Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Quando os Robôs Tomam Nossos Trabalhos

Há algo mais humilhante que ser degradado ao nível de um robô e ser intimidado por ser incapaz de se comportar como um?

No 21 de Dezembro, o Prof. Victor Tan Chen publicou uma análise fascinante do desempregado na América no The Atlantic. O Prof. Tan Chen salientou correctamente que a crise que impulsionou Donald Trump para a vitória é uma crise de sentido na vida, ou como ele o colocou: “A principal fonte de sentido na vida americana é uma competição meritocrática que faz com que aqueles que lutam se sintam inferiores.” A vitória de Trump deriva, em larga parte, precisamente desse sentido de inferioridade. Não devemos subestimar a importância do processo que vemos, este é o começo de uma revolução social inevitável e irreversível. Quanto mais rápido entendermos e respondermos adequadamente às suas forças condutoras, mais suave e mais rápida será a transição. Relutância em fazer isso vai criar o caos nos EUA e no resto do mundo.

Foto: Dreamstime, Licença: N/A2017-01-05

Quando os Robôs Tomam Nossos Trabalhos Foto: Dreamstime

Mudança Acontece

Em variados modos, a história da humanidade é uma expressão da evolução dos desejos humanos. Nas cavernas, não éramos fundamentalmente diferentes de uma matilha de lobos. Desenhámos nas paredes das cavernas e provavelmente fizemos rituais, mas em essência, tudo o que queríamos era nos sustentarmos e a nossos clãs.

Todavia, as sementes da civilização já estavam presentes. A arte primitiva e rituais indicavam que os humanos estavam destinados a ser mais que uma outra espécie na cadeia alimentar. Nossos desejos e aspirações não só diferem daqueles dos animais, mas continuaram a evoluir com a história.

Quanto mais nossos desejos cresciam, mais eles nos conectavam, principalmente ao nos explorarmos uns aos outros. Quando nos tornámos sedentários e começámos a viver em aldeias e cidades, também criámos estruturas sociais e classes sociais.

Inicialmente nos explorámos através de várias formas de escravidão. Quando a escravatura se tornou menos lucrativa que a cobrança de impostos, a humanidade mudou para o feudalismo. Mais tarde, quando a produção em massa promoveu a Revolução Industrial, começou o capitalismo.

No final do século 20, o capitalismo encarnou a forma mais dissimulada e má de exploração até então: Neo-Liberalismo. Esta forma de exploração manipulou-nos para trabalharmos mais horas que nossos antepassados escravos, enquanto nos convencendo que somos livres, quando de facto nós somos explorados por um grupo muito pequeno de indivíduos poderosos que mantêm a fachada da liberdade e da democracia. O Prof. Tan Chen detalhou como este grupo de elite atende aos seus interesses “através dos lobis, credenciamento, licenciamento,” enquanto negando “aos trabalhadores comuns a mesma capacidade de assim fazer.”

Com os anos, os desejos humanos ficaram tão intensos que nos tornámos egoístas até ao núcleo. Hoje, a maioria das pessoas não consegue sustentar até as formas mais fundamentais de relacionamentos, com nossos filhos e esposos.

Pior ainda, diz Tan Chen, “Como muitos argumentaram, avanços na inteligência artificial ameaçam uma perda bruta de desemprego (até para os licenciados) num futuro não muito longínquo.” Sem a unidade social mais básica, a família e uma fonte confiável de vencimento, precisamos de “uma revisão mais ampla de uma cultura que faz com que aqueles que lutam se sintam perdedores,” conclui.

Certamente, como disse no começo desta coluna, estamos no meio de uma revolução social irreversível e inevitável. Agora devemos determinar se ela se vai revelar agradável e calmamente, ou dolorosa e violentamente, como as revoluções habitualmente ocorrem.

Injectar Sanidade na Humanidade

Em prol de mudar a sociedade do seu presente modus operandi insustentável e explorador, para um paradigma mais sustentável, não precisamos de olhar além da nossa própria história – a história do povo Judeu.

No Midrash Rába, Maimónides e muitas outras fontes nos dizem que Abraão o Patriarca descobriu por que as pessoas se prejudicavam umas às outras deliberadamente, enquanto outros elementos da natureza sustentam-se uns aos outros harmoniosamente. Abraão descobriu que a natureza humana é basicamente desprovida de bondade, ou como diz o livro do Génesis (8:21): “A inclinação no coração do homem é má desde sua juventude.” Levou quase 40 séculos, mas agora sabemos que ele estava certo.

Todavia, Abraão também descobriu o único remédio da força negativa egoísta na nossa sociedade. Ele descobriu que a natureza mantém o equilíbrio através de uma força contrária, uma força positiva de amor e união, que está ausente na humanidade. Portanto, Abraão procurou instar esta força contrária dentro da sociedade. É por isso que o traço que melhor descreve Abraão é misericórdia. De cidade em cidade de aldeia em aldeia, Abraão e sua esposa, deambularam no seu caminho para Canaã e ensinaram que o amor pelos outros e gentileza são o remédio para os males da natureza humana.

Porém, enquanto o ego humano se desenvolveu durante as gerações, o ensinamento Abrahámico se tornou insuficiente. Os descendentes de Abraão pegaram nas bases do seu ensinamento e o adoptaram aos seus tempos. Portanto, o método para instar o amor e união entre as pessoas evoluiu.

Finalmente, um cuidado método de educação foi concebido. Quando os antigos hebreus o adoptaram e implementaram sobre eles mesmos, o método os fundiu numa nação. Seu lema, “Ama teu próximo como a ti mesmo,” era a meta derradeira de sua educação e o apogeu da evolução humana. Alcançar tal amor significaria que você equilibrou completamente a força negativa do egoísmo com a força positiva do amor pelos outros. Foi por isso que ele estabeleceu nossa pátria somente após termos prometido ser “como um homem com um coração.”

O povo de Israel experimentou períodos de separação e ódio e períodos de conexão e amor. Contudo, tudo isto fez parte de nosso desenvolvimento, nós precisávamos de um ego crescente como incentivo para aumentar nosso amor recíproco. Foi por isso que Rei Salomão escreveu (Provérbios 10:12), “Ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes.” Os primeiros judeus descobriram uma verdade profunda: O ego é nossa força impulsionadora de desenvolvimento, mas ele vai matar-nos se não o cobrirmos com amor.

Apesar de nosso método de educação, há dois mil anos atrás, ficámos tão egoístas que não conseguimos cobrir nosso egoísmo com amor e nos tornámos como o resto do mundo, egoístas até ao núcleo. Tudo o que nos restou foi senão uma memória de nossa união enterrada fundo dentro de nós e do lema do amor pelos outros legado às nações. O cristianismo interpretou este lema como “Aquilo que desejares que os homens te façam, isso também lhes farás” (Mateus 7:12). Maomé escreveu similarmente: “Nenhum de vós verdadeiramente acredita até que desejar para o seu irmão aquilo que ele deseja para si mesmo” (Os Quarenta Hadiths de Nawawi).

Todavia, legámos somente as palavras, sem um movo de o implementar, o método de educação que ajudou nossos antepassados a se unirem acima de seus egos. Como resultado, este belo lema se tornou um slogan vazio que ninguém acredita que seja possível. Agora, antes que o ego empurre nosso mundo para o fundo abismo, devemos injectar esta força positiva que Abraão havia nutrido de novo na nossa nação e no nosso mundo, para nos salvar de nós mesmos. Agora devemos reanimar a educação que em tempos induziu nossa união.

Aprender a Unir

Em prol de sermos capazes de repensar nossos valores, primeiro devemos estabilizar a sociedade.

Como antes escrevi e como muitos outros já repararam, o primeiro passo para isso é a revolução do mercado de trabalho, ou mais especificamente, a aniquilação dos empregos. Nos anos vindouros, máquinas autónomas vão substituir milhões de pessoas. Estas pessoas vão ter cada vez mais dificuldade em achar novos empregos pois o inteiro mercado de trabalho vai atravessar essa mudança. Os robôs estão a substituir empregos de produção bem como empregos de serviços tais como bancários, ajuda judicial e até supermercados. Este processo vai deixar os governos sem escolha senão fornecer às pessoas certo tipo de rendimento básico. Alguns países já estão a experimentar com isto e é provável que vejamos muitos mais programas desta espécie a serem lançados, à medida que mais e mais pessoas se tornam permanentemente desempregadas.

Um dos nossos maiores problemas no mercado de trabalho em diminuição é que o nosso emprego define quem nós somos. Como o Prof. Tan Chen o colocou na análise que referimos anteriormente: “Quando outras fontes de sentido são difíceis de alcançar, aqueles que lutam na economia moderna podem perder sua sensação de auto-estima.” Quando muitos milhões de pessoas se sentem inúteis e desesperadas, a violência em escala massiva é inevitável. Até um mau emprego é melhor que nenhum emprego de todo, ou como o escritor de economia Derek Thomson o exprimiu: “O paradoxo do trabalho é que muitas pessoas odeiam seus empregos, mas elas sentem-se consideravelmente mais miseráveis se não fizerem nada.”

Sucede-se que fornecer o rendimento básico aos desempregados é apenas metade da cura. A outra metade é fornecer um envolvimento com sentido de propósito que substitua o emprego como fonte de auto-estima. É aqui que a educação dos antigos hebreus para a conexão entra em jogo. Quando os laços sociais das pessoas têm significado e são positivos, elas sentem que valem a pena e felizes. Se as pessoas aprendem a se conectar umas com as outras, elas não precisarão sequer de um emprego chato para sustentar sua auto-estima, elas vão derivá-la das suas conexões com outras pessoas.

De facto, quando o consideramos, se uma máquina consegue fazer aquilo que eu consigo fazer, então sou tão bom como a máquina. Há algo mais humilhante para um ser humano que ser degradado ao nível de um robô e ser intimidado e humilhado por não ser capaz de se comportar como um? Uma coisa que devemos fazer e que as máquinas nunca serão capazes de fazer, é nos conectarmos entre nós e fornecermos uns aos outros felicidade, verdadeira felicidade, aquela que deriva do amor e da amizade.

No presente, nossa inteira estrutura para nos avariarmos está deformada. Se uma mulher conseguir casar com um robô que ela imprimiu numa impressora 3D sozinha e argumenta que não há nada de estranho nisso, então precisamos severamente de nos ensinarmos novamente do que significa verdadeira conexão.

Foto: N/A, Licença: N/A2017-01-05

Judeus e Árabes num círculo de conexão em Eilat, Israel, verão de 2014.

No Círculo

Está escrito no livro Likutey Halachot (Regras Sortidas), “A essência da vitalidade, existência e correcção na criação é alcançada por pessoas de opiniões divergentes se misturarem juntas em amor, união e paz.” Como foi dito acima, se usarmos o ego correctamente, ele se tornará um trampolim que nos vai levantar para novas alturas. Quando procurarmos nos unir acima de nossas diferenças, colocamos a força positiva que descobriu Abraão em movimento. Esta força nos conecta e nos permite experimentar o poder da verdadeira conexão humana.

Enquanto este ego é a chave para nosso sucesso, também transcendê-lo é. Pelo mundo, meus estudantes conduzem aquilo que chamaram os “círculos de conexão.” Nestes círculos, estranhos, pessoas de fundos diferentes e pessoas que estão envolvidas em conflitos activos, aprendem a cuidar umas das outras de maneiras que nunca pensaram serem possíveis. A ideia do círculo é usada para indicar que todos são iguais. Quando isto assim é, ninguém domina ou impõe sua opinião e todos escutam todos os outros. A meta do círculo é procurar conectar, não ter sucesso, mas simplesmente procurar a conexão.

Porque os egos dos participantes interrompem suas tentativas, seus esforços de se elevarem acima deles evocam a força positiva, que então cria calor e afinidade aparentemente do nada, como no link acima é demonstrado e como nesse clipe e neste (o último é falado em Hebraico, certifique-se que tem a opção de legendas activa).

Os membros do Movimento Arvut (Garantia Mútua) implementaram círculos de conexão e outros métodos de conexão acima do ego em numerosos lugares e circunstâncias. O principal meio nesta forma de educação são os exercícios de conexão. Dois elementos são necessários para a educação bem sucedida para a conexão: ego (do qual temos bastante) e um desejo de o transcender.

O Mishná (Maséchet Avot) nos diz: “Faz o teu desejo como o desejo dele para que ele faça do seu desejo como o teu.” Esta é a derradeira expressão de conexão, quando nos preocupamos tanto pela outra pessoa que aquilo que essa pessoa quer se torna mais importante para nós que nosso próprio desejo. Pense numa mãe que atende ao seu bebé. Se nos esforçarmos em agir deste modo de uns para os outros reciprocamente, vamos atrair tanta força positiva que ela vai transformar nossa sociedade desde o núcleo.

A Profissão Humana

Envolvimento neste tipo de conexão vai garantir nosso futuro. Primeiro, porque este é o único envolvimento que as máquinas nunca serão capazes de fazer. Segundo, ele coloca nossos valores enquanto seres humanos nas nossas conexões em vez de nas nossas ocupações ou posses.

Pessoas que se envolvem em conexão não se envolvem em corrupção. Como resultado deste envolvimento, as tensões sociais vão diminuir e a violência, depressão e abuso de drogas se tornarão obsoletas pois não haverá frustração para exprimir ou para suprimir.

Adicionalmente, a humanidade precisará de muitos “conectores profissionais.” Considerando o facto de que um círculo é composto de aproximadamente dez pessoas e um anfitrião, muitas pessoas estarão envolvidas como instrutores nesta nova educação. Uma vez que o rendimento básico será fornecido a todos, as pessoas serão julgadas pela sua contribuição para a sociedade em vez de pela sua riqueza. Como resultado, os instrutores dos círculos de conexão desfrutarão de elevado estatuto social, tornando do novo “emprego” uma posição desejada.

Certamente, a mudança ocorre. A humanidade alcançou sua fase final de evolução, a convergência dos desejos numa entidade unificada. Quanto mais cedo nos começarmos a conectar, melhor nos sentiremos. O continuo declínio social e desemprego inevitável apontam para a conclusão que devemos repensar nossos valores neste mundo e reaprender o que significa ser um ser humano, não um robô que opera uma máquina. Estou convencido que ousarmos dar o primeiro passo para nos educarmos na conexão do jeito que nossos antepassados fizeram, ficaremos gratos por o termos feito

Publicado originalmente no Haaretz

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