Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

RECONHECENDO A SI MESMO

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

Temos de permitir que qualquer pessoa se veja de absolutamente todos os ângulos, para sair de si mesma, para se avaliar objetivamente e concordar com o fato de que pode estar em formas completamente diferentes. Uma tem de aprender a aceitar todas as pessoas: ontem ele agiu daquela maneira e hoje ele está diferente. É muito importante internalizar que a percepção do mundo depende de mim, do meu humor, do nível de meu desenvolvimento e que ele pode mudar completamente. Uma vez que eu esteja autorizado, os outros estão autorizados também. Tudo isso, porém, requer um estudo muito sério.
Incidentalmente, a percepção das crianças é mais maleável que a dos adultos. Nós devemos simplesmente incutir nelas uma suavidade, um ponto de vista “flutuante” acerca das coisas e então elas usarão isso corretamente. Tudo depende de suas visões acerca de si mesmas, do mundo e de outras percepções que podemos incutir nelas.
– Voltando à questão dos testes, quando lidamos com os resultados dos testes, há um problema de confidencialidade. Nós dizemos que, em um pequeno grupo de crianças, nada deve ser ocultado. Os resultados dos testes devem ser colocados à mesa para uma discussão aberta?
– Eu não penso que a questão deva ser colocada à mesa dessa forma. Se nós abordarmos o problema integralmente, então todas as crianças em todas as escolas do mundo gastariam muitas horas de trabalho em autoanálise, discussão interna e autorrealização. “Autorrealização” é a melhor palavra, porque, a partir de si mesmo, você percebe o mundo, discerne quem você é e, assim, como você vê o mundo. Em tal estado não há a questão sobre se devemos revelar esses testes ou não.
Não são testes, mas somente uma discussão. Eles podem ser mostrados completa e livremente em qualquer lugar, até mesmo na TV. O que há para esconder? É assim que as crianças agem e é assim que elas pensam.
Eu penso que, hoje em dia, a maioria dos programas de que os adultos gostam é sobre eles mesmos. Eles são chamados “reality shows”. As pessoas sentam num estúdio e conversam sobre todos os tipos de problemas.
Eu não acho que a análise deva ser transformada em alguma coisa secreta. Por que fazer isso? O que poderia haver de secreto nisso? De fato, o que poderia ser secreto sobre uma pessoa em geral? Os psicólogos não entendem isso?
Uma pessoa tem necessidades animais e sociais dentro dela, e elas não deveriam ser ocultadas. Ao contrário, elas deveriam ser reveladas e discutidas. Uma pessoa tem de entender quão produtivas essas necessidades podem ser para ela em relação aos outros e a si mesmas. Então ela pode se avaliar corretamente e ficar confortável consigo mesma.
Em vez de ocultar as coisas, tudo deveria ser exposto para qualquer um aprender com isso. Não é uma discussão sobre alguém, mas um processo geral de aprendizado em que cada pessoa irá se tornar seu próprio terapeuta, e assim nós não teremos de ver o terapeuta depois.
– Que não ajuda ninguém de qualquer forma, mas…
Nós estamos falando sobre a noção dos processos do grupo. E se de repente, porém, acontecesse algo a alguém e o educador pegasse uma criança à parte e começasse individualmente a descobrir o que aconteceu a ela, e tivesse uma conversa “face-a-face” com ela? Isso também é algo que não pertence a esse sistema?
– Absolutamente não! Tudo tem de ser trazido para fora da esfera de individualidade da criança, ou mesmo ser específico para o grupo. Tudo deveria ser tratado como um fenômeno. Talvez isso nem devesse ser tratado ou endereçado no mesmo dia. A abordagem, entretanto, deveria depender do nível de preparação do grupo e do seu próprio nível de percepção, da habilidade das crianças de perceberem a si mesmas de diferentes formas e entenderem que “tudo isso que está acontecendo reflete quem nós somos”.
– Há duas abordagens conceituais: uma abordagem é agir de acordo com o cenário que foi planejado anteriormente, e outra é agir de acordo com a forma como o processo se desdobra. Por exemplo, a segunda abordagem ocorre quando alguma coisa acabou de acontecer a uma criança e nós discutimos precisamente o que é relevante agora mesmo. Essa é a melhor forma de agir ou ir de acordo com um cenário que foi planejado anteriormente?
Incidentalmente, a pedagogia e a psicologia discordam radicalmente sobre isso. A psicologia prefere o processo “Se uma pessoa está passando por isso agora mesmo, então é sobre isso que falaremos”. E os pedagogos dizem: “Não, tudo é planejado. Vamos estudar conforme o plano”. Qual é o modo certo de conciliar esse processo?
– Eu penso que todas as situações deveriam ser filmadas. Hoje temos câmeras por toda parte — nas cidades, nas ruas e nos parques. Nós também deveríamos colocá-las por toda parte, em todos os espaços aonde as crianças vão, incluindo escolas e parquinhos escolares.
Nós temos de tentar escolher seus relacionamentos e comportamentos, ou deixar as crianças sugerirem um tópico para discussão, tal como “Eu tenho certo relacionamento com uma pessoa ou outra. Eu penso dessa forma e outros pensam diferentemente, eles não concordam comigo. Vamos conversar sobre isso”.
Cada criança deveria ser solicitada a brincar em papéis diferentes, a estar no papel direito, no esquerdo e no neutro, “Eu estou certo” e depois “Eu estou errado”, significando que eu me “transformo” em outra pessoa e de lá eu me observo e debato ou a condeno. Ou eu sou uma “pessoa neutra”, como o júri em uma corte.
Eu penso que essas discussões são o fator mais importante para a formação de uma pessoa, porque isso lhe permite se desenvolver a partir de seu interior. As discussões expandem a compreensão acerca de si mesma. Ela aprende que “Eu posso ser de uma forma e o mundo pode ser completamente diferente, dependendo de como eu olho para ele, e outras pessoas são assim também”. Tudo se torna multifacetado, fluido e relativo. E é assim que o mundo realmente é.
– Podemos falar mais especificamente sobre isso? Por exemplo, suponha que nós tenhamos uma reunião em que planejamos discutir alguns fenômenos do mundo, mas uma das crianças chega à reunião com o olho roxo. O que nós fazemos? Nós continuamos a reunião conforme o planejado, falando sobre borboletas, ou nos reportamos ao hematoma e falamos sobre isso?
– Nós deveríamos discutir juntos e imediatamente o que aconteceu com a criança? Não sabemos, porém, até que ponto ela está apta a sair de seu estado e a razão disso. Talvez a situação deva ser tratada de forma diferente? Nós não damos nenhuma atenção ao seu hematoma e temos uma atitude “e daí?” sobre isso. Quer dizer que nós a aceitamos do modo como ela é: “Isso é problema seu. Cuide disso sozinho. Para nós você é uma pessoal normal. No momento estamos falando sobre borboletas. Você pode falar normalmente depois de ter tido uma briga, ou você fica completamente arrasado e agitado?”.
Desse modo ainda não prestaremos atenção ao que está acontecendo com ela, mas a partir de um lado oposto. Aqui tudo depende do educador, não posso lhe dar qualquer fórmula. Isso, porém, tem de ser olhado do ponto de vista da pedagogia: até que ponto isso pode influenciar a análise de si mesmo e do mundo? Talvez ela deva nos falar primeiramente de borboletas e depois da briga que teve na rua? Ou talvez ao contrário: para tirá-la de seus pensamentos, os quais distraem o grupo e a impedem de se juntar a ele, nós deveríamos dar a ela algum tipo de tarefa ou papel especial e fazer dela um herói, ao invés de manipulá-la até um estado completamente diferente. Ou,
usando o exemplo dela, podemos mostrar como esse incidente nos distraiu a todos do nosso tópico. Quer dizer, ela praticamente atrapalhou todos os nossos planos. Um educador deveria ver tudo isso e decidir.

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