Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

CAPÍTULO 4: Uma Nação em Missão

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

O Papel do Povo Judeu

“Abraão foi recompensado com a bênção de ser como as estrelas dos céus, Isaac, a bênção da areia e Jacó, como a poeira da terra, pois os filhos de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação”.

Yehuda Leib Arie Altar (ADMOR de Gur), Sefat Emet [Lábio Veraz], Bamidbar [Números].

No fim do capítulo anterior  perguntamos,  “Se  tudo está certo, porque há tanto de errado com o mundo”?  E  “Se  a  lei  fundamental  da  vida pode ser conhecida por todos, como tão poucos a conhecem, especialmente agora que estamos em uma perda no que tange lidar com as múltiplas crises que engolem  a  sociedade humana?” Dissemos que para responder a essas questões, precisamos compreender como o conhecimento da lei se espalha e como os Judeus estão relacionados com sua divulgação.

Você pode recordar-se que na Introdução, estabelecemos que uma vez que Abraão  descobriu  que  uma  única  força  conduzia  o  mundo,  ele  se  apressou  a contar a seus conterrâneos sobre sua descoberta. Ele não apresentou condições prévias; ele desejava partilhar seu conhecimento recentemente achado com todos. Acontece que, nem seu rei, Nimrod, nem o povo estavam prontos para aceitar a noção de que a força governante da vida era uma força de doação e que sua meta na vida, como  dissemos no Capítulo 1, é de a revelar ao ser semelhante,   ou até igual a ela. Os Babilônios do tempo de Abraão estavam demasiado preocupados em construir sua torre e tentar deificar as leis da  Natureza.

Enquanto Abraão vagava pelo que agora é o Próximo    e Médio Oriente no seu caminho a Canaã, ele  reuniu  na  sua tenda, a princípio,  todos  aqueles  que  eram  capazes  de compreender suas noções, se comprometer à autotransformação do egoísmo à doação. Essas  pessoas mais tarde se tornaram a nação de Israel, nomenclada segundo o desejo de alcançar diretamente o Criador.

E todavia, os quatro níveis da vida – inanimado, vegetativo, animal e falante – são uma constante. Eles  devem ser atualizados na totalidade, e todos aqueles que fisicamente pertencem ao nível falante devem eventualmente alcançá -lo  espiritualmente,  também.  O fato de que nem todos os Babilônios estavam prontos para se comprometer, a mudar a si mesmos no tempo  de  Abraão, não muda nada em termos do propósito final para o qual a raça humana existe. Assim, aqueles que estavam prontos e dispostos a se comprometer, se tornaram os “guardiões” do conhecimento, confiados em manter e nutri-lo para a  posteridade.

No seu ensaio, “A Arvut (garantia mútua),” Baal HaSulam escreveu, “[O Criador disse] ‘Vós serei Meu Segulá [remédio/virtude] dentre todos os povos.’ Isto significa   que   vós   sereis   Meu   remédio,   e   centelhas  de purificação e limpeza do corpo passarão através de vós para todos os povos e nações do mundo. As nações do mundo ainda não estão prontas para isso, e preciso de pelo menos uma nação com que começar agora, pois ela será já como um remédio para todas as nações”. 94

Esta citação,  acompanhada  pelas  palavras  de Rabi  Altar, citadas no princípio deste  capítulo,  “Os  filhos  de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação,”  e  juntas com as citações abaixo neste capítulo, deixam poucas dúvidas sobre a visão dos líderes espirituais Judeus durante   as eras a respeito do papel pelo qual os Judeus existem no mundo.

Quando Moisés conduziu o povo de Israel para fora do Egito, ele pretendia primeiro e antes e acima de tudo lhes passar a lei que ele mesmo havia aprendido, a  lei  que  Abraão havia aprendido antes  dele.  Sua meta  era terminar, ou pelo menos avançar a missão que  Abraão  havia  começado gerações antes. Rav Moshe Chaim Luzzatto, o grande Ramchal, escreveu sobre isso, “Moisés desejou completar a correção do mundo nessa altura.  Foi por  isso que  ele  juntou  a  multidão  misturada  [pessoas  egocêntricas, sem desejos corrigidos], pois ele pensou que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções   que  ocorreram   no caminho.”95

Apesar das dificuldades, escreve Rabi Isaac Wildman, “Essa foi a oração e bênção de Moisés para a geração do deserto, que eles fossem o princípio da correção  do  mundo.”96

Todavia, o mundo não teve desejo de correção. As  nações  não estavam  prontas  para  abdicar  do amor-próprio e abraçar o altruísmo – dar – como sua principal qualidade. Então  no  entretanto,  a  nação  Israelita  continuou  a “polir” sua própria correção esperando que o resto das nações estivessem prontas e dispostas. Nas palavras de Ramchal, “Vós deveis saber … que a Criação como um todo não será completada até que o todo da nação escolhida seja ordenada na ordem certa, completada em todas as suas decorações, com a Shechiná [Divindade] aderida a ela. Consequentemente, o mundo  alcançará  o  estado completo. …Devemos chegar a um estado em onde a nação  é totalmente complementada em todas as necessárias condições, e o todo da Criação recebe sua completude, e então o mundo será estabelecido permanentemente no estado corrigido.”97

Segue-se que a nação Israelita serve como um  canal pelo qual a correção, nomeadamente a qualidade de doação, deve alcançar seus recipientes pretendidos: as nações do mundo. Em estilo eloquente, florido, o Rav Kook detalha como ele vê o papel dos Judeus a respeito do resto das nações. “Assim que a vocação de Israel, sendo a nação do Senhor, esteja presente, completa, aparente, duradoura e ativa no mundo, é um testemunho válido para o mundo para toda a posteridade complementar a forma da raça humana, a manter suas características, e a elevá-la pelos degraus da santidade adequados a ela … que o Senhor determinou. E uma vez que nossa própria vocação é permanecer sempre, acompanhando a vocação do todo da Natureza – cuja lei é completar todas as criações e as trazer ao ápice da perfeição – devemos guardá-la devotadamente pela vida de todos nós, que é mantida dentro dela, e pelo todo  da  humanidade  e  seu  desenvolvimento  moral,  cujo destino depende do destino da nossa existência.”98

Como demonstrado na Introdução a este livro, o Rav Kook vai até tão longe ao dizer, “O movimento genuíno da alma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente  pela sua força sagrada e eterna, que flui dentro de seu espírito. É aquilo que a fez, e a faz, e a fará permanecer  ainda uma nação que permanece como uma luz para as nações.”99

No seu livro, Ein Ayá [O Olho de Um Falcão], o Rav Kook acrescenta mais: “Dentro de Israel está uma santidade escondida de elevar o valor da própria vida através da Divindade que está presente em Israel. A alma nacional da Assembleia de Israel aspira pelo mais sublime e exaltado, agir na vida pelo valor mais exaltado e Divino, por esse mesmo valor que fará que nenhuma pessoa seja capaz de questionar, ‘Qual é o propósito desta tal vida’? Tendo visto  a glória e a sublimidade da sua agradabilidade e magnificência. Em absoluta completude será ela  completada dentro da casa de Israel, e a partir dela, ela brilhará para a terra e para o mundo inteiro, ‘para um convénio do povo, para uma luz das nações.’”100

Similarmente, Rabi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (conhecido como “O TATZIV de  Volojin”)  escreveu, “Isaías o profeta disse, ‘Eu vos tomarei pela mão e vos manterei; Eu vos darei um convénio para o povo, uma luz para as nações,’ ou seja, para corrigir o convênio, que é a fé, para cada nação. Eles jogarão fora a fé em ídolos e acreditarão em um Deus. Certamente, o convênio com Abraão nosso Pai foi assinado sobre essa questão.”101

 

MISTURAR E MESCLAR

E ainda assim, como é que a correção fluirá  para  as  nações? Se a nação de Israel se corrige a si mesma, como  isso afetará a qualquer das outras nações?

Quando Abraão primeiro descobriu o Criador, ele descreveu-o a quem quer que escutasse, e aqueles   que se juntavam a ele se tornavam as  primeiras  pessoas  corrigidas. Essas pessoas então foram para o Egito e finalmente emergiram dele em números muito maiores, uma nação inteira, essa nação recebeu a Lei da Correção, nomeadamente a Torá, e se corrigiu a si mesma. No Primeiro Templo, a nação Judaica alcançou seu mais alto nível de conexão com o Criador, como demonstrado no capítulo anterior. A partir daqui, a nação começou a declinar até que seu povo foi exilado para Babel. Quando regressaram à Terra de Israel, a maioria da nação Judaica escolheu   per manecer   na Diáspora  e se assimilar.

Certamente, é assim que a passagem da mensagem começou. Quando as pessoas que foram inicialmente corrigidas – que transcenderam o interesse pessoal e descobriram o Criador – se misturaram com aquelas que nunca tiveram tais pensamentos, aquelas ideias nobres começaram a se espalhar dentro da sociedade anfitriã e ajudaram a instigar pensamentos mais humanos  nas  mentes das pessoas. Enquanto esses pensamentos não corrigidos  derivados  das  mentes  que  haviam  transcendido o egoísmo, as noções de universalismo e humanismo independentemente se começaram  a  segurar às  mentes  das pessoas.

Certamente, durante o Renascimento, vários acadêmicos reconhecidos mantinham que os Gregos  haviam adoptado pelo menos alguns  dos  seus  conceitos  do Judeus, neste  caso  especificamente  da  Cabalá.  Johannes Reuchlin (1455-1522), por exemplo,  o  conselheiro político do Chanceler, escreveu em De Arte Cabalística (Sobre a Arte  da  Cabalá):  “Independentemente, sua proeminência  [de  Pitágoras]  não      derivou      dos      Gregos,      mas      novamente   dos Judeus. …Ele mesmo foi o primeiro a converter o nome Cabalá, desconhecido aos Gregos, no nome Grego filosofia.”102

Em 1918, um pastor Francês, Charles Wagner, foi citado como tendo escrito, “Nenhum dos nomes resplandecentes na história – Egito, Atenas, Roma – se consegue comparar à grandiosidade eterna de Jerusalém. Pois Israel deu à humanidade a categoria da santidade. Somente Israel conheceu a sede pela justiça social e essa santidade interior que é a fonte da justiça.”103

Mais recentemente, o historiador Cristão, Paul  Johnson, escreveu em Uma História dos Judeus: “O impacto Judaico na humanidade foi proteico. Na antiguidade eles foram os grandes inovadores na religião e moral. Na Idade das Trevas e a inicial Europa medieval eles foram ainda um povo avançado transmitindo escasso conhecimento e tecnologia. Gradualmente eles foram empurrados da vanguarda e caíram para trás; no fim do século dezoito eles foram  vistos  como  sujos   e   obscurantistas,   retaguarda na marcha da humanidade civilizada. Mas então veio uma segunda explosão surpreendente de  criatividade. Rompendo fora de seus guetos, eles uma vez mais transformaram o pensamento  humano,  desta  vez  na esfera secular.  Muita  mobília  mental  do  mundo  moderno é também de fabricação Judaica.”104

Similarmente, Em Os Presentes dos Judeus: Como uma Tribo de Nómadas do Deserto Mudou a Maneira Como Todos Pensam e Sentem, do autor Thomas Cahill, antigo diretor de  publicações  religiosas  na  Doubleday,  descreve  a contribuição dos Judeus para o  mundo,  que,  na  sua visão, começou durante o exílio na Babilônia. “Os Judeus originaram o tudo”, escreve ele, “e com ‘o’ pretendo dizer tantas  muitas  das  coisas  com  que  nos  preocupamos,   os valores subjacentes que perfazem todos nós, Judeu  e Gentio, crente e ateu, funcionam. Sem os Judeus, veríamos o mundo através de olhos diferentes, escutaríamos com ouvidos diferentes, até sentiríamos  sentimentos  diferentes… Pensaríamos com uma mente diferente, interpretaríamos todas as nossas experiências diferentemente, tiraríamos diferentes conclusões das coisas que caem sobre nós. E definiríamos um percurso diferente para nossas vidas.”105

Curiosamente, alguns líderes Judeus reconhecidos também escreveram sobre o espalhar (e estragar) da sabedoria Judaica depois da ruína do Primeiro Templo. Rabi Shmuel Bernstein de Sochatchov, por exemplo, escreveu, “Os Gregos tiveram a sabedoria da filosofia, que se originou dos escritos de Rei Salomão que vieram à sua posse depois da ruína do Primeiro Templo. Contudo, eles foram estragados por eles com subtrações, adições, e substituições até que visões falsas se misturaram com eles. E ainda assim, a própria sabedoria é boa, mas as partes do mau se misturaram com ela.”106

Baal HaSulam escreveu similarmente em “A Sabedoria da Cabalá e a Filosofia”: “Sábios da Cabalá observam a teologia filosófica e queixam-se de que roubaram a casca superior de sua sabedoria, que Platão e seus predecessores haviam adquirido enquanto estudando com os discípulos dos profetas em Israel. Eles roubaram elementos básicos da sabedoria de Israel e usaram uma capa que não lhes pertence.”107

O  LEGADO  DOS JUDEUS

Os Judeus que permaneceram na Babilônia  depois  da  ruína  do  Primeiro  Templo  desapareceram,  não  deixando rasto senão as noções que haviam transmitido aos seus anfitriões. Mais tarde, quando o Segundo Templo foi arruinado, o povo Judeu inteiro foi exilado e apresentou     ao mundo os dois princípios que se tornariam a base de todas as três predominantes,  apropriadamente denominadas religiões “Abrahamicas”: “Ama ao próximo como a ti mesmo”, e o “monoteísmo,” ou seja que há somente um Deus, uma força governadora no mundo. Estas noções são comparáveis ao sucesso da correção da humanidade porque quando entendidas corretamente, a anterior define o modo pelo qual alcançaremos a correção – através de amar os outros, e não parentescos, mas nossos próximos, ou seja estranhos. A última define a essência de nossa realização assim que estejamos corrigidos – a força singular da realidade.

Correspondentemente, o Professor T.R. Glover da Universidade de Cambridge escreveu em O Mundo Antigo, “É estranho que as religiões vivas do mundo sejam edificadas sobre ideias religiosas derivadas dos Judeus”.108 Similarmente, Herman Rauschning, Um Revolucionário Alemão Conservador  que  brevemente  se  juntou  aos  Nazis ant es de romper com eles, escreveu em A Besta do Abismo: “Judaísmo, independentemente … é um componente inalienável da nossa civilização Cristã Ocidental, o eterno ‘chamado a Sinai’ contra o qual a humanidade novamente se revolta”.109

O exílio do povo Judeu da Terra de Israel foi um longo processo pelo qual os Judeus, e desta forma os valores Judaicos, foram gradualmente  absorvidos  pelas  suas nações anfitriãs. Yosef Ben Matityahu, melhor conhecido como Flavio Josefo, o historiador Judaico – Romano, descreve a expulsão dos Judeus pelos Romanos no princípio do  exílio.  Em  As  Guerras  dos  Judeus,  Flavio  escreve,  “E como ele se recordou que a décima legião havia aberto caminho aos Judeus, sob Cestius seu general, ele  os expulsou de toda a Síria, pois eles se haviam rendido anteriormente em Rafania, e os mandou embora para um lugar chamado Meletina, perto de Eufrates, que é nos  limites da Arménia e Capadócia.”110

No Capítulo 3,  Flavio  elabora,  “Pois  enquanto  a nação Judaica está amplamente dispersa por toda a terra habitada entre seus habitantes, também está ela muito misturada com a Síria, pela razão de sua vizinhança e tiveram as grandes  multidões  em  Antioquia  p  ela  razão da maior cidade, onde os reis, depois de Antíoco, os acolheram numa habitação com a  maior  tranquilidade  sem  incómodos.”111

Hoje, narra o autor Yaakov (Jacó) Leschzinsky em A Dispersão Judaica, que os Judeus espalharam pelo mundo todo e num ritmo  surpreendente,  “Quando esquadrinhamos a Diáspora da Judiaria pelo globo inteiro   e pelo inteiro mundo civilizado,” escreve ele, “ficamos surpresos ao ver que esta nação, que é a mais antiga no mundo, é na verdade a mais  jovem  em  termos  da  terra sob seus pés e o céu sobre sua cabeça. Devido às intermináveis perseguições e expulsões forçadas, maioria dos Judeus são nada mais que recentes novatos às suas respectivas terras de residência. Noventa por cento das pessoas Judias não viveram nos seus lares mais que cinquenta a sessenta anos! (Os Judeus) estão dispersos em mais de 100 terras de todos os cinco continentes.”112

Curiosamente, sua mistura com outras nações é precisamente o que foi necessário para completar as correções  de  Moisés.  Embora   seja   verdade   que,   embora     Israel     sejam  separados  das  outras  nações,   os princípios mencionados anteriormente no coração do Judaísmo não puderam ser tingidos, é  também  verdade  que os Judeus tinham muito a ganhar do seu exílio entre as nações. É por isso que no Livro dos Salmos (106:35) nos conta que os Judeus foram exilados para “Se misturarem a  si mesmos com as nações e aprenderem de suas ações”.

 

ADAM – O PRIMEIRO HOMEM, A ALMA COLETIVA

O ARI explica que na verdade, somos todos partes de uma única alma, conhecida aos Cabalistas como Adam HaRishon (o primeiro homem), e à maioria de todos os outros como Adam.  O  exílio,  diz  o  ARI,  ocorreu  como  uma continuação do processo de correção. Em Shaar HaPsukim [Portão aos Versículos], ele escreveu, “Adam HaRishon [Adam] incluiu todas as almas e incluiu todos os mundos. Quando ele pecou, todas essas almas caíram dele para as  Klipót [cascas, formas de egoísmo], que se dividem  em  setenta nações. Israel deve se exilar lá, em toda e cada nação,    e reunir os lírios das almas sagradas que haviam se espalhado entre esses espinhos, como nossos sábios escreveram no Midrash Rabá, ‘Porque foram  Israel  exilados  entre  as  nações? Para acrescentar estranhos a si mesmos.’”113

Nesse respeito, O NATZIV de Volojin escreveu, “Seu princípio foi no Monte Ebal … mas eles completaram esta questão exaltada somente através do exílio e dispersão.”114

É por uma boa razão que o exílio é necessário para completar a correção dos Judeus, e daí em diante o mundo inteiro. Anteriormente dissemos que quando Abraão ofereceu o método de correção aos seus conterrâneos Babilônios,  eles  o  rejeitaram  porque  estavam  demasiado ocupados sendo egocêntricos e egoístas. E todavia, se todos somos partes de uma alma coletiva, como o ARI sublinhou, eventualmente todos nós teremos de alcançar  correção,  pela qual descobriremos o  Criador  e  nos  tornaremos como  Ele.  Este   é o benefício, como descrito no Capítulo  2, que Ele pretendeu dar à humanidade.

Assim, a correção de Abraão foi somente o princípio  do processo, certamente não o seu fim. Num ensaio longo    e elaborado intitulado, “E Eles Construíram Cidades- Armazém”, Baal HaSulam escreve, “Devemos também compreender o que Abraão o Patriarca perguntou, ‘Onde saberei eu que o herdarei’’ (Génesis 15:8)? O  que  respondeu o Criador? Está escrito, ‘E  Ele  disse  para Abraão: Sabei com uma certeza que tua semente será estranha numa terra que não lhe pertence’”.115 Baal HaSulam explica que com esta  resposta,  o  Criador  promete a Abraão que todas as pessoas alcançaram  correção através da mistura da nação corrigida – Israel –  com as nações não corrigidas – neste caso  representadas pelo Egito.

Surpreendentemente, em resposta a esta questão, o Criador promete a Abraão exílio. E não somente isso, escreve Baal HaSulam, que Abraão “…o aceitou como uma garantia da herança da terra”.116  Certamente,  Abraão  sabia que a mistura dos desejos – representada pelas diferentes nações do mundo – era necessária em prol de completar a correção da humanidade. Considerando que cada uma das nações representa uma parte da alma a ser apresentada ao método da correção e que essa parte  da  alma eventualmente o adote. Foi por isso que Israel teve de ser exilada e se espalhar pelo mundo.

Como parte da expansão do processo de correção na humanidade, Abraão foi para o exílio no Egito, onde sua tribo havia se tornado uma nação. E quando a nação se exilou depois da ruína do  Primeiro  e  Segundo  Templos, ela apresentou o método de correção ao mundo inteiro.

Embora o método claramente não  tivesse  sido  adotado pelo resto da  humanidade,  ele  independentemente                                                      plantou       os     princípios      já mencionados, princípios que formam uma base comum sobre a qual iniciar o processo de correção assim que as pessoas o comecem a  procurar.

Em “A Arvut [Garantia Mútua], “Baal HaSulam  detalha o processo pelo qual a nação Israelita corrige a si mesma primeiro, de modo a transmitirem a correção ao resto das nações. Por outras palavras, “Rabi Elazar, filho de Rashbi (Rabi Shimon Bar-Yochai), clarifica  este  conceito da Arvut ainda mais. Não é suficiente para ele que todos     de Israel sejam responsáveis uns pelos outros, mas que o mundo inteiro está incluído nessa Arvut.

…Cada um admite que para começar, é suficiente começar  com  uma  n ação  com  a observação   da   Torá [lei  da  doação}  para  o  princípio  da   correção   do mundo. Foi impossível começar com todas as nações de uma vez, como eles dizem que o Criador foi com a Torá a cada nação e língua, e eles não a quiseram receber. Por outras palavras,  eles  estavam  imersos  em  …  amor  próprio … até que foi impossível conceber nesses dias  sequer questionar se eles concordavam se retirar do amor próprio.

“…Mas o fim da correção do mundo será somente ao trazer todas as pessoas do mundo sob Sua obra, como está escrito, ‘E o Senhor será Rei sobre toda a terra; nesse dia  será o Senhor Um, e Seu nome um’ (Zacarias, 14:9) … ‘E todas as nações fluirão para ele’ (Isaías,  2:2).

“Mas o papel de Israel para o resto do mundo se assemelha ao papel de nossos Sagrados Pais para a nação Israelita. Tal como a retidão de nossos pais nos ajudou a desenvolver e purificar para nos tornarmos  dignos  de receber a Torá [lei da doação] … cabe à nação Israelita se qualificar a si mesma e a todas as pessoas do mundo através de Torá e Mitzvot [correções do egoísmo], para se desenvolverem até que eles tomem sobre si mesmos esse trabalho sublime do amor aos outros, que é a escada para o propósito da Criação, sendo Dvekút [similaridade/ equivalência  de forma] com Ele”.117

Similarmente, no seu ensaio, “Uma Criada que É Herdeira a Sua Senhora”,  Baal  HaSulam  escreve,  “O  povo de Israel, que foi escolhido como  um  operador   do  propósito geral e correção  …  contém  a  preparação necessária para crescer e se desenvolver até que  ele movimente as nações dos  mundos,  também,  para alcançarem a meta  comum.”118

Baal HaSulam e seu filho, o Rabash podem ter sido os últimos Cabalistas a afirmar que o papel  de  Israel  no  mundo  é  trazer  o  método  de  correção  ao  resto  das nações, mas certamente  não  foram  os  primeiros. Incontáveis rabinos, Cabalistas e acadêmicos, desde praticamente a ruína do Segundo Templo, o afirmaram em semelhança.

Assim, o Midrash Rabá afirma que “Israel trazem a luz  ao mundo”, 119 e o Talmude Babilônico acrescentou, “O Criador agiu em retidão para Israel, os tendo dispersado  entre as nações”.120 Rabi Yehuda Altar, o ADMOR de Gur escreveu,  “Qualquer   exílio  no qual  os filhos  de Israel  entre é somente para suscitar centelhas  sagradas  dentro  das  nações    [semelhante    às   palavras    acima    citadas de   Baal HaSulam]. Os filhos de Israel são os garantidores de que receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também.”121

Similarmente, Rabi Hillel Tzaitlin escreve, “Se Israel é   a verdadeira redentora do mundo inteiro, ela deve  ser  digna dessa redenção. Israel deve primeiro redimir sua própria alma, a santidade da sua alma, a santidade da sua Shechiná [Divindade].

…Para esse propósito, desejo estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ … Se fundada, a unificação de indivíduos será pelo propósito de ascensão interior e uma invocação para correções de todos os males da nação e do mundo.”122 Gostaria de concluir este capítulo com mais algumas palavras de Baal HaSulam, que em alguns parágrafos detalha o propósito da Criação, o direito da humanidade a ele, e o papel de Israel para alcança-lo. Nas suas palavras: “Porque foi a Torá dada à nação Israelita sem a participação de todas as nações do mundo? Na verdade, o propósito da Criação aplica-se à raça humana inteira, nenhu m excluído. Contudo, devido À baixeza da natureza da Criação [sendo egoísta] e  seu  poder  sobre as pessoas, foi      impossível          que        as           pessoas           compreendessem, determinassem e concordassem se elevar acima dela. Eles não demonstraram o desejo de abdicar do amor próprio e chegar a equivalência de forma, que é adesão com Seus atributos,   como   nossos   sábios   disseram,   ‘Como   Ele  é misericordioso, tu sê misericordioso  também’.

“Assim, devido a seu mérito ancestral [os exemplos dados por Abraão, Isaac e Jacó], Israel tiveram sucesso … e se tornaram qualificados e se sentenciaram a si mesmos a uma escala de mérito [se corrigiram a si mesmos a se tornarem como o Criador]. Todo e  cada  membro  da  nação   concordou   amar   seu   semelhante   [que   é   como eles  alcançaram  a  correção].

“…Contudo, a nação Israelita era para ser  uma  ‘transição’ ou seja que à extensão que Israel purificam a si mesmos ao manter a Torá [leis da doação], eles passam seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações também se sentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se corrigirem a si mesmas ao abdicar do egoísmo], o  Messias [correção final] será revelado. É por  isso  que  o  papel do Messias não é de qualificar somente Israel à meta derradeira de adesão com Ele, mas ensinar os caminhos de Deus [doação] a todas as nações, como está escrito, ‘E todas  as nações  fluirão  para Ele.’”123

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