Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Introdução

Do livro “Completando o Círculo”

“Faz tempo que acredito que esta interdependência

define o novo mundo no qual vivemos”

Tony Blair

Muitos anos atrás, quando eu era jovem, havia Woodstock. Meninas bonitas com flores no cabelo, Jimmy Hendrix, Joan Baez, e corações que sonhavam com uma América diferente, mais justa, e um mundo mais pacífico. Quando MLK disse: “Eu tenho um sonho”, nós acreditávamos nele e acreditávamos em seu sonho. Nem todos os protestos foram pacíficos, e nem todas as marchas tranquilas, mas muitos baby-boomers refletem sobre a década de 1960 com um brilho nostálgico no canto do olho. Apesar dos protestos, nos foi justamente dado o nome de “crianças flores”, e não “bandidos”, como são chamados alguns dos manifestantes de hoje, se justamente ou não. Os anos 1960 e início dos anos 70 foram anos de mudança, mas acreditávamos no futuro; nós tínhamos esperança e acreditávamos que podíamos melhorar as coisas. Quando o movimento Ocupe a Wall Street (OWS) apareceu pela primeira vez em 2011, houve mais uma vez um sentimento de mudança e otimismo no ar. Na esteira da Grande Recessão e da crise financeira que quase fez cair economia dos EUA, o movimento social exigiu a igualdade e justiça econômica.

Como em tudo que chama a atenção da mídia, o movimento se espalhou rapidamente por todo o globo, e acampamentos do Ocupe surgiram em Londres, Madrid, Sydney, Telavive, e muitas outras cidades.

Ao mesmo tempo, protestos muito menos benignos entraram em erupção em todo o mundo árabe. A “Primavera Árabe” tornou-se um pesadelo constante para milhões de pessoas ao Egito, Síria, Líbia, Iêmen e muitos outros países experimentaram revoluções violentas e contrarrevoluções.

Hoje, o Movimento Ocupe está quieto, tanto nos EUA e na Europa, mas os problemas que o causaram ainda estão aguardando respostas. O otimismo das crianças flor foi substituído por apatia e frustração reprimida. No entanto, as pessoas não têm mais respostas às suas necessidades de segurança, confiança e auto expressão, mais agressivos se tornam em suas exigências.

Hoje, o tecido social dos Estados Unidos está passando por um teste cujo resultado é uma incógnita. Em comparação com a década de 1960, parece que há algo beligerante, mesmo sinistro sobre os tumultos que temos visto em erupção em algumas cidades americanas. A dor e a frustração expressas nestes protestos devem acender uma grande luz vermelha na mente de cada pessoa preocupada no planeta.

Mas na América, há uma aflição adicionada ao já pesado fardo que as pessoas têm que carregar: toda a dor e sofrimento estão em oposição ao “Sonho Americano”. Como resultado, não apenas as pessoas têm que lidar com os desafios de seu dia a dia, mas também têm sido criadas para comparar-se constantemente a um ideal impossível, um fantasma que as continua assombrando onde quer que vão. Toda vez que pensam ter conseguido algo, este algo foge para cima delas e sussurra: “Olhe para os Silvas! Eles estão vivendo o sonho americano, enquanto você está dormindo, criança. Acorde e consiga um pouco mais! ”

James Truslow Adams, que definiu o Sonho Americano em seu livro de 1931, O Épico da América, descreveu- o como um “sonho de uma terra em que a vida deve ser melhor e mais rica e completa para todos, com oportunidade para cada um de acordo com a capacidade ou realização”.

E, no entanto, muitos americanos cresceram tentando viver este sonho que este duro despertar para a realidade da vida criou um trauma nacional. Mesmo naquela época, Adams admitiu que “muitos de nós mesmos cansamos e desconfiamos dele.” Se isso era verdade em 1931, quando publicou o primeiro livro, como devemos chamar a desilusão e frustração que as pessoas sentem hoje?

Perseguir um fantasma e acompanhar o passo dos Silvas não é somente desgastante e frustrante, mas deforma completamente a nossa maneira de pensar, uma vez que nos inicia em uma luta interminável e redundante com o mundo inteiro. Imagine que suas mãos de repente se esqueçam que são partes de seu corpo e comecem a pensar em si mesmas como pessoas separadas que se chamam Direitinha e Esquerdinha. Antes que você perceba, elas começam a difamar uma a outra em nome da liberdade de expressão, competindo uma com a outra em nome da igualdade de oportunidades, e explorando o oxigênio e energia do corpo em nome da livre concorrência. Mas o que será de nós, o resto do corpo? E qual será o fim de Direitinha e Esquerdinha, também? Quem deverá vencer, elas ou o corpo? Podem ambos vencer?

Se Direitinha e Esquerdinha “derem as mãos” e trabalharem juntas, todos se beneficiariam. Não só elas poderiam prosperar, mas todo o corpo seria saudável e forte, e o resto dos órgãos poderiam contribuir alegremente com sua parte para o sucesso comum, com um objetivo comum para sustentar o corpo.

A sociedade americana é como esse corpo, e cada pessoa dentro dele é como aquelas mãos. Como Direitinha e Esquerdinha, perdemos o contato com a realidade e pensamos em nós mesmos como sozinhos, alienados e distantes. Mas a verdade é que apenas pensando assim, estamos fazendo todo o tecido social na América mais perto de entrar em colapso.

“Nenhum homem é uma ilha, inteira por si só; todo homem é um pedaço do continente, uma parte do principal “, escreveu John Donne em 1624. Se apenas lembrarmos de Direitinha e Esquerdinha que elas são partes de um mesmo corpo, tudo ficará bem. Da mesma forma, se nos lembrarmos que “nenhum homem é uma ilha”, tudo estará bem no nosso mundo.

No Épico da América, Adams escreveu que o sonho americano “não é um sonho de veículos a motor e altos salários meramente, mas um sonho de ordem social em que cada homem e cada mulher deve ser capaz de alcançar a posição mais alta que eles são naturalmente capazes, e serem reconhecidos por outras pessoas pelo que elas são. “Com toda a abundância material que cria América, e as infinitas possibilidades que oferece para a realização pessoal, tudo o que precisamos para que todos possam ser felizes é lembrar que nós somos todos os órgãos do mesmo corpo, e nenhum órgão pode ser verdadeiramente feliz se todos os outros órgãos não estão felizes também.

Se, por exemplo, um pequeno espinho fica preso em meu dedo do pé, eu não posso estar à vontade até que ele seja retirado Da mesma forma, não podemos ser felizes a menos que todos nós estivermos felizes também. Isto pode não ser uma sensação palpável ainda, mas estamos rapidamente nos aproximando de um estado onde nós conscientemente percebemos que estamos todos no mesmo barco, e se não remarmos certamente afundaremos.

Apesar dos benefícios óbvios da abordagem holística, ainda tendemos a esquecer que estamos todos conectados. Não é uma decisão consciente, mas parece ser a nossa mentalidade natural pensar em nós mesmos como indivíduos separados.

Isto não seria um problema se não fosse o fato de ser o oposto completo da realidade. A comida em nossas mesas vem de todo o mundo, e o mesmo vale para as roupas em nossos corpos e os equipamentos que usamos para a comunicação e entretenimento. A ideia de que podemos dar conta por nós mesmos é provavelmente o maior absurdo da vida, mas todos caímos nisso.

Quando um bebê de um ano de idade dá seus primeiros passos, todo mundo aplaude e ele se sente no topo do mundo. Mas ele poderia se tornar independente? Ele poderia sobreviver sozinho?

Nós não somos muito diferentes. O fato de podermos ir ao supermercado e comprar nossa comida por nós mesmos não significa que nós a podemos fornecer para nós mesmos. Algum “pai” imaginário trouxe todos os mantimentos para a loja e nós apenas vamos lá para buscá-las. É verdade, nós trabalhamos pelo dinheiro para comprar os mantimentos, mas mesmo o fato de que temos um trabalho não é a nossa escolha independente, mas uma circunstância que nos foi imposta por esta coisa vaga que chamamos “vida”.

Nós não somos únicos em nossa ligação e dependência uns dos outros. Cada criatura viva é dependente de seu ambiente para a sua sobrevivência. Somos únicos apenas em nossa resistência à nossa dependência. Cada animal aceita o fato de dependência mútua e vive com isso. Nós, a contragosto resistimos a isso e franzimos a testa para a necessidade de reconhecer o impacto de outras pessoas em nossas vidas. O resultado é que estamos vivendo sob os mesmos princípios de dependência mútua, como o resto da natureza, mas enquanto todas as outras criaturas aceitam como natural, nós nos ressentimos. Isto é o que complica nossa vida e a torna difícil.

A dependência mútua não é difícil em si, mas a experimentamos assim, porque almejamos independência e também para nos convencer disso. Na verdade, o que está nos atormentando-nos não é a nossa dependência dos outros, mas o nosso ressentimento disso, a nossa orientação inata para nos separar de todos, o que é, por definição, impossível.

Parece que estamos condenados ao sofrimento eterno, mas realmente não estamos. Cada sistema tem suas leis. Sem leis não haveria sistema, mas caos. O truque é aprender como usar essas leis para nossa vantagem. Quando a NASA lança naves espaciais no espaço exterior, se baseia em uma manobra chamada “estilingue gravitacional” para acelerar as naves espaciais utilizando uma quantidade mínima de combustível. Ela faz isso, tirando partido do movimento e da gravidade dos planetas no caminho da espaçonave. Da mesma forma, se aceitarmos que a interdependência é uma lei natural, seríamos capazes de usá-la para nossa vantagem.

No entanto, os seres humanos não são animais comuns, mas animais com ego. Nossos egos nos fazem sentir únicos e, portanto, se ressentem de ser dependentes dos outros. A única maneira pela qual podemos “persuadir” a nós mesmos que a interdependência é saudável para nós, também, é mostrarmos aos nossos egos que podem se beneficiar disso. Assim como cada órgão do nosso corpo é único, é também uma parte vital de um todo maior, e o todo fornece a parte com tudo o que ele precisa para a sua sobrevivência e prosperidade. Da mesma forma, cada pessoa neste planeta é única, mas essencial para a integridade da sociedade humana, e a sociedade humana fornece a cada um de nós o que precisamos para a nossa sobrevivência e auto realização. Este conceito é a essência do plano de ação que mencionei no Prefácio.

Quando nós compreendamos plenamente os meandros de nossas conexões internas, vamos saber como devemos trabalhar de modo a estar em pleno controle de nossas vidas. Para fazer isso, devemos primeiro compreender que num sistema em que todas as partes estão conectadas, nenhuma parte é mais importante, ou menos importante. Cada parte tem seu papel único, e é igualmente essencial para o sucesso de todas as outras partes. Essa é a única igualdade da Natureza.

O plano de ação baseia-se na igualdade como base para todas as interações humanas. É por isso que eu a chamei de “Educação Integral” (EI). Integral, significando todo, englobando todos, e Educação, que significa que nós ensinamos a nós mesmos a pensar integralmente, ao invés do nosso pensamento atual egocêntrico. Esta igualdade única é também a razão do elemento principal na EI ser o círculo de conexão (CC) -onde não há chefe, nenhuma parte é mais importante, cada um é igualmente essencial para a integridade do círculo, mas cada ponto dentro dele é diferente. Para tornar a explicação mais clara, dividi o livro em duas partes. A Parte Um elabora sobre as ideias por trás da EI, e quais devem ser os princípios que nos permitam transcender o pensamento egocêntrico. Isso nos permite desfrutar dos benefícios de perceber a lei da conexão. A Parte Dois oferece exemplos práticos e exercícios que todos nós podemos fazer, para nos ajudar a experimentar esta nova forma de conectividade. Assim, sem mais delongas, vamos começar.

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