Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

COMO ADQUIRIR O PODER DE DOAÇÃO A PARTIR DO AMBIENTE

Do livro “Conectados Pela Lei da Natureza”

Até agora, temos evoluído através do poder de recepção. Aquela força tem nos impelido adiante e desenvolvido em nós um desejo de receber para nós mesmos, adquirir, compreender, conhecer, dominar e também invejar as outras pessoas, quer dizer, querer para nós o que pertence às outras pessoas.

Temos adquirido conhecimento acerca do mundo, aprendido a nos integrar a ele, e agora somos plenamente competentes em relação a tudo deste mundo e o dominamos. Entretanto, agora devemos equilibrar nossa força de recepção com a outra força que existe na Natureza, a força de doação. Estar constantemente sob o domínio da força de recepção, a força nociva e prejudicial, cria um desequilíbrio na Natureza, no ambiente, no homem e na sociedade humana.

Por esta razão, devemos adquirir o poder de doação, o poder de dar e participar. A força de doação pode ser transformada no mais potente poder do amor. O homem só pode desenvolver este poder através da livre escolha, preparando um ambiente que lhe proporcionará constantemente um exemplo, por meio do qual ele mudará. O conhecimento da força de doação e seus benefícios irá nos ajudar a compreender nossas vidas e a realidade em general muito além do conhecimento atual.

Se considerarmos nosso desenvolvimento desde o nascimento, veremos que inicialmente nos desenvolvemos através da aquisição de conhecimento sobre o mundo através dos nossos pais, ou de pessoas que nos cercam durante a infância. À medida que crescemos, aprendemos a partir dos exemplos dados por nossos educadores sobre como lidar com a vida. Quando nos tornamos adultos e prontos para a vida, continuamos a obter conhecimento e a adquirir habilidades para gerenciar o mundo através de nossos ambientes, e através dos eventos e situações que experimentamos. Ou seja, agimos com o poder, conhecimento e preparação provenientes de nossa infância e criancice, e como adultos temos nossos filhos, os quais educamos e preparamos para a vida.

É assim que nos desenvolvemos. De forma clara, sem conhecer o mundo, não seremos capazes de sobreviver nele. Quanto mais conhecermos e pudermos usar nosso conhecimento na vida, mais iremos nos desenvolver e alcançar sucesso. Nosso êxito depende de quanto conhecimento iremos adquirir acerca do mundo. É por isso que tentamos passar para nossos filhos as valiosas informações que obtemos, a fim de lhes transmitir a capacidade para perseverar.

Depois de um desenvolvimento de milhares de anos, e especialmente, nos últimos cinquenta ou sessenta anos, estamos começando a ver o fim do nosso desenvolvimento egoísta. Vemos que é impossível avançar com o desejo de receber, adquirir, obter abundância para nós mesmos, enquanto permanecemos sem consideração às outras pessoas e à Natureza. Desejos adicionais estão surgindo diante de nós: queremos compreender mais, sentir mais, desejamos “penetrar” nosso mundo. Nossos poderes não são suficientes. Eles estão arruinando a nós mesmos e ao ambiente, bem como destruindo a totalidade da Natureza em nossa volta.

É por essa razão que nossa percepção do outro poder que carecemos, o poder de dar, está agora despertando. Na realidade, este é o poder que está verdadeiramente “movendo” o mundo. É o grande poder da “Mãe Natureza”, a partir do qual a evolução é proveniente, porque tudo acontece por meio do poder de dar, da força de doação. Como nossos pais em relação aos seus filhos, a Natureza atende a todos nós. Contudo, nós desfrutamos dela porque recebemos tudo dela, mas, não somos, de forma alguma, como ela.

Se considerarmos a essência de nossas vidas, o processo pelo qual estamos submetidos durante nossa evolução, e o propósito que devemos alcançar, veremos que todo desenvolvimento na Natureza possui seu propósito. Se desejarmos conhecer o propósito, precisamos conhecer a Natureza melhor, estudar e compreender as forças que atuam nela, e então podemos entender o que está nos acontecendo, e contemplar como evoluir para uma vida realmente adequada e pacífica.

Se começarmos a pensar dessa forma, iremos ver que toda a Natureza opera por meio de duas forças: uma força de dar e uma força de receber. A força de dar é a força de doação, consideração, conexão, e em última instância, o poder geral do amor.

O poder do amor inclui todas as forças positivas em todos os graus da Natureza— inanimado, vegetativo, animal e falante. Estas são as forças que dão a vida, boa influência, e nos impele para adiante nos conectando e nos sustentando. Especificamente, nos desenvolvemos através dessas duas forças.

Se examinarmos nosso corpo, ou qualquer outra coisa no universo, veremos que ele é governado por forças. Por meio da conexão daquelas duas forças, desde o início do universo, elas começaram a criar uma forma que não é de fato nenhuma daquelas forças. Essa é a forma pela qual a matéria foi formada. As forças de doação e recepção começaram a se desenvolver juntas, criando as partículas negativas e positivas, os elétrons e os prótons, os quais apesar de opostos, juntos criaram o átomo. Os átomos se conectaram em blocos maiores, formando cristais, que são formas de matéria na Natureza inanimada.

Subsequentemente, a Natureza inanimada recebeu forças conflitantes, positiva e negativa, dar e receber, de tal maneira que elas começaram a se fundir mutuamente cada vez mais para se conectarem. As forças negativas desejaram receber das forças positivas, e as forças positivas doaram para elas. Por conseguinte, através de um tipo de complementação mútua, a célula viva foi formada. Aquela célula se tornou uma força recebedora em si, e de por si mesma, recebendo ou absorvendo substâncias e energia a partir do ambiente.

Em outras palavras, novamente, vemos as duas forças agindo em conjunto de forma constante. Foi dessa forma que a vida se desenvolveu, através da combinação daquelas forças, as quais estão em uma dinâmica contínua entre si. Quando a dinâmica entre elas se tornou ainda mais complexa, essas forças criaram a matéria viva. Na matéria animal e viva existem informações muito precisas que são passadas através da hereditariedade de geração para geração.

Aquela combinação de forças também ocorre no vegetativo e no inanimado, embora neles, nos seja mais difícil perceber tal fato. Nos animais, vemos como um organismo vivo é formado a partir da energia que existe na célula embrionária. A célula absorve os materiais a partir do meio externo, e através da absorção, emissão e combinação daqueles materiais de acordo com blocos de informações, nos quais há dados conflitantes entre as duas forças, o corpo vivo é criado.

Nas Naturezas inanimada, vegetativa e animal, tudo se desenvolve através da combinação das duas forças. Podemos perceber na Natureza, o desenvolvimento gradual e instintivo de acordo com um plano predeterminado inerente a cada ser. Os seres se desenvolvem de acordo com as leis que estão em seu interior, e de acordo com o ambiente. À medida que o ambiente muda, a evolução dos seres também muda. Em última análise, primariamente no nível humano, vemos que a força de doação, suporte e suprimento da Natureza está mais encoberta, mais profunda,

enquanto a força de recepção é a força que a Natureza desenvolve, e está mais perceptível e evidente.

Quanto mais um ser recebe, mais ele cresce. Nos níveis inanimado, vegetativo e animal, a recepção segue um programa interno, e é similar ao nível humano. O homem, que está se desenvolvendo por centenas de milhares de anos, segue o mesmo processo evolutivo dos animais. No entanto, se examinarmos o estado em que estamos hoje, parece que nossa evolução como a dos animais chegou ao fim, e estamos mudando em direção a um modo diferente.

Esgotamos completamente a força de receber que existe em nosso interior. Chegamos a um estado, através do qual não podemos nos desenvolver mais, e agora precisamos realmente da força de doação presente na Naturezaque está surgindo agora por parte da doação geral, por parte da ação, e mesmo por parte do amor.

Dando prosseguimento ao nosso estudo da Natureza, estamos descobrindo que a Natureza é um sistema fechado, global e integral, como se existíssemos no interior de uma esfera. A Natureza está sempre se nos apresentando como inclusiva e doadora. Por conseguinte, sentimos que estamos em oposição a ela, que devemos usar todos os tesouros que nos são dados de uma maneira que esteja em equilíbrio com a Natureza. E, contudo, não podemos, porque a força de doação está ausente do nosso comportamento, de nosso desenvolvimento e de nosso conhecimento.

Como é possível adquirir conhecimento acerca deste poder? É possível da mesma forma que recebemos informações a partir dos nossos pais, dos educadores e do ambiente sobre o uso adequado da força recebedora, ou seja, a forma através da qual podemos receber mais da vida e sermos bem sucedidos. Esta é a forma pela qual devemos aprender a receber informações a partir do ambiente acerca da outra força, a força original da Natureza, a fonte da Natureza, a força de doação, o poder de conexão, o poder do amor.

Ao longo do nosso desenvolvimento, temos sempre usado o poder da separação. Temos nos comparado às outras pessoas, desejando ser superiores a elas, mais bem sucedidos e estarmos acima delas. Exatamente como trabalhamos com êxito com o poder de recepção, agora devemos nos aperfeiçoar e adquirir a outra força, o poder da doação, e saber como trabalhar com ele, e como combinar aquelas duas forças em conjunto.

Atualmente, estamos em uma situação especial que nos capacita a receber informações acerca da outra força e aprendermos o que podemos adquirir através dela. Podemos encontrar exemplo para aquela força até mesmo no nosso mundo egoísta, o qual está construído com base na força de recepção.

A força de recepção nos níveis inanimado, vegetativo e animal é uma força instintiva, mediante a qual cada um devora o outro. No Homem, essa força existe em excesso. Assim, o Homem quer receber e usar o mundo inteiro para seu desfrute, não levando em consideração quem quer que seja. No entanto, dentro do nosso ambiente, no seio da nossa sociedade, existe um exemplo de duas forças opositoras: existe o “eu” e existe “o outro,” o “eu” e o “ambiente,” o “eu” e a “humanidade.”

Através das relações entre eu e os outros, através do impacto dos outros sobre mim, serei capaz de organizar o ambiente, estudar a força de doação, o poder de conexão, e a força de dação, em contraste com a força de receber. Portanto, se conseguirmos estabelecer a psicologia como uma ciência que pesquisa as relações do homem com o ambiente humano, seremos capazes de começar a receber dados e informações claras acerca do poder de doação, e estudá-los com relação ao poder de recepção que temos adquirido até o momento. Seremos capazes de perceber que nos opomos ao ambiente. Se for um ambiente adequado que favoreça ao avanço, poderei ver o que é a força de doação. E embora eu possa não a desejar, ela irá me afetar através de seus valores, os quais, para meu próprio bem, deveria adotar, pois, caso não o faça, irei decepcionar a mim mesmo e me degradar. Serei expelido para fora daquele ambiente, como algo que ninguém quer.

Por meio das mesmas qualidades de inveja, luxúriae honra, o ambiente começa a me afetar e eu começo a sentir que não tenho qualquer escolha, exceto me adaptar a ele. Dessa forma, conquistarei seu respeito e apreciação, no lugar de desonra e repúdio. Isso deixa a pessoa egoísta com apenas uma opção, se posicionar de uma forma respeitável em relação ao ambiente a fim de se sentir enaltecido e respeitado.

Seguramente, podemos organizar nossos estudos e nossas conexões com o ambiente da forma mencionada. Se for gerenciado por educadores apropriados, o ambiente pode nos ensinar de forma que podemos iniciar a sentir verdadeiramente a força de doação e quão especial ela é.

Dessa forma, consideraremos nosso ambiente como estágios na nossa educação. O ambiente se tornará para mim como os pais diante de um bebê. Serei influenciado por aquele ambiente como se fosse pais amáveis e cuidadosos que me proporcionam abundância e compreendem todas as minhas necessidades e fraquezas. Portanto, gradualmente, através de pequenas influências, em um ambiente atencioso e compassivo, eu crescerei, e aparentemente me tornarei um jovem, embora, na verdade, eu seja um adulto. A pessoa passa por estes estágios de desenvolvimento como um bebê, em seguida como uma criança, e depois como um jovem.

De acordo com os estágios de desenvolvimento, o ambiente nos afeta e nos nutre. O ambiente também exige que sejamos mais doadores em relação a ele e trabalhemos em conjunto, em uma combinação de estados, para nos levar, através de relações mútuas, a uma doação recíproca.

Em seguida, quando eu tiver crescido o suficiente, compreenderei que as forças de doação podem trabalhar em meu favor, que através delas eu posso dar ao ambiente. Então, igualmente, eu me torno um elemento no ambiente, da mesma forma que todos os outros inseridos nele. Torno-me um membro igual naquele ambiente, e tratamos uns aos outros de uma maneira equilibrada, de forma que a força de recepção e a força de doação estejam equilibradas entre nós. Assim, gradualmente, tal ambiente se desenvolve.

De fato, o ambiente se desenvolve. De tal forma que a força de doação se torna a força dominante entre nós, a qual determina todas as nossas ações, todas as nossas relações, todos os nossos pensamentos, e todas as nossas intenções em relação uns aos outros.

Dessa forma, construímos uma sociedade segura e sadia que não desperdiça, e formamos um tipo de família, onde cada um de seus membros cuida dos outros. Naquele estado, a vida certamente parecerá diferente quando comparada com as famílias perturbadas que vemos hoje em dia.

Ademais, estaremos adquirindo o poder de doação. Na medida em que adquirimos o referido poder, começaremos a nos relacionar com a Naturezacomo uma nossamãe. Cresceremos por meio do poder de doação que teremos gradualmente adquirido, uma espécie de bebê doador, criança doadora, jovem doador, e adulto doador em relação ao ambiente. Agora, estamos começando a ser iguais à Natureza, sentindo as forças internas que existem no seu interior, as forças por trás da matéria.

Se fragmentarmos a matéria até seus elementos mais básicos, encontraremos os átomos. Se dividirmos aqueles átomos, encontraremos partículas. Se dividirmos aquelas partículas, encontraremos uma força. No final, isso é o que existe, força. Isso é o que os físicos estão descobrindo nos aceleradores de partículas.

Essa também é a forma pela qual adquirimos essas forças fundamentais— a força de doação e a força de recepção que existe na base de toda a matéria. Nós permeamos a matéria, a criação, e começamos a sentir e a compreender como tudo é construído, como tudo é reunido, e como tudo está conectado em uma sabedoria maravilhosa, tão somente pela combinação de duas forças. Então, começamos a compreender mais profundamente o que estápor trás daquelas forças, como elas operam, e o programa através do qual elas operam.

À medida que estudamos essas forças com nosso intelecto, começamos a adquirir a sabedoria interna que opera a totalidade da Natureza. Ao fazê-lo, começamos a nos conectar e compreender, na verdade, experimentar o poder, o programa interno, o mecanismo por trás de toda a matéria, partículas e tudo que acontece.

Em outras palavras, ao adquirir essas duas forças de doação e recepção, de forma que se equilibram em mim, eu consigo conhecer a Natureza, a Mãe, a força operacional que cria a vida, a força que conduz a vida ao seu propósito. É então ai que eu posso descobrir o propósito, e ganhar uma melhor compreensão acerca da minha vida e onde eu estou. Tudo se torna transparente; eu penetro tudo que está acontecendo em minha volta, e começo a ver tudo como combinações das forças.

Este é o conhecimento que eu adquiro. Eu não o adquiro de forma superficial, como eu obtinha conhecimento anteriormente quando usava apenas a força de recepção. Diferentemente, a combinação das duas forças e as qualidades que eu adquiro me fornecem as ferramentas interiores. Estas não são similares às ferramentas externas que os físicos, químicos e outros cientistas empregam com seus instrumentos de pesquisa. Em lugar disso, começo a sentir a totalidade da Natureza no meu interior, e meu eu como uma parte integrante dela.

Assim, eu começo a ver, a viver e a me integrar a todo este processo. Começo a estar inserido nele. Igualmente, eu não me sinto no nível do corpo sólido e animal, ou nos níveis do vegetativo ou inanimado. Diferentemente, eu sinto as forças que operam no corpo, e como elas se equilibram com a Natureza que nos circunda, e estão unificadas e conectadas à Natureza geral e global.

Isso é o que quero dizer com a expressão “Natureza integral,” que uma pessoa está realmente conectada quando encontra o sistema interno das suas forças internas, as forças do ambiente, e a totalidade da Natureza. Nesse estado, a pessoa, de fato, vê a si mesma como uma parte integrante desse sistema, e chega a conhecer as leis da Natureza, sentindo a eternidade e a perfeição que existe na Natureza.

É dessa forma que lentamente deixamos de nos sentir a nós mesmos. Tornamo-nos desapegados da sensação que tínhamos anteriormente acerca do corpo sólido e auto centralizado quando estávamos em conflito com o ambiente e com as condições externas. Ao saber e realizar, através dessa nova percepção adquirida, nos movemos para o reino da inclusiva, eterna e perfeita Natureza, e nos elevamos ao nível “humano,” que é similar a este vasto sistema.

Este é realmente o propósito de nossa evolução na nova era, para a qual nos movemos. A diferença entre esta e a velha é nossa nova percepção da vida. Na era anterior, progredíamos instintivamente porque éramos operados apenas por uma única força, aquela de recepção e trabalhávamos exclusivamente para receber tanto quanto possível. Agora, devemos operar com a força de doação, e desenvolver uma atitude de apreço e crescente unidade a fim de nos complementar e integrar com os outros seres e com o ambiente.

Estas duas forças em mim são complementares no nível humano. A força que estou desenvolvendo é a força de doação, de unidade, apreço e amor. A outra força é a força de recepção no meu interior, a qual cresce e se desenvolve juntamente com este processo, embora não da forma que tinha se desenvolvido até agora. Diferentemente, ela continua a se desenvolver em oposição à força de doação.

Igualmente, eu adquiro um melhor entendimento da criatividade presente no processo porque agora eu não estou me desenvolvendo com a cegueira de antes, quando eu me movia pressurosamente aonde o ego me impelia. Agora, eu me desenvolvo através da compreensão, percepção, realização, por meio do escrutínio, da crítica e das correções que realizo. Consigo o equilíbrio combinando, complementando e conectando aquelas duas forças, similarmente ao equilíbrio existente nos átomos, moléculas e nos organismos vivos. Em seguida, “acima” desse equilíbrio, eu descubro uma outra deficiência, uma necessidade de encontrar um equilíbrio ainda mais elevado. Portanto, nos desenvolvemos continuamente de um estado de plenitude para outro de plenitude ainda maior.

O propósito deste processo é desenvolver uma percepção de quem nós somos, e um conhecimento do sistema em que existimos. Quando permeamos a Natureza através do equilíbrio de nossas forças internas, começamos a sentir os estágios que nos estão ocultos, as forças e os espaços que não podemos alcançar no momento. Nós nos movemos para um sistema de forças que está além do tempo, espaço e movimento, e alcançamos uma realização, uma satisfação interna em nossas mentes e corações que não têm conexão com a existência de nossos corpos. Tudo acontece no interior dessa realização, da percepção que adquirimos. Nossos corpos são apenas uma manifestação de nossas forças animais iniciais que nos permitem alcançar o nível humano.

É por isso que precisamos reconhecer a importância do nosso tempo e estado em que estamos. Chegamos ao estado de “entrega” de nós mesmos como seres humanos que são iguais à Natureza. Por conseguinte, temos um belo e excelente desenvolvimento a nossa frente, um desenvolvimento de compreensão e realização que nos conduz em direção a uma vida adequada sem quaisquer limitações.

Precisamos estar cientes de que não somos animais vivendo dentro de um corpo e querendo apenas satisfazê-lo. Não somos seres autocentrados que precisam satisfazer o ego, o qual nos manipula para a realização de metas falsas que apenas nos causam dor. Um aforismo antigo

afirma, “A pessoa não morre nem com a metade do que tem desejado na vida.” Ou seja, ninguém está satisfeito com a vida. Quando morrermos, não levaremos coisa alguma conosco. Além do mais, hoje em dia, muitos de nós, na verdade, não têm coisa alguma, mesmo em vida.

Entretanto, em potencial, somos seres sublimes, o ápice da Natureza, a qual criou e projetou através de um processo assombroso o universo, a Terra, a evolução, e nós, os seres humanos.

A evolução deve terminar em cada pessoa que realiza a totalidade da Natureza, se tornando idêntica a ela, em equilíbrio com ela, em plenitude, unidade, usando todas as nossas qualidades em uma forma de doação. Ou seja, devemos, no final, empregar a força de dar exatamente como a Natureza o faz. Quando atingirmos este estado, veremos que toda a nossa evolução tem sido verdadeiramente uma preparação para isso. Mesmo antes da Terra ser criada, todas as formas de desenvolvimento do ego no mundo da recepção, desde o inanimado, através do vegetativo, animal e o surgimento da humanidade até o dia de hoje, tem sido preparações para a evolução da espécie humana, que se encontra agora no limiar da entrada no novo mundo de doação.

Vemos o equilíbrio entre as duas forças no nosso corpo, e em todos os sistemas que estudamos na Natureza. É a balança em que o equilíbrio do clima e dos diversos sistemas sociais, tal como a economia e a saúde estão apoiados. Equilíbrio significa saúde. Todavia, existem diferentes níveis de equilíbrio. No nível inanimado, o equilíbrio traz o repouso. No nível vegetativo, o equilíbrio traz saúde. Assim também no nível animal.

Contudo, o equilíbrio é sempre dinâmico, se movendo de um equilíbrio menor para um equilíbrio maior. Precisamos prestar atenção aos estágios. Por exemplo, se considerarmos uma maçã crescendo em uma árvore, ela se desenvolve de um equilíbrio menor para um maior até que amadureça. Entretanto, mesmo durante os estágios antes do amadurecimento, ela se encontra em equilíbrio relativo em cada estágio, até que um desequilíbrio aparece em relação ao próximo estágio de amadurecimento. É assim que ela se desenvolve e cresce.

O que precisamos hoje, quando a humanidade está como uma maçã podre? O que podemos fazer para nos equilibrar? Que força carecemos a fim de nos equilibrar? Necessitamos da força de doação, a qual devemos somar à força de recepção, a força do ego. Se equilibrarmos aquelas duas forças, viveremos em paz e gozaremos de uma boa saúde no seio de nossas famílias, nos nossos países, e no mundo inteiro. É disso que carecemos.

A única forma de adquirir a força de doação é através do ambiente correto. Podemos ensinar qualquer pessoa a como adquirir esta força a fim de ajudar a vida pessoal e social dessa pessoa, e em seguida, toda a civilização.

Durante milhares de gerações, temos vivido em um mundo motivado pela força da recepção. Agora, nosso próximo passo no desenvolvimento humano é mudar para o mundo da doação, onde a força de dação predomina, e através da qual o nosso desenvolvimento se move.

A força de dação existe também no mundo de recepção, mas a temos usado para receber porque só pode haver uma força dominante, e a pergunta é “Que força é essa?” Se a força de recepção dominar, a força de doação a atende através da nossa disponibilidade para dar um pouco a fim de receber mais.

Tudo se desenvolve apenas para adicionar a si mesmo. Em todo o mundo inanimado, vegetativo e animal, bem como no Homem, que é parte do nível animal, a evolução tem ocorrido através do domínio da força de recepção sobre a força de doação.

Percebe-se isso especialmente no caso do Homem porque ele é um egoísta que tem usado a força de recepção para causar malefícios aos outros seres. No Homem, é evidente como a força de recepção domina a força de doação. Ela também existe em níveis inferiores, no inanimado, vegetativo e animal, porém é mais evidente no Homem porque é notório que fazemos tudo unicamente para satisfazer a nós mesmos, para ganhar.

Por minha própria Natureza, eu não consigo fazer coisa alguma sem a perspectiva de um lucro que venha junto, um lucro que sentirei como um prazer, satisfação, ou um acréscimo ao meu investimento. Meu investimento está na doação, e o que eu recebo deve exceder tal doação. Este é o significado de “a força de recepção domina a força de doação.”

É por isso que chegamos a tal uso excessivo da força de recepção, a qual domina a força de doação, onde desejamos apenas lucrar de todos sem limite algum. Ou seja, tenho disposição para vender a qualquer e toda pessoa, destruir tudo por apenas uma migalha de satisfação, um grama de prazer, sem consideração por quem quer que seja, de qualquer maneira, forma e jeito. Não se trata de ser boa ou ruim, todavia o resultado do processo é esta recepção ilimitada no auge do nosso desenvolvimento egoísta, e isso é verdadeiro para todas as pessoas, sem exceção.

Quando atingimos o nível em que a diferença entre as forças de recepção e doação se tornaram imensas, separamos uma da outra. É por essa razão que nos sentimos imersos em uma crise e não podemos continuar a existir dessa forma. No momento, a força de doação se encontra tão afastada da força de recepção que ela não pode mais ajudar no nosso desenvolvimento. O ego se tornou tão grande que desejamos tudo para nosso uso pessoal. O ego não nos permite realizar ato algum de dação, nem mesmo para um ganho pessoal. O ego não me permite tolerar outro ser humano ao meu lado, assim eu evito começar uma família e educar crianças porque eu teria que pagar fazendo concessões, dando apreço e doação mútua, e não estou com disposição para isso.

Vemos que a força de recepção superou em muito a força de doação em cada setor da vida. Em todos os pontos, meu pensamento é exclusivamente voltado para maximizar meus benefícios. Essa é a maneira pela qual distorcemos as regras e criamos todas as espécies de regulações que nos permitem roubar legalmente.

As relações que temos construído no nosso meio estão estabelecidas de uma forma tal que não temos consideração por quem quer que seja, nem por nossas famílias, nossas crianças, sociedade, país ou pela humanidade. É por isso que há uma crise na humanidade, na cultura e na Natureza. Como a crise se manifesta na Natureza? Estamos jogando lixo no oceano ou nos lixões e esperamos que alguém venha limpar para nós.

Nossos egos não nos deixam pensar no amanhã porque eles sempre estão preocupados com o que temos aqui e agora. Sem um ganho imediato, não estamos interessados no que irá acontecer. Por conseguinte, diferentemente de antes, quando os economistas planejavam com cinco, dez e até mesmo vinte anos de antecedência, hoje não podemos prever o que ocorrerá nem sequer no dia de amanhã. Nossa indiferença nos levou à desorientação. O ego destruiu nossos sistemas, e mesmo a conexão que certa vez tínhamos entre a força de doação e a força de recepção não existe mais. Por causa disso, não seremos capazes de sobreviver.

Todavia, quando analisamos o processo de evolução, podemos antecipar seu fim, pois como afirma o ditado popular “O sábio tem seus olhos na cabeça.” Não precisamos chegar ao ponto onde destruiremos uns aos outros para perceber que não é do nosso interesse continuar dessa maneira. A situação se assemelha a uma criança que aprende por meio das advertências como se comportar, no lugar de sofrer as punições. Como dissemos, “Quem é o sábio? Aquele que vê o futuro.”

A solução é estabelecer, no seio do nosso sistema social, uma estrutura que nos ajudará, nos impulsionará, e sempre nos ensinará como aumentar a força de doação, sem a qual não existe a vida. A força de doação é o poder da unidade, da conexão. Hoje, nossas conexões com nossas famílias e com a sociedade humana estão enfraquecendo. Em última instância, estamos ameaçando de morte a nós mesmos e à sociedade porque não temos esta força.

Hoje, a aquisição daquela força é uma obrigação, uma questão de vida ou morte. É por isso que a crise está acontecendo, para mostrar onde estamos. Está nos mostrando que fomos nós quem construiu este estado, e agora precisamos analisá-lo com profundidade, verificá-lo, e vermos que precisamos da força de doação.

Adquirimos tal força através da construção de um ambiente adequado, um ambiente que nos proporcione um exemplo, nos impulsione e nos encoraje a praticar mais a força de dação. Tal sociedade nos diz respeito, aparentemente nos indicando e dizendo, “Se você não doar, você não irá receber. E não apenas não receberá, você perderá esta percepção de que hoje dispõe.”

A sociedade deve expressar um descontentamento com a pessoa que não esteja doando, e deve atuar naquela pessoa através daquelas próximas a ela e aquelas que lhe são importantes. Tal sociedade precisa agir em relação a todas as pessoas através da sensação de respeito, o sentimento de autoestima, e os sentimentos “humanos” de todos. A sociedade irá expressar desrespeito para com aquela pessoa que não esteja doando, até mesmo chegando ao ponto de expulsá-la do seu meio.

Dessa forma, estaremos forçando as pessoas a avaliar a aquisição da força de doação. Quando aprendemos o que é a força de doação, quando desejamos adquiri-la, a sociedade nos fornecerádiversas atitudes favoráveis e apreciação. Não temos escolha; precisamos aprender o que significa doar.

Durante os meus estudos, eu quero que a sociedade me afete em dois níveis: Por um lado, com uma espécie de vara contra o meu ego, expressando um desprezo contra minha qualidade de recepção, e por outro lado, com uma cenoura, a me encorajar a apreciar a força de doação que eu irei adquirir. Então, eu começo a apreciar no meu ego, a força de doação, que é oposta a ele, pois se eu exercer essa força, irei receber a gratificação proveniente da apreciação do ambiente.

Em outras palavras, manipulamos o ego, o qual está crescendo e está excessivamente presente em todos nós. Só seremos capazes de implementar tal educação por meio do ambiente. Esta é chamada “Educação Integral.” Quando conseguirmos educar as pessoas para serem integrais, conectadas e ligadas umas às outras, elas começarão a apreciar a força de doação. Por conseguinte, através da força de doação, elas adquirem para si mesmas um ambiente que as respeita.

Quando alguém recebe apreciação e respeito, as pessoas invejam esse alguém, vendo quanto ele ou ela se elevou e possui valor diante da sociedade. Quando isso acontece, a pessoa começa a apreciar a força de doação, pois ao mostrar às pessoas que ele ou ela possui tal força, se recebe elevados status e respeito sociais.

O que acontece é que através do ambiente correto, um egoísta começa a apreciar a força de doação. Na medida em que se adquire esta força, se começa a exibi-la no ambiente. Esta é outra demonstração do poder do ambiente.

O ambiente é como um educador, como o comportamento de um adulto é para o jovem, como os pais são em relação ao bebê, como o professor é para os alunos, ou como a sociedade humana é para com todos nós. A sociedade se relaciona com cada pessoa de acordo com o seu progresso alcançado. Usando as forças de recepção e doação para com o ambiente, a pessoa adquire o meio, através do qual pode permear a si mesma, a sociedade e a Natureza. Através desse meio, se começa a compreender o que está acontecendo consigo no nível das forças. Esta é nossa psicologia interna, do ambiente e da Natureza.

À medida que exploramos a nós mesmos, começamos a sentir como estas forças atuam de fato na realidade como um todo, como elas afetam o inanimado, o vegetativo e o animal dentro de nós, no ambiente, no seio da família, e em tudo mais. Começamos a trabalhar com duas forças como se fôssemos seus proprietários, e através delas estudamos e percebemos tudo. Entramos na rede que conecta toda a realidade, porque essa rede é uma teia de todas aquelas forças.

Portanto, a pessoa compreende o propósito de toda a Criação, a totalidade do processo pelo qual tem passado, e aonde ele a está conduzindo. Podemos perceber que tudo está seguindo um certo processo, embora não possamos realmente discerni-lo porque só temos uma força, aquela de recepção. Quando começamos a usar ambas as forças, adquirimos uma ferramenta, com a qual podemos examinar, semelhante aos cientistas, tudo que está acontecendo na Natureza. Passamos a ser mestres dos nossos próprios destinos, e de tudo que esteja ocorrendo. E tudo isso acontece simplesmente pela elevação de nossa conscientização.

Nossa incapacidade para usar o equilíbrio entre as duas forças, recepção e doação, nos leva a um estado de desorientação. Este é o resultado direto de nossa falta de consideração para com os outros seres. “Falta de consideração” significa que eu não estou equilibrado entre a força de doação e a força de recepção no meu próprio interior, e portanto, não posso ter consideração em relação aos demais seres.

Por conseguinte, por causa do meu desequilíbrio entre as forças, não percebo onde estou, pois estou olhando através do meu instrumento pessoal. Se aquele instrumento estiver defeituoso e não afinado, eu vejo o mundo com olhos vesgos e não compreendo o que está acontecendo.

Podemos ver esse fato entre os governantes, economistas e financiadores, os quais não conseguem encontrar o caminho correto no mundo. Eles estão envidando todos os esforços para adiar o inevitável e sombrio fim, todavia estão apenas nos conduzindo para uma situação muito pior. Milhões de pessoas irão ocupar as ruas em protestos, o que poderá levar a guerras, ou mesmo guerras mundiais, pandemias e desastres naturais.

Se estamos falando do mundo de forças, então somos os seres com a maior força de todas.

Quando adquirimos o poder de equilíbrio superior no nível humano, compreendemos que estamos no topo do sistema.

Quando estamos equilibrados interiormente, somos capazes de equilibrar todos os níveis: inanimado, vegetativo e animal em toda a realidade, porque o Homem está no nível mais elevado de força e conscientização, e o poder mais sutil da Natureza, o poder do pensamento. Todas as outras forças estão em um nível inferior ao poder do pensamento. Elas são forças materiais ativadas pelo poder do pensamento, o qual não está relacionado ao poder do nosso pensamento, porém ao poder do pensamento que está presente na Natureza. Ele se relaciona ao plano global, o motor que ao funcionar consegue conectar tudo em uma unidade.

Estamos agora em um ponto muito especial em nosso desenvolvimento. Até agora, a Naturezatem nos controlado e nos conduzido para o ponto mais baixo de nosso desenvolvimento. Daqui para frente, temos que começar a ascender e a adquirir a força que existe na Natureza—o poder de equilíbrio entre o bem e o mal.

Precisamos adquirir o desejo de doação a fim de obter as duas forças em nossas mãos, doação e recepção. Se recebermos tal instrumento, a capacidade de combinar as duas forças, iremos começar a dominar toda a Natureza, visto que estamos inseridos naquele sistema. Portanto, nos tornamos uma parte viva e ativa neste sistema, nos movendo e evoluindo, dando vida a todo o sistema.

De acordo com a força de doação que uma pessoa desenvolva, a forçade recepção aumenta em seu interior também. Não se trata mais daquela força egoísta do nível animal, que se usava no velho mundo. Agora, as duas forças estão se desenvolvendo conjuntamente em seu interior, as forças do Homem no novo mundo. Até agora, o Homem tem se desenvolvido instintivamente, como um animal, atingindo um patamar intolerável. Presentemente, ele deve desenvolver a força de doação em relação ao ambiente.

Dação ou doação, inclui o ato de dar, a consideração, a proximidade, o apoio, a gentileza, e finalmente o amor. O amor inclui todas as expressões de conexão. A empatia com o desejo de outra pessoa é chamada de “a força de doação.” Assim que começo a desenvolver aquela força em mim, juntamente com ela cresce a outra força, a força de recepção, que na verdade me auxilia a doar, pois no meu interior, não existe coisa alguma para doar para as outras pessoas. Eu não tenho coisa alguma com a qual posso me conectar com elas. De forma diferente, é precisamente quando eu uso minhas forças de recepção que eu posso doar o máximo às outras pessoas. Fui criado pela Natureza com uma força de recepção que tem evoluído desde o início do universo até hoje. A pergunta é, “Como eu começo a doar para os outros?” É possível apenas se eu estiver em uma sociedade que me diga, “Se você não estiver doando, nós não aceitaremos você, não iremos

apreciar você, simplesmente não iremos querer você porque você não possui os valores adequados.” É uma sociedade que me faz sentir que todos os meus parentes, as pessoas em minha volta, e todos aqueles com quem eu me preocupo não irão me apreciar, a menos que eu faça doações. E, uma vez que obtenho este tratamento e atitude de todo mundo, eu começo a compreender que é de meu interesse doar.

Para resumir, adquirindo a força de doação, eu me torno consciente do que está acontecendo em minha volta, me volto para mim mesmo e minha família, e para a sociedade próxima e distante, organizando minha vida de forma ideal.

Assim, alcanço um estado de felicidade e sensação de realidade eterna. Tenho inclusão nele, e alcanço o nível humano. Sinto que a vida vale à pena ser vivida, que quero ter uma família e experimentar satisfação e contentamento. Tudo acontece pela aquisição da força de doação construída em meu interior no ambiente correto.

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