citar as palavras de Rabi Meir Ben Gabai, “Sobre    a parte da Dvekút [adesão] com as forças do Grande Nome  e Suas qualidades, você apega -se ao Senhor seu Deus, pois Ele é Seu nome, e Seu nome é Ele, pois você  está relacionado e é semelhante a Ele, e Dvekút com Ele é a verdadeira vida”. 33 Em semelhança, o Sagrado Shlah escreveu em Toldot Adam [As Gerações do Homem], “Nossos sábios disseram (Sotá 14a), ‘E vós que vos apegais ao Senhor’, apegai-vos a Suas qualidades, e então ele é chamado Adam [homem], como em, adamé la Elyon [Eu serei como o mais  alto]”.34

No século XX, Baal HaSulam elaborou extensamente sobre o termo, Dvekút, o definindo como “equivalência de forma”, ou seja adquirir a “forma”  (qualidades)  do  Criador. Na sua “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabalá”, ele escreveu, “Assim, [a alma] será digna de  receber toda a abundância e prazer incluídos no Pensamento da Criação, e também estará em completa Dvekút (adesão) com Ele, em equivalência de forma.35

Em “Introdução ao O Livro do Zohar”, Baal HaSulam acrescenta, “Assim, uma pessoa compra a completa adesão com Ele, pois adesão espiritual é senão equivalência de forma, como nossos sábios disseram, ‘Como é possível se apegar a Ele? Em vez disso, apegai – vos a Suas qualidades’”.36

Com o tempo, como mencionado acima, o grupo de Abraão tornou-se uma  nação,  e  a  necessidade  de  um novo método de união surgiu.  Os  ensinamentos  de  Abraão mantiveram-se enquanto todos em Israel podiam  ser ensinados. Mas no tempo em que o povo de Israel saiu do Egito, eles atingiram o número de 600.000 homens e algumas  três  milhões  de  pessoas  ao  todo.  Era impossível ensinar todos eles da mesma maneira que se aprende de um professor.

A solução encontrava -se no sopé do Monte Sinai. Lá, nesse ponto essencial da história de nosso povo, o princípio mais fundamental da nossa Torá foi dado, e é dado ainda hoje, cada dia e em cada momento. Esse princípio, como Rabi Akiva o colocou, é “Ama teu próximo como a ti mesmo”.

No sopé do Monte Sinai, explica o grande acadêmico e intérprete RASHI, recebemos a Torá, as leis pelas quais nos uniremos, porque lá concordamos com todo o coração assim fazer. Nas suas palavras, “‘E Israel acampou lá’, como um homem com um coração”.37 Desse momento em diante, união tem sido o principal bem do p ovo Judeu, o meio pelo qual alcançamos o Criador, adquirimos Suas qualidades, e obtemos Dvekút, equivalência de forma (qualidades) com Ele.

O Midrash Tanah De Bei Eliyahu escreve, “O Senhor disse para eles, para Israel: ‘Meus filhos, careci Eu de algo que vos deva pedir? E que vos posso pedir? Somente que  vos amais uns aos outros, vos respeitais uns aos outros, e  vos temais uns aos outros, e não haverá transgressão, roubo, e feiura entre vós”.”38

Com o tempo, união tornou-se tão crucial que substituiu qualquer outro mandamento em termos de sua importância. Ela tornou -se a una e única chave para a redenção espiritual de Israel e salvação de seus inimigos. O Midrash Tanhumá escreve, “Se uma pessoa pegar num feixe de juncos, ela não os consegue quebrar a todos. Mas se ela pegar um de cada vez, até uma criança os quebra. Similarmente, Israel não serão redimidos até que eles sejam todos um feixe.”39

No mesmo espírito, Masechet Derech Eretz Zutá escreve, “Assim Rabi  Eleazar  ha- Kappar diria, ‘Amai a  paz, e desprezai a divisão. Grande é a paz, pois até quando Israel pratica idolatria, e há paz entre eles, o Criador diz,   ‘Eu não lhes desejo tocar [magoar] ‘, como está escrito (Oséias, 4:17), ‘Efraim está junto aos ídolos, deixai-o sozinho’. Se há divisão entre eles, o que se diz sobre eles (Oséias, 10:2)? ‘Seu coração está dividido, agora eles carregarão  sua culpa’”.40

E todavia, por tudo o que acaba de ser dito sobre a importância da união, quando olhamos ao nosso redor é evidente que a maioria das pessoas nem se  deseja  unir,  nem encontra qualquer benefício na  união,  certamente  não com seus próximos, como o princípio dita. Para compreender como tal princípio se tornou tão  supremo para a existência de nosso povo, e agora para o mundo inteiro, precisamos de examinar a evolução da realidade de um ponto de vista diferente do que aquele que a ciência frequentemente toma. Precisamos olhar para a realidade como uma evolução de desejos. Quando vemos a realidade como tal, a razão por trás da proeminência do desejo de unir, e a consequente  aquisição  da qualidade  do Criador, se tornarão claras como o cristal. Desta forma, a evolução dos desejos será o tópico do próximo capítulo.

 

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