Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Nos foi dada a Torá, mas será que a recebemos?

Enquanto fomos capazes de manter até uma lasca de fraternidade, fomos capazes de manter nossa nacionalidade. E assim que sucumbimos ao Helenismo, nos tornámos Helenistas.

Calendário judaico 2016. (crédito:DIMA DOROSHEVICH)

Este sábado à noite será a noite de Shavuot, a Festa das Semanas. Para os observantes entre nós, o ponto alto da noite será o estudar a Torá toda a noite, ou no meu caso, o estudo da Cabala. No dia seguinte vamos satisfazer-nos com panquecas e cheesecake e isso vai resumir muito bem o feriado.

Mas é disto que se trata realmente Shavuot? É óptimo saber Como Fazer as Melhores Panquecas, mas se considerarmos isto o vértice da celebração do feriado então estamos a perder o verdadeiro significado da dádiva da Torá e como ela nos pode ajudar aqui e agora.

A Torá — a Lei da Unidade

A Torá foi dada no pé do Monte Sinai, da palavra, sinaa [ódio]. Porém, ela foi dada somente após nossos antepassados e antepassadas terem transcendido seu ódio, se unirem e se encontrarem no pé da montanha “como um homem com um coração.” Esse evento foi o nascimento da nossa nação.

Desde então, nos dizem nossos sábios, que estamos obrigados e receber a Torá todo e cada dia usando exactamente o mesmo método de transcender nossos egos. O Rei Salomão formulou este princípio exacta e sucintamente quando escreveu (Provérbios 10:12), “Ódio incita discórdia, mas o amor cobre todos os pecados.”

Há uma boa razão pela qual a união, especificamente sobre os conflitos, é tanto a chave para o nosso povo. Todos nascemos egoístas, interesseiros até ao núcleo. E se nos esquecermos, a Torá nos recorda que “a inclinação no coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21). Mas é somente o coração do homem que é mau. O resto da natureza é conduzida suave e pacificamente em harmonia equilibrada.

Em toda a história, somente Abraão havia achado um modo de equilibrar nosso egoísmo com gentileza e misericórdia. Seus descendentes desenvolveram seu legado num método adequado para as massas e aqueles que o implementaram entre eles se tornaram “o povo de Israel.” Enquanto o resto do mundo permaneceu no modo da “sobrevivência do mais forte”, os antigos Hebreus construíram uma sociedade que era justa, moral, misericordiosa e onde cada membro prosperava ao contribuir para o bem comum. A Torá que receberam no pé do Monte Sinaa foi o poder de superar o ego através da união e construir uma sociedade equilibrada, onde a inclinação do mal não reina.

De Altruístas para Narcicistas

Até este dia, a antiga sociedade dos Hebreus serve como modelo de justiça e humanismo. Até o devoto antisemita, Henry Ford, salientou isto quando quis denunciar a conduta dos Judeus contemporâneos. Na sua infame composição, O Judeu Internacional — O Principal Problema do Mundo, ele compartilhou observações muito surpreendentes sobre os Judeus. Numa delas, afirmou Ford, “Os reformadores modernos, que estão a construir sistemas sociais modelo no papel, fariam bem em olhar para o sistema social debaixo do qual os primeiros Judeus se organizaram.”

Mas assim que nos rendemos ao ódio infundado, também rendemos a terra de Israel para as nações que exaltavam os valores que agora nós havíamos adoptado. Gradualmente, o verdadeiro sentido da Torá havia por completo sido esquecido e ela tornou-se aquilo que a maioria de nós a consideramos: um livro e um conjunto de certos e errados. Pnimiut hatorá [a interioridade da Torá], seu poder de nos elevar acima do ódio e nos unir e deste modo criar uma sociedade robusta, desapareceu virtualmente do nosso povo. Ficámos absorvidos no hedonismo, narcisismo e pior de tudo, na separação uns dos outros. A Torá pode nos ter sido dada, mas nós nos esquecemos de como a receber e para que serve ela!

Sem Luz para as Nações

As nações, que assumiram o controle da nossa terra, também assumiram o controle sobre nossos corações. Em vez de aspirarmos ser “uma luz para as nações,” um farol de esperança contra o egoísmo, adoptamos os valores dos Romanos e deixámos o egocentrismo e o individualismo dominar. Pensavamos que através da democracia e liberalismo seríamos capazes de conter o ego humano, mas a crescente injustiça e desigualdade nas nossas sociedades indicam que precisamos de um remédio mais potente que um novo presidente ou primeiro ministro.

O mundo nos culpa pelos seus males não por estarmos a fazer algo mau intencionalmente. Ele culpa-nos pois não estamos a fazer aquilo que deveríamos, que é reinstalar o método da união acima do egoísmo.

É verdade cada dois Judeus têm três opiniões, mas também é verdade que a diversidade fortalece em vez de enfraquecer, desde que todos contribuam sua perspectiva pessoal para o bem comum. Nossos antepassados valorizavam a união tanto que a tornaram o princípio nuclear do Judaísmo. “Ama teu próximo como a ti mesmo” se tornou a toda inclusiva lei do nosso povo e enquanto fomos capazes de manter sequer uma lasca dela, fomos capazes de manter nossa nacionalidade. E assim que sucumbimos ao Helenismo, nos tornámos Helenistas.

Como tal, o mundo não nos acha úteis. Ele só precisa de nós se soubermos o que significa realmente receber a Torá e nos conduzirmos de acordo com isso. Somente se pegarmos na nossa discórdia egoísta e nos elevarmos acima dela, não a suprimindo, mas elevando-nos acima de nossas diferenças as usando como alavanca para união ainda mais forte, somente então vamos merecer o titulo,  “o povo de Israel” e o mundo saberá por que estamos aqui.

Até que o façamos, o mundo vai continuar a nos culpar por toda a guerra e luta pois sem um método de conexão, o resultado inevitável é a guerra. Quando o Professor de estudos do Corão, Imad Hamato, afirma, “Até quando os peixes lutam no mar, os Judeus estão por trás disso,” isso não é meramente propaganda. Quando um Mel Gibson alcoolizado joga sobre um polícia, “Os Judeus são responsáveis por todas as guerras no mundo,” ele realmente quer dizer isso. Não devemos conceder a nós mesmos e pensarmos que os Antissemitas são pessoas incultas. Algumas das pessoas mais educadas da história eram independentemente Antissemitas fervorosos que acreditavam que estamos em falta por tudo aquilo que há de errado no mundo.

Receber a Torá

Para realmente celebrar o feriado de Shavuot não devemos celebrar somente a doação da Torá. Devemos abraçar sua mais interna mensagem de unidade e nos elevarmos acima de nossas diferenças. Somente então nossa Torá será como seu nome indica — luz, a luz da união.

Todos precisam de união. Mas somente nós, se assim escolhermos, a podemos instar entre nós em prol de a transmitir. Em Shavuot, os lacticínios que comemos simbolizam misericórdia. Se nutrirmos esta qualidade entre nós e reinstalarmos nosso princípio do amor pelos nossos próximos como a nós mesmos de modo a compartilhá-lo com o mundo, nos será concedido o favor das nações pois elas vão beneficiar do nosso trabalho.

Pensemos sobre estas mensagens enquanto nos reunimos este Shavuot e que possamos celebrar o próximo Shavuot como uma nação unida.

Publicado originalmente no The Jerusalem Post

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