Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Excedente E Melhoria no Bem-Estar Público

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

A economia de responsabilidade mútua irá expor muitos excedentes, que permitirão financiar a mudança a nossa frente

Pontos Chave

  • Superindustrialização, superprodução, e excesso de consumo têm tornado a nossa economia moderna ineficiente. Muitos recursos são explorados não para o bem- estar das pessoas, mas para manter o sistema existente.
  • O sistema econômico atual está esgotando os recursos naturais necessários para a nossa existência, embora não haja escassez real deles. A exploração inconsequente dos recursos naturais contradiz a atitude de responsabilidade mútua (onde todos são garantidores do bem-estar um do outro), compete-nos viver nossa vida em um mundo global integral.
  • A transição para uma economia equilibrada e funcional irá expor muitos excedentes financeiros, materiais e sociais, que serão direcionados para benefício público, como resultado da transformação em nossos relacionamentos e da adoção de responsabilidade mútua como um tratado global socioeconômico.
  • Ao tomarmos consciência do princípio da responsabilidade mútua na sociedade e na economia, vamos descobrir que as necessidades da sociedade mundial podem ser satisfeitas, enquanto permitimos que a Terra reponha seus recursos e exista em tranquilidade e harmonia com a humanidade e a natureza.

Um elemento-chave na teoria econômica atual é a falta. Entre outras áreas de pesquisa, os economistas estudam o uso de recursos finitos que podem ser substituídos por outros. A falta não significa ausência completa ou quase completa. Significa que o mundo como ele está hoje, não pode satisfazer plenamente os desejos de todos e cada um de seus habitantes, porque os recursos disponíveis são limitados, sejam eles metais, alimentos, ou petróleo.

Assim, todos os recursos podem assumir o estado de carência. Um dos papéis da economia é enviar esses recursos para lugares e mercados em que são os mais eficientes e com maior demanda. Em outras palavras, têm de ser atribuídos e distribuídos de forma eficiente.

Por exemplo, o leite pode ser vendido como leite ou utilizado para produzir o iogurte ou sorvete. A questão econômica aqui é, “Qual dos possíveis produtos irá produzir o maior benefício?” Esta “função de benefício”, juntamente com a propriedade de falta potencial, cria conflito e  competição que viola a harmonia entre as pessoas e as remove da conexão de reciprocidade, cuidado e colaboração. Isso prejudica a necessária mutualidade entre nós no mundo global e conectado em que vivemos.

A economia revela as relações entre nós, ainda que também as afete como fica evidente na carência e na função do lucro egoísta que cria a rivalidade, as coligações, as tensões e os  conflitos. Porque estamos em uma crise econômica global que decorre da nossa incongruência com o mundo conectado no qual a humanidade está envolvida, é hora de adaptar nossas relações com a interdependência para que possamos construir uma nova economia. A variável, dependente da função do novo objectivo, é “maximizar” o bem-estar da sociedade humana e alcançar  o padrão de vida ideal para todos.

 

Não Há Falta de Energia na Nova Economia Equilibrada

A industrialização, a urbanização e a nossa moderna sociedade orientada para o consumidor tornou o consumo em uma cultura e em um modo de vida. Juntando com o crescimento da população, que cruzou o limiar de sete bilhões, a humanidade está se dirigindo para a beira de um impasse. Este impasse se manifesta em esgotamento dos recursos naturais essenciais, como água potável e petróleo.

O geofísico americano, Marion King Hubbert, estabeleceu em 1956 a Teoria do Pico do Petróleo. A teoria explica as mudanças na disponibilidade de petróleo e outros combustíveis fósseis em função do excesso de bombeamento e o consequente esgotamento do recurso. Segundo a teoria, uma vez que o petróleo não é um recurso renovável, é provável supor que, em algum momento, a produção mundial de petróleo atingirá o pico e depois diminuirá gradualmente. Hubbert previu o pico de produção de petróleo nos EUA, o que ocorreu em 1971.

A teoria de Hubbert está em constante debate entre os acadêmicos devido às vastas ramificações econômicas e sociais do esgotamento do petróleo, já que o crescimento depende da abundância  de energia barata e acessível. Quando a disponibilidade deste recurso energético declinar, o crescimento global será afetado. Esta afirmação se aplica aos indivíduos, bem como às empresas. A  passagem  do   pico   da  produção   mundial  irá   se manifestar  em  uma   escassez  global  de combustível fundamentalmente diferente das carências que vieram antes dele. Desta vez, a sua base será geológica em vez de política, uma vez que as crises anteriores ocorreram devido à deliberada ineficiência do processo de extração do óleo.77

Atualmente, os países desenvolvidos estão negociando cotas de emissão de CO2. Dito de outra forma, os países estão negociando seu “direito” de poluir o ar. A poluição do ar está custando aos contribuintes fortemente, e o comércio de cotas de poluição do ar é mais uma prova de que o sistema econômico está fora de controle. Em vez de pensar em termos da existência humana, harmoniosa entre as pessoas e entre a humanidade e a natureza, onde nós nos esforçamos para prevenir ou corrigir os danos que causamos ao planeta que nos sustenta, cada país está se esforçando para maximizar seus próprios benefícios e interesses estreitos.

Por exemplo, o Protocolo de Kyoto se esforçou para estabelecer colaborações e estabelecer padrões internacionais para evitar a deterioração contínua do estado da Terra. Em vez disso, o protocolo se tornou uma ferramenta nas mãos de potências industrializadas para encobrir suas ambições. Eles começaram a negociar quotas de poluição a fim de continuar a corrida de produção. A solução ecológica parece contradizer a solução econômica, e os interesses econômicos e a visão de curto alcance continua a prevalecer, apesar do dano ao bem público e ao futuro da humanidade.

Adaptar a conexão entre as pessoas ao que é exigido pela interdependência entre nós, no mundo global e conectado resultará na luta por congruência e harmonia com a natureza, demonstrando- nos que o equilíbrio é a maneira ideal de vida.

A tendência humana de se concentrar em acumular fortunas, o excessivo consumo e a competição está esgotando os recursos não renováveis da Terra. Nossa desconsideração ao nosso planeta está em contraste com a interdependência que o mundo global integral requer de nós. Se eu poluir  meu habitat, o resto de nós vai sofrer as conseqüências. Poluição e desconsideração estão destruindo totalmente nossa sociedade.

Por meio da superprodução, impedimos a regeneração dos recursos. Se mudarmos para o consumo equilibrado, baseado em relações que estão em sincronia com as relações necessárias em um mundo globalizado e interconectado, nós não só iremos parar de rejudicar a ecologia e, indiretamente, a sociedade humana, mas também iremos permitir que a Terra se recupere e regenere os seus recursos.

A regeneração das florestas, a preservação de espécies vegetais e animais em extinção, e a recuperação da população de peixes nos oceanos são apenas alguns exemplos dos benefícios que advirão. Uma vez que a crise de energia está exaurindo os recursos disponíveis para nós, resolvendo-a através da mudança da abordagem das pessoas irá diminuir a escassez de recursos naturais. Isso ocorrerá porque a demanda vai diminuir devido à transição para uma economia equilibrada e porque a oferta vai crescer devido aos processos naturais de regeneração da Terra.  O resultado será um bem-vindo aumento dos recursos para nosso uso e nosso bem-estar.

O que vamos ganhar com o aumento constante do desemprego, e como?

A nova economia equilibrada – resultado da responsabilidade mútua entre as pessoas, entre elas e o Estado, e entre todos os países – vai expor grandes superávits e reservas, reduzir a ineficiência no mercado de trabalho, e evitar os tipos de prejuízo financeiro causado pelo sistema atual. Além disso, o previsto dramático aumento do número de desempregados no mundo vai acelerar  e  apoiar o processo de adequação das inter-relações entre as pessoas para o mundo global e interligado.

A transição para sair do consumo excessivo e da indústria competitiva, agressiva, e inchada, que produz muito além do que a humanidade necessita, significa que as indústrias e os serviços irão encolher. A corrida atual exige tanto esforço, financiamento e atenção de toda a cadeia de produção e consumo que o retorno a uma economia sã será saudado como um suspiro de alívio.

Pois o custo de salários médios, que o estado vai economizar através do desemprego, será possível financiar bolsas de estudo para aqueles ejetados do mercado de trabalho, bem como financiar o quadro educacional de emergência a ser estabelecido para os destinatários das bolsas de estudo. O objetivo do sistema educacional de emergência será para equipar os desempregados com conhecimento prático em finanças pessoais e habilidades para a vida, e apoiar a sua integração num mundo em mudança que será baseado na responsabilidade mútua

A contração da produção durante o retorno à economia funcional não irá prejudicar a capacidade do mercado para prover todas as necessidades de subsistência dos seus cidadãos. Em uma economia equilibrada, não há necessidade de emprego de 90%, ou mesmo 50%! Se apenas 20% da força de trabalho estivesse empregada na agricultura, indústria e serviços necessários, seria suficiente para satisfazer as necessidades de toda a sociedade humana. Naturalmente, a rotação entre os trabalhadores e os desempregados pode ser aplicada, dependendo dos acordos que serão feitos em uma sociedade que segue as leis da responsabilidade mútua.

Assim, a mudança de mão não é uma fase transitória. Pelo contrário, é uma mudança estrutural na economia global. Na responsabilidade mútua, a simbiose entre as pessoas é completa, e quem optar por continuar a trabalhar será apreciado por sua contribuição para o bem-estar coletivo, e pelo fato de que seu trabalho permite que a humanidade continue a evoluir, que existe harmonia entre as pessoas e entre a humanidade e a natureza.

A necessidade de empregar vastas populações criou uma quantidade colossal de empregos redundantes, desemprego desfarçado e inchaço dos mecanismos e da burocracia, especialmente  no superinflado setor público. Um bom exemplo de tal processo falho é a Grécia, onde o setor público é exagerado e o país está à beira da insolvência. Uma das principais exigências do Fundo Monetário Internacional (FMI) à Grécia é cortar substancialmente o tamanho de seu setor público. Mas a Grécia é apenas um exemplo, embora um tanto quanto extremado, de um processo semelhante que está ocorrendo em todo o mundo.

Em nosso estado atual de desemprego desfarçado e ineficiência, os salários altos inflam as despesas do setor público, o que dificulta a capacidade do Estado para atender seus cidadãos. De uma perspectiva puramente econômica, uma pessoa que está atuando em um trabalho que não é benéfico à sociedade faz mais bem quando ele não está trabalhando, mesmo quando ele recebe seguro desemprego.

O previsto crescimento do desemprego não irá prejudicar a economia ou os que perderam os seus empregos se o plano de emergência for ativado e as pessoas receberem uma bolsa de  subsistência, desde que se junte ao projeto educacional e social que lhes proporciona habilidades básicas de vida. Na atual realidade complicada, eles aprenderão a se adaptar às mudanças imposta a nós pelo mundo global integral e a se integrar em uma sociedade que vive de acordo com o princípio da responsabilidade mútua. Os gastos não realizados, em comparação com o emprego anual de um trabalhador, será bastante o suficiente para permitir o pagamento de bolsas de estudo para essa pessoa e para uma pessoa adicional para prover suas necessidades básicas. Ao mesmo tempo, vai ensinar-lhes habilidades de vida e conhecimento sobre o mundo globalizado e conectado, e sobre a responsabilidade mútua.

Por exemplo, a remuneração média anual na Inglaterra é de £ 28.000 libras esterlinas (cerca de 44.000 dólares dos EUA). No entanto, um desempregado de 25 anos ou mais recebe apenas £ 3.370 (aproximadamente US $ 5.300) em seguro desemprego, ajustada a renda anual. Mesmo considerando que a diferença é menor em países com maior orientação ao bem-estar, o cálculo é bastante claro. Se o seguro desemprego for elevado a cerca de £ 13.000 (US $ 20.000, aproximadamente a renda média de fundo de hoje em quinto lugar no Reino Unido), e considerando as reduções acima descritos de preços, que terá lugar na economia de responsabilidade mútua, o Estado será capaz de pagar bolsas de estudo para duas pessoas para participar do quadro educacional e adaptar as suas finanças pessoais para a vida no novo mundo.

É importante notar que a contribuição do governo para o Produto Interno Bruto (PIB) é o seu valor acrescido, ou seja, a soma dos pagamentos que o governo realiza (ou renda que vem do governo).

O desemprego mundial vai aumentar. Isto não pode ser resolvido com as ferramentas tradicionais da economia. O “The American Jobs Act” do presidente Obama, o qual focou o mercado de trabalho dos EUA e custa 450 bilhões de dólares em incentivos fiscais, foi destinado a impulsionar o estagnado mercado de trabalho americano. Agora, este Ato reúne três programas anteriores de estímulo de diferentes tipos, que começaram em 2008. E como os programas anteriores falharam este plano é provável que falhe também, uma vez que foi gerado a partir da mesma velha caixa de ferramentas. A interdependência no mundo globalmente interligado que aparece diante de nós nesta crise exige diferentes relações entre nós e, portanto, uma nova abordagem para soluções de problemas econômicos.

Devido que todas as indústrias no mundo conectado em que vivemos dependem uma da outra, o desemprego vai crescer exponencialmente. O declínio na renda necessariamente induzirá ao declínio no consumo, e uma transição natural irá ocorrer segundon a qual as indústrias serão proporcionais às necessidades do povo.

O desemprego é um resultado natural da transição para o consumo proporcional e a restauração da “sanidade” da indústria. Esse processo irá interromper a exploração de recursos não  renováveis da terra e com o tempo vai aumentar os recursos disponíveis para uso da humanidade. O atual sistema econômico inflacionado é dispendioso e causa prejuizos sociais e ambientais, demandando enormes orçamentos para consertar o estrago. Este é um ciclo vicioso cujos efeitos maléficos sobre a humanidade são imensos. A transição para uma economia equilibrada irá economizar a maior parte desses fundos, que podem ser direcionados para o benefício do público.

O setor financeiro, também, está fora de proporção e é a principal razão da eclosão da crise global de 2008, a partir da qual a crise atual é uma evolução natural. A busca de lucros rápidos tornou-se completamente desenfreada, fazendo com que as instituições financeiras e bancárias inflassem através da imprudente alavancagem. Ao fazer isso, os bancos de financiamento imobiliários e empresas de investimento criaram uma bolha nos empréstimos, que explodiu com um estrondo, incendiando a crise financeira global. Os prejuízos da especulação e as consequentes bolhas financeiras em todo o mundo somam trilhões de dólares. O efeito da perda desses trilhões foi sentida por cada um de nós, mesmo quem não tinha conhecimento de que estava sendo afetado.

A interdependência e as conexões estreitas entre o setor financeiro e a economia real causou a crise nos mercados de ações para deflagrar a recessão global. Para ter sucesso no mundo globalizado e conectado, devemos assinar um tratado econômico e um tratado social, uma responsabilidade mútua que não permitirá que tais crises ocorreram, porque vai ficar claro para todos que somos interdependentes. Se prejudicarmos os outros, estaremos prejudicando a nós mesmos.

 

Uma Oportunidade Econômica

É impossível parar o processo de desdobramento natural da economia global. O aumento do desemprego, acompanhado por um declínio no consumo, continuará até que estejam estabilizados em um nível razoável. Muitos países -especialmente os Estados Unidos, onde 70% do PIB vem do consumo privado – estão confrontados com um impasse, porque eles não têm as ferramentas para lidar com a nova situação.

Como o desemprego se espalha, o consumo vai diminuir, o PIB vai diminuir, a economia vai entrar em recessão e o desemprego vai subir ainda mais. No entanto, não devemos ver esse processo como uma crise. Pelo contrário, é uma oportunidade para mudarmos os paradigmas, os quais são baseados na competição, no individualismo, e nos benefícios egocêntricos que nos levaram a nossa situação atual. Nós temos uma oportunidade de criar uma nova economia equilibrada, que vai trazer a todos nós um padrão de vida muito mais elevado do que temos atualmente.

O principal objetivo do novo sistema, a economia equilibrada, deve ser estabelecer um padrão justo e razoável de vida para todos os cidadãos. O financiamento não virá de  orçamentos inchados e frágeis, que podem comprometer a estabilidade do sistema, mas sim, a partir do excedente que será revelado na sociedade através das transformações discutidas acima. Isso ocorrerá sem a necessidade de usar as antigas ferramentas econômicas, fiscais, monetárias e que se provaram inadequadas para lidar com a crise atual.

Em vez disso, para lidar com a crise, devemos começar por compreender sua raiz. Devemos oferecer um amplo processo de explicação, educação e construção de uma sociedade fundada em valores de responsabilidade mútua e solidariedade. Devemos chegar a sentir que o mundo é uma única família. Através da educação e da influência do ambiente sobre nós, o sistema atual irá se transformar em um sistema cujo objetivo é suprir as necessidades razoáveis para sustentar indivíduos, famílias e empresas. Qualquer coisa para além disto será usada para benefício público.

O processo de responsabilidade mútua pressupõe a reciprocidade. Em uma sociedade que funciona em responsabilidade mútua, cada pessoa sabe que se ele ou ela está em necessidades, esta carência será satisfeita. Tal pessoa não terá de cuidar de si mesmo e estará livre para criar e produzir para o benefício de todos.

As pessoas vão ser apreciadas pela sociedade de acordo com suas contribuições a ela, mais  do que por suas fortunas pessoais ou posições. Esta mudança de mentalidade causará o aparecimento de grandes excedentes, que estavam escondidos em tempos em que as pessoas se importavam apenas com seu próprio benefício, assumindo que ninguém se importaria com eles se eles precisassem de ajuda. Em uma economia baseada em responsabilidade mútua, não  há necessidade de economizar para um dia chuvoso. Como parte do tratado sócio-econômico, será o papel da sociedade, cuidar de todas as pessoas através acordos tributários.

 

Responsabilidade mútua – Um Patrimônio Inestimável

Além das vantagens da redução de gastos de energia e da transformação do mercado de trabalho, existem vários benefícios e excedentes que irão surgir em uma economia de responsabilidade mútua.

Habitação: Com as execuções judiciais de hipotecas em ascensão, queda dos preços, e as hipotecas de risco, a habitação tem sido um problema em vários países, particularmente nos  EUA. Enquanto milhões de pessoas foram despejadas, milhões de casas permanecem vazias sem compradores à vista. Em uma sociedade que segue o princípio da responsabilidade mútua, as pessoas e os bancos irão emprestar casas ao custo de despesas gerais em consideração aos outros, e porque tal ato irá recompensá-los com grande aclamação social. Em uma sociedade de responsabilidade mútua, aqueles que possuem terras e não precisam dela para viver, usará a terra para aumentar a oferta de habitação e fornecimento de alojamento a preços acessíveis.

Excesso de consumo: As pessoas consomem muito além do que elas precisam para manter um padrão de vida razoável. Se considerarmos os produtos que temos e que não usamos, ou aquele que, simplesmente substituimos porque um modelo mais moderno foi lançado, veremos que, redistribuindo-os, podemos suprir as necessidades de toda a população, sem produzir sequer um único produto novo. Em outras palavras, a maioria dos produtos não está realmente em falta, mas, ao contrário, há a distribuição desigual devido à nossa competitividade e a nossa postura egocêntrica. Quando estabelecermos conexões recíprocas de responsabilidade mútua, descobriremos que não há falta de nenhum produto, mas sim abundância e excedente.

Preço dos alimentos e do custo de vida: De acordo com um relatório da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO), “Cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo para consumo humano, a cada ano – aproximadamente 1,3 bilhões de toneladas   –   é   perdida   ou   desperdiçada.”   78   Esses   dados   terríveis,   combinados   com o conhecimento de que quase 1 bilhão de pessoas no mundo estão subnutridas,79 formam um paradoxo social irreconciliável. Qualquer pessoa sensata verá que a criação de um sistema para preservar e distribuir adequadamente o alimento em excesso resolverá o problema da fome – e as consequentes doenças – sem qualquer reforma que seja.

 

Outro paradoxo é o preço dos alimentos. Muitos países são afetados pela inflação alta, o que prejudica primeiramente àqueles com rendimentos mais baixos. Em uma sociedade que segue o princípio da responsabilidade mútua, tal problema seria resolvido imediatamente. Quando nos damos conta de que a humanidade é de fato uma única família, não iremos querer jogar fora qualquer alimento sabendo que há membros da nossa família que vão para a cama  com fome todas as noites.

O setor empresarial: O processo educacional que irá ajustar os sistemas atuais para aquele de interdependência fará com que o setor empresarial adote um sistema de lucros diferente. Em vez de lutar para maximizar o lucro em detrimento do consumidor e minimizar os custos de produção à custa dos empregados, o novo paradigma vai se esforçar para cobrir todos os custos de produção, e para direcionar os lucros para benefício público. As empresas não serão avaliadas pelo desempenho de suas ações, mas por sua contribuição para a sociedade.

Este processo vai baixar o preço dos alimentos e dos produtos básicos e permitirá que as pessoas desfrutem de um padrão de vida razoável. O aumento do custo de vida nos últimos 20 anos aumentou a desigualdade social e tem levado centenas de milhões de pessoas à beira da pobreza ou além.80

Divisão eqüitativa da renda sem a intervenção do governo: Já existe evidência de que, para além de certo nível razoável de renda, a felicidade não aumenta com o aumento de ganho.81 Educar as pessoas sobre a solidariedade social, a responsabilidade mútua e condicionar a apreciação do ambiente social em atividades pró-social, irá criar entre aqueles que ganham acima do que é necessário para o seu sustento o desejo de contribuir com uma parcela de sua renda para o bem público. Isto irá permitir que as pessoas com rendimentos mais baixos desfrutem de um padrão de vida sustentável. A satisfação que eles receberem da gratidão da sociedade vai aumentar o nível de felicidade entre os doadores muito mais do que a satisfação fugaz que comprar outro equipamento, para depois de ser jogado fora como inútil quando  a  próxima geração de equipamentos chegar, alguns meses depois.

A mudança do coração entre os magnatas e a solução da questão da centralização do poder:

1% da população  mundial controla 40% da riqueza global.82 Tal situação apresenta  complicadas questões econômicas e sociais, promovendo o ressentimento e um sentimento de injustiça na população em geral. A mudança do coração entre os poucos que controlam uma parcela tão grande da riqueza do mundo – assim que a sociedade aprender a viver pelos princípios da responsabilidade mútua – irá trazê-los a abandonar a maior parte de sua riqueza em troca de elogios social e estabilidade financeira duradoura. Ao mesmo tempo, os recursos liberados irá garantir o bem-estar dos 99% restantes, desarmar a bomba-relógio social de desigualdade econômica e reforçar a coesão social.

Ao invés de controlar as fortunas do mundo, o mundo dos super-ricos desfrutará da apreciação constante do público. Naturalmente, eles vão manter fundos suficientes para garantir o  seu próprio bem-estar, mas, além disto, eles serão valorizados por sua contribuição ao público e para o meio ambiente, em vez do número de jatos particulares que possuem. Se eles são educados no princípio da responsabilidade mútua, eles vão doar os fundos voluntariamente.

Excedentes nos orçamentos estaduais: Atualmente, os departamentos governamentais lutam  uns contra os outros, lembrando o nosso próprio comportamento contra os nossos concidadãos. Cada departamento – atuando como uma entidade separada – luta para impulsionar o seu próprio orçamento. Estudos sobre políticas públicas, em especial a teoria “Public Choice”, argumentam que  um  burocrata  se  esforça  para  aumentar  o  orçamento  de  seu  departamento  para  ganhar

prestígio,  dinheiro  e status.83  O resultado,  no  entanto,  é a distribuição  ineficiente de recursos.

Quando todos os escritórios do governo se sentir como parte de uma única família, muitos excedentes no orçamento virão à tona e o setor público será gerido com muito mais eficiência, em benefício do público.

Um futuro seguro: Como explicado acima, as novas normas e valores implantados na sociedade irão mudar a percepção de lucro de máximo ganho pessoal para máximo benefício social. Esta mudança irá expor grandes excedentes que já estão disponíveis, mas estão ocultos. Nós seremos capazes de oferecer um padrão de vida razoável para cada família.

Quando consideramos a imensa influência do meio ambiente sobre a pessoa, entendemos que a alteração descrita acima é realista e necessária. As normas e comportamentos projetados pela sociedade irão alterar nossa conduta econômica e ajustá-la ao sistema global integral. Nós, naturalmente, nos esforçamos para concordar com o nosso ambiente social, para receber a sua apreciação. Por esta razão, uma mudança na percepção da sociedade vai mudar o comportamento dos indivíduos e das sociedades, e nos permitirá adaptarmos nossos sistemas econômicos e sociais para uma nova realidade – aquele que é bom para todos.

 

77 Kenneth S. Deffeyes, “Hubbert’s Peak: The Impending World Oil Shortage,” Princeton University Press (2002), http://www.trincoll.edu/~silverma/reviews_commentary/hubberts_peak.html

78 “Cutting food waste to feed the world: Over a billion tonnes squandered each year,” Food and Agriculture Organization of the United Nations (May 11, 2011), http://www.fao.org/news/story/en/item/74192/icode/

79 “Global hunger declining, but still unacceptably high,” Food and Agriculture Organization of the United Nations, Economic and Social Development Department (September 2010), www.fao.org/docrep/012/al390e/al390e00.pdf  80 “Poverty Reduction and Equity,” The World Bank,

http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/TOPICS/EXTPOVERTY/0,,contentMDK:23003429~pagePK:148 956~piPK:216618~theSitePK:336992,00.html

81 Kahneman, D.; Krueger, A.; Schkade, D.; Schwarz, N.; Stone, A. (2006). “Would you be happier if you were richer? A focusing illusion”. Science 312 (5782): 1908-10.

82 James Randerson, “World’s richest 1% own 40% of all wealth, UN report discovers,” The Guardian (December 6, 2006), http://www.guardian.co.uk/money/2006/dec/06/business.internationalnews,

Joseph Stiglitz (abridged/edited by Henry Makow), “1% Controls 40% of US Wealth,” henrymakow.com (April 10, 2011), http://www.henrymakow.com/stiglitz.html,

Rachel Ehrenberg, “Financial world dominated by a few deep pockets,” Science News (September 24, 2011), http://www.sciencenews.org/view/generic/id/333389/title/Financial_world_dominated_by_a_few_deep_pockets

83 Niskanen, W. A. (1987). “Bureaucracy” In Charles K. Rowley, ed. Democracy and Public Choice. Oxford: Basil Blackwell.

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