Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Pesquisa em Economia Desafia a Equação que Riqueza é Igual à Felicidade

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

A chave para a felicidade não é a riqueza, mas uma conexão de responsabilidade mútua entre nós

Pontos-chave

  • Estudos comprovam que, além de certo rendimento, a renda adicional não necessariamente aumenta a felicidade.
  • Quando atingir uma meta que estabelecemos para nós mesmos, a satisfação é breve e fugaz.
  • Medir o bem-estar e qualidade de vida pelo crescimento do produto interno bruto distorce a imagem real.
  • Outras medidas como o valor das relações humanas podem representar a felicidade pessoal com mais sucesso.
  • Educar para a responsabilidade mútua e da solidariedade social vai mudar as relações humanas.

O Estudo da Felicidade

A máxima: “O dinheiro não pode comprar felicidade”, foi confirmada em uma série de estudos em economia e psicologia. Esses estudos mostram que, apesar do aumento do padrão de vida e de riqueza nos países industrializados, o nível de felicidade permanece estagnado. Em 1974, Professor de Economia na Universidade do Sul da Califórnia, Richard A. Easterlin publicou um estudo pioneiro.

 

A publicação, “O Crescimento Económico Melhora a Porção Humana? Alguma Evidência Empírica,” [39] , estabeleceu o que hoje é conhecido como “O Paradoxo Easterlin”, um conceito chave na economia felicidade. O paradoxo afirma que em comparações internacionais, o nível médio de felicidade relatado não varia muito com o rendimento nacional por pessoa, pelo menos para os países com renda suficiente para satisfazer as necessidades básicas. Easterlin argumentou que a felicidade pessoal não depende de renda absoluta das pessoas, mas da relativa. As pessoas não são infelizes porque são pobres, mas porque são (ou percebem-se) na parte inferior de uma escala em que se medem.

Abaixo está um diagrama demonstrando renda média comparada com a felicidade nos Estados Unidos, 1957-2002, divulgado pelo World Watch Institute, em 2004 27:

Easterlin não era o único que tinha dúvidas de que uma economia de sucesso é medida pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e os parâmetros relacionados a isto. Em uma palestra no TED, Ideas Worth Spreading,28 Nic Marks, Nic Marks, fundador do Centro de Bem-Estar no New  Economics  Foundation  (NEF),  fez  alguns  argumentos  muito  contundentes  sobre como medir a felicidade. “Como é louco que essa nossa medida de progresso, a nossa medida dominante do progresso na sociedade, está medindo tudo, exceto aquilo que faz a vida valer a pena [bem-estar]? Um dos problemas que enfrentamos… é que as únicas pessoas que têm conquistado o mercado em termos de progresso é uma definição financeira de que o progresso é uma definição econômica… que de alguma forma, se obtivermos os números certos para ir para cima, seremos melhores… que de alguma forma a vida ficará melhor. Isto é de alguma forma atraente para a cobiça humana… que mais é melhor. Vamos! No mundo ocidental, temos o suficiente.”

A crise econômica como uma oportunidade de examinar o paradigma econômico

O estudo da felicidade é cada vez mais pertinente do que nunca nestes dias de crise global. A equação: riqueza = felicidade está na base dos paradigmas econômicos existentes. Em grande medida, determina o nosso modo de vida, sua qualidade, nossas relações interpessoais e as relações entre cidadãos e Estado. Em grande medida, a crença de que a riqueza = felicidade também afeta a natureza do sistema internacional econômico inteiro.

Cada calouro da faculdade entende que a expressão, “maximizando a utilidade sob um limite de orçamento existente”, é o mesmo que o nível máximo de felicidade que pode ser obtido com uma determinada quantia de dinheiro. A crise contemporânea é uma oportunidade para analisar se o atual paradigma econômico e o sistema de vida existente realmente alcançaram seus objetivos e proporcionar às pessoas felicidade.

Realidade vs. o Sonho Americano

Em seu livro de 1931, The Epic of America, escritor e historiador americano James Truslow Adams, cunhou o termo, “O Sonho Americano”. Ele escreveu: “A vida deve ser melhor e mais rica e mais plena para todos os homens, com oportunidade para cada um de acordo com a sua capacidade ou realização” 29

Esse sonho tornou-se a aspiração não só de todas as crianças e adultos na América, mas o sonho de milhares de milhões em todo o mundo. Este sonho se traduz na crença de que para ser feliz, é preciso ter uma casa própria, de preferência uma grande casa, para uma única família, em bairro bom, dois carros por família, e uma economia substancial para os anos dourados. Nesse sonho, cada nova chegada à América pode se tornar rica e próspera, apenas se a pessoa trabalhar duro o suficiente.

Infelizmente, a realidade de hoje não é O Sonho Americano. Na realidade, milhares de pessoas na América não podem trabalhar duro e fazer seus sonhos se tornarem realidade, simplesmente porque não conseguem um emprego. Os sistemas de saúde e bem-estar são tão desiguais e deformados que só perpetuam as desigualdades socioeconômicas. Na verdade, poucas pessoas realizam O Sonho Americano, enquanto o resto continua a lutar para evitar a pobreza.

Mas a maior surpresa sobre O Sonho Americano não é que apenas poucos tornam esse sonho realidade. Pelo contrário, é o fato de que mesmo aqueles que conseguem não são mais felizes!

Felicidade — Não É uma Ciência Exata

Tal Ben Shahar é um PhD em comportamento organizacional e um renomado professor e escritor sobre a psicologia positiva e liderança. Ele afirma que a raiz de sensações negativas é interna — um conceito errôneo de felicidade que causa frustração prolongada. Em uma entrevista com o jornal israelense Calcalist, ele diz: “As pessoas de sucesso, muitas vezes experimentam níveis mais elevados de depressão ou insatisfação. A principal razão para isso é que o mecanismo operando dentro de muitos de nós nos faz pensar que quando recebemos algo — um aumento, um carro novo, ou uma nova casa — seremos felizes. Dessa forma, vivemos com a sensação de que temos algo a procurar. O problema é que quando conseguimos o objetivo que tínhamos definido a sensação de satisfação e alegria que deriva é temporária e desaparece rapidamente. Nós experimentamos um aumento no nível de felicidade, mas rapidamente voltamos ao lugar de onde viemos antes de obter o que queríamos, só que agora estamos desapontados e, por vezes perdidos. Esse mecanismo de felicidade é defeituoso desde o núcleo. Paradoxalmente, ele nos faz muito mais infelizes, especialmente quando obtemos o que queremos” 30.

A Grama do vizinho É Mais Verde

Outra razão para a diferença entre renda e felicidade é a nossa tendência a medir-nos em relação aos outros, mais comumente conhecido como “Mantendo o passo com o vizinho”. Numerosos estudos em economia comportamental mostram que as pessoas se comportam irracionalmente quando se comparam a outros. Como os economistas David Hemenway e Sara Solnick demonstraram em um estudo na Universidade de Harvard, muitas pessoas preferem receber um salário anual de US $ 50.000 quando outros recebem $ 25.000, depois ganhar US $ 100.000 por ano, quando os outros estão ganhando $ 200.00031. Da mesma forma, os economistas Daniel Zizzo e Andrew Oswald realizaram um estudo que mostrou que as pessoas que desistiriam do dinheiro, se outras pessoas desistissem de uma quantia um pouco maior.32

Riqueza Significa Segurança Financeira — ou Faz Isto?

Estudos foram realizados para determinar se uma pessoa com uma renda maior teria menos preocupações, em comparação com uma pessoa que mal podia fazer face às suas despesas. Os resultados foram fascinantes. A professora de economia comportamental da Universidade de Princeton, Talya Miron-Shatz, testou a conexão entre o nível de renda e senso de segurança financeira. Ela descobriu que a “segurança financeira contribui para a predição de satisfação com a vida, acima da contribuição de renda” 33.

O Mundo Está Mudando, e Assim É a Percepção de Felicidade

Os resultados dos estudos acima referidos, e em muitos mais, desafiam as convenções mais fundamentais da nossa sociedade. Estamos começando a perceber que a equação atual de dinheiro = felicidade simplesmente não é verdade. Em vez disso, a busca de riqueza causa frustração, prejudica a nossa saúde, e danifica as nossas relações com os outros por cultivar concorrência e egocentrismo. Nosso pensamento está começando a mudar a partir do sentido individualista – competitivo para um que seja mais equilibrado e harmonioso com o ambiente e com os outros.

O nosso comportamento como consumidores, nossa atitude em relação ao dinheiro, e as satisfações atribuídas a ter dinheiro estão começando a ajustar-se à realidade global e interconectada em que vivemos, onde estamos todos ligados uns aos outros, afetando uns aos outros como peças de um quebra-cabeças mundial. Nesse sistema, que pode ser chamado de “global-integral”, estamos começando a sentir o vazio dos valores do consumismo e a busca de bens materiais. Aqueles que se esforçam por eles e acreditam que o dinheiro significa felicidade estão começando a perceber que os métodos tradicionais para obter a felicidade já não estão funcionando porque o mundo mudou para uma unidade global-integral. Por esta razão não podemos chegar à felicidade se esta não está ligada à felicidade dos outros, e certamente não se vem à custa dos outros.

 

Capitalismo e Felicidade — Não é o Que Você Pensava

Em 20 de janeiro de 2011, o professor de Economia Política, Robert Skidelsky, membro da Câmara dos Lordes britânica e autor de uma biografia premiada do economista John Maynard Keynes, escreveu,34 “O capitalismo pode estar próximo de esgotar seu potencial para criar uma vida melhor, pelo menos nos países ricos do mundo”. Por “melhor”, quero dizer melhor eticamente, não materialmente. …Foi, e é, um excelente sistema para superar a escassez. Ao organizar a produção de forma eficiente, e dirigindo-a para a busca do bem-estar, em vez de poder, levou uma grande parte do mundo a sair da pobreza.

“No entanto, o que acontece a esse sistema quando a escassez tem se tornado abundância”? Será que é só continuar a produzir mais do mesmo, estimulando apetites cansados com novos dispositivos, emoções e excitações? Quanto tempo isso pode continuar? Gastaremos o próximo século chafurdando na trivialidade?…

“Na verdade, o ‘espírito do capitalismo’ entrou para assuntos humanos um pouco tarde na história”. Antes disso… Uma pessoa que dedicava sua vida a fazer o dinheiro não era considerada um bom modelo. …Foi só no século 18 que a ganância se tornou moralmente respeitável. …Isto inspirou o Modo de Vida Americano, onde o dinheiro sempre fala mais alto.

“O fim do capitalismo significa simplesmente o fim do desejo de ouvi-lo. As pessoas começam a aproveitar o que eles têm, ao invés de sempre querer mais… Como mais e mais pessoas encontram-se com o suficiente, pode-se esperar que o espírito de ganho perca a sua aprovação social. O capitalismo teria feito o seu trabalho, e o lucro vai retomar o seu lugar na galeria dos vilões”.

““…A evidência sugere que as economias seriam mais estáveis e os cidadãos mais felizes se a riqueza e renda fossem mais bem distribuídas. A justificativa econômica para grandes desigualdades de renda — a necessidade de estimular as pessoas a serem mais produtivas — desmorona quando o crescimento deixa de ser tão importante.

“Talvez o socialismo não seja uma alternativa ao capitalismo, mas o seu herdeiro. Ele herdará a terra não pela remoção dos ricos de suas propriedades, mas fornecendo motivos e incentivos para os comportamentos que não estão relacionados com a acumulação de riqueza”.

A Economia como um Reflexo das Relações Humanas

A razão pela qual a suposição de que uma grande renda signifique mais felicidade não reflete a realidade já que nos esquecemos de que a economia inclui um elemento dominante humano. É um elemento complexo, não uma ciência exata. E acima de tudo, é difícil medir o elemento humano.

A economia comportamental já provou que o homem não é uma máquina racional. Em 1979, os professores Daniel Kahneman e Amos Tversky apresentaram a teoria da “Perspectiva”, pela qual Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia (seis anos após a morte de Tversky). A pesquisa mostrou que as pessoas são incapazes de analisar situações de decisão complexas quando as futuras consequências são incertas. Em vez disso, confiam em atalhos, que parecem fazer sentido, ou regras de ouro, com poucas pessoas avaliando sua probabilidade subjacente35.

Os estudos mencionados acima de Hemenway e Solnick, assim como muitos outros estudos, indicam que a economia diz respeito às relações humanas, tanto quanto ela explora a forma como os seres humanos conduzem seus negócios.

 

A solução — Relações Baseadas na Responsabilidade Mútua

Pela maioria dos indicadores, a humanidade chegou a um ponto de inflexão. Desespero e depressão em todo o mundo tornaram-se muito prevalentes. Na Europa, um estudo revelou que, “Quase 40 por cento dos europeus tem doenças mentais” 36

O abuso de drogas e álcool está em alta e a taxa de divórcio em todo o mundo ocidental está subindo rapidamente. Os dados mostram claramente que estamos perdendo as esperanças, estamos inseguros e pessimistas, mesmo com a perspectiva de nossos filhos tenham uma vida melhor que a nossa37. Esta tendência já existe há alguns anos, mesmo em tempos economicamente mais otimistas, mas a crise atual é acelerar e intensificar a tendência ao pessimismo.

Então, o que pode nos fazer feliz? Claramente, cada pessoa precisa ter renda suficiente para a subsistência digna, permitindo que as necessidades da vida sejam cumpridas, tais como alimentação, vestuário, habitação, saúde e educação. Mas, além disso, como foi demonstrado acima, um aumento no bem-estar só é possível por meio da melhoria das relações humanas, e não por aumento de patrimônio pessoal. Precisamos mudar de uma atitude de alienação a uma de consideração e de responsabilidade mútua, onde todos são fiadores do bem-estar uns dos outros.

Com um mundo global e estreitamente integrado, temos que ajustar nossas conexões em conformidade. Devemos chegar a sentir que os sistemas sociais e econômicos e interações humanas são baseados no cuidado, consideração e responsabilidade mútua. Quando as pessoas se sentem confiantes de que não serão exploradas ou usadas, elas abaixam suas barreiras de defesa contra os outros. Em outras palavras, precisamos de responsabilidade mútua, a fim de sermos felizes, e a responsabilidade mútua não pode ser comprada com dinheiro.

A importância dos estudos apresentados acima e de outros semelhantes a eles é que eles provam que a riqueza não é um pré-requisito para a felicidade. Em vez disso, o cuidado, consideração, responsabilidade mútua e segurança financeira são os melhores meios para a obtenção de felicidade do que apenas ser rico. Se conseguirmos criar um ambiente que instiga valores de solidariedade, cuidado com os outros, e de responsabilidade mútua, seremos capazes de aumentar o nível de felicidade pessoal de cada pessoa na sociedade. É por isso que a responsabilidade mútua é tão importante.

Nós não nascemos iguais, alguns nascem mais inteligentes, alguns mais fortes, outros mais ricos, e alguns com melhor saúde. Enquanto a sociedade continua a dizer-nos que temos de competir com os outros, ultrapassá-los em dinheiro e recursos, não vamos alcançar a igualdade social, e em um mundo global integral, igualdade social e responsabilidade mútua são condições prévias para a felicidade pessoal. Para resolver os problemas mentais, emocionais, econômicos e financeiros de nosso mundo, nós devemos criar uma sociedade baseada em uma rede de responsabilidade mútua, em que cada pessoa participa nas atividades da sociedade e recebe dela o que se precisa para sustento razoável. Quando criamos essa sociedade, haverá a verdadeira igualdade, e o sentimento de injustiça e depravação que prevalecem no clima social de hoje serão coisas do passado.

A chave para a solução está em cultivar valores como a generosidade, a consideração e o cuidado mútuo para substituir os valores do materialismo e da competitividade. Isto aumentará a sensação de felicidade, também. Nós descobriremos que realizar o nosso potencial só é possível em uma sociedade que se conduz pelo princípio da responsabilidade mútua. A satisfação, confiança e segurança que derivará de viver em uma sociedade harmoniosa nos trará a felicidade que almejamos e temos sido incapazes de alcançar por meios monetários.

27 Brian Halweil and Lisa Mastny (project directors), State of the World 2004: A Worldwatch Institute Report on Progress Toward a Sustainable Society, Linda Starke, Editor (N.Y., W.W. Norton & Company, Inc., 2004), http://ec- web.elthamcollege.vic.edu.au/snrlibrary/resources/subjects/geography/world_watch_institute/pdf/ESW040.pdf, Figure 8-1, p 166

28 Nic Marks, “The Happy Planet Index,” TED, Ideas Worth Spreading (July 2010), http://www.ted.com/talks/nic_marks_the_happy_planet_index.html

29 James Truslow Adams, The Epic of America (U.S.A. Taylor & Francis, 1935), 415

30 Tal Ben Shahar, “Our Happiness Scheme is Wrong, and Then Comes Frustration, Calcalist (17 de Abril de 2011), http://www.calcalist.co.il/local/articles/0,7340,L-3515186,00.html

31 Solnick, S.J., & Hemenway, D., (1998). “Is more always better? A survey on positional concerns.” Journal of

Economic Behavior & Organization, 37 (3), 373-383.

32 The study is quoted in an online essay, “Misery Loves Company: Recession Edition,” in the blog, Macro and Other Market Musings (December 27, 2008), http://macromarketmusings.blogspot.com/2008/12/misery-loves- company-recession-edition.html

33 Talya Miron-Shatz, “‘Am I going to be happy and financially stable?’: How American women feel when they think about financial security,” Judgment and Decision Making, vol. 4, no. 1, February 2009, Princeton University, pp. 102-112 (http://journal.sjdm.org/9118/jdm9118.html#note1)

34 Robert Skidelsky, “Life after Capitalism,” Project Syndicate (January 20, 2011), http://www.project- syndicate.org/commentary/skidelsky37/English

35 Daniel Kahneman, Encyclopædia Britannica, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/891306/Daniel- Kahneman

36 “Fast 40 Prozent der Europäer sind psychisch krank” (translation: “Nearly 40 percent of Europeans are mentally ill”), Der Spiegel (September 5, 2011), http://www.spiegel.de/wissenschaft/medizin/0,1518,784400,00.html

37 Toby Helm, “Most Britons believe children will have worse lives than their parents – poll,” The Guardian (3 de Dezember de 2011), http://www.guardian.co.uk/society/2011/dec/03/britons-children-lives-parents- poll?INTCMP=SRCH

 

Publicado em Artigos

A Crise Como Uma Oportunidade

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

Além de curar a economia, podemos usar esta crise para lançar uma nova era na sociedade humana

Pontos-chave

  • A crise global tem sido o resultado do caminho evolutivo da humanidade.
  • A crise afeta muitas áreas de nossas vidas, tais como educação, família, e ecologia, mas não as abordados devidamente. A eclosão da crise econômica nos obriga a tomar medidas imediatas para garantir a nossa sobrevivência.
  • A globalização e a integração do sistema global tornaram os velhos paradigmas irrelevantes. Portanto, temos que desenvolver novos paradigmas que servem as leis do mundo global-integral.
  • A crise é uma oportunidade para a introspecção no mundo inteiro, bem como para melhorar as nossas relações interpessoais e internacionais.
  • Ao fechar o fosso entre as regras do mundo global-integral – que nos obriga a ligarmo-nos em responsabilidade mútua – e da economia competitiva e individualista atual, criaremos bem-estar econômico e uma sociedade estável e harmoniosa.

Na medicina, o diagnóstico de uma doença é considerado uma coisa boa. Ele nos permite identificar o problema e tratá-lo. O mesmo se aplica para a economia. As crises econômica e financeira são globais, afetando praticamente todos os países do mundo. É difícil estimar o prejuízo global provocado pela crise, como estamos longe de seu fim. No entanto, é claro que a crise é uma continuação da recessão de 2008, e surgiu como o maior desafio econômico e financeiro que o mundo tem enfrentado desde a Grande Depressão dos anos 1930. Como os governos, bancos federais e instituições financeiras internacionais lidam com essa crise em evolução, expansão terá um impacto importante sobre o futuro do planeta.

Toda crise representa uma oportunidade. A atual apresenta uma oportunidade para examinar o estado da economia global, o sistema financeiro global, o estado das relações financeiras no sistema internacional, bem como as relações sociais dentro de cada país, e até mesmo dentro das empresas individuais. Introspecção não é um processo realizado enquanto num estado de euforia. Pelo contrário, ela é feita durante os períodos de angústia e crise.

Na verdade, a crise global não se limita à economia. É tão aguda em educação, questões domésticas, como o divórcio e violência doméstica, ecologia, e diminuição dos recursos naturais da Terra. De vez em quando a Natureza “lembra-nos” de nossa fragilidade por meio de um terremoto, um tsunami, um furacão, ou algum outro desastre natural. O imediato, efeito proibitivo da crise financeira mundial faz com que o despertar ideal chamando-nos a reconsiderar as premissas em que as nossas economias e nossas sociedades se baseiam.

Os Desafios Colocados pela Globalização

A Grande Depressão da década de 1930 e a incapacidade de resolvê-la com os paradigmas da economia clássica levou o economista John Maynard Keynes (1883-1946) a desenvolver o modelo keynesiano. Este modelo afirma que para garantir o crescimento econômico, deve haver intervenção ativa do governo nos mercados financeiros.

Oito décadas depois, o modelo keynesiano se provou um fracasso. Ele não resolveu a crise econômica global atual, que começou como uma crise financeira e evoluiu para uma crise mundial da economia real, refletido no desemprego, cortes de salário e distúrbios sociais. O fracasso dos antigos, familiares modelos financeiros levou o Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz, a declarar: “De certa forma, não só há uma crise em nossa economia, deve haver uma crise na economia.” 19

No entanto, para um novo paradigma econômico ter sucesso, deve-se levar em consideração as novas condições que têm surgido na sociedade humana durante o século 21. O mundo se tornou uma aldeia global em que a interdependência e influência mútua entre as suas partes estão crescendo. Tornamo-nos um sistema global-integrante composto de elementos interligados, obrigados a conectarem-se a uns aos outros, afetando assim uns aos outros e afetando as futuras gerações para a maior parte, de forma adversa.

Assim, de acordo com um relatório20 do Instituto de Pesquisa Europa Sustentável (SERI), “Os seres humanos hoje extraem e utilizam cerca de 50% mais recursos naturais do que apenas há 30 anos, em cerca de 60 bilhões de toneladas de matérias-primas por ano. … Dadas as tendências atuais de crescimento, nossa extração de recursos naturais pode aumentar para 100 bilhões de toneladas até 2030.”

Outro efeito negativo da globalização é uma concentração de poder e riqueza. De acordo com um comunicado de imprensa pelo Credit Suisse, 21 “Menos de 1% da população adulta do mundo… possui 38,5% da riqueza familiar global. “Isso bate nos principais argumentos do Occupy Movement que surgiu na Queda de 2011 em várias cidades nos EUA e ao redor do mundo”.

Muito tem sido dito sobre as repercussões da globalização. Thomas Friedman, autor do World Is Fla (A Terra é Plana): Uma breve história do século XXI, introduziu em sua coluna 22 no The New York Times, em 11 de outubro de 2011, duas teorias que representam as duas extremidades do debate sobre o impacto da globalização. A primeira teoria é do ambientalista australiano, Paul Gilding, autor de Great Disruption (O Grande Rompimento). Gilding disse: “Eu olho para o mundo como um sistema integrado, então eu não vejo esses protestos, ou a crise da dívida, ou desigualdade, ou da economia, ou o clima ficando estranho, de forma isolada — vejo o nosso sistema no doloroso processo de quebra”, que é o que ele quer dizer com” A Grande Ruptura”, disse Gilding. “Nosso sistema de crescimento econômico, da democracia ineficaz, de sobrecarga do planeta Terra — nosso sistema — está comendo-se vivo.”

Uma teoria oposta é a de John Hagel III, que vê a situação atual como o início de uma “grande mudança”, resultante de uma combinação da globalização e da revolução da informação.

Segundo Hagel, hoje é o início de um tempo de prosperar para a humanidade, ainda que hoje nós sentimos isto como pressão, devido ao nosso uso continuado de instituições ineficientes e práticas.

No final das contas, de acordo com Hagel, estamos no meio de um imenso fluxo global de ideias, inovações e oportunidades de lucro por meio da colaboração. Hagel acredita que a grande tarefa pela frente “… convida-nos a aprender mais rápido, trabalhando em conjunto e para tirar de nós mesmos mais do nosso verdadeiro potencial, tanto individualmente como coletivamente.” Quer se incline em direção a uma teoria ou outra, ambas nos mostram que a crise chegou mesmo a tempo de ser uma chamada ao despertar.

Na verdade, somos chamados a adaptar os sistemas econômicos e sociais aos requisitos do sistema global-integral de hoje. Todavia, para concretizar o nosso potencial, precisamos fazer uma mudança fundamental nos processos de pensamento e conduta financeira que nos levaram à crise. Assim como a Grande Depressão da década de 1930 levou Keynes a formar um paradigma econômico mais adequado para sua época, temos que mudar nossos paradigmas atuais e adaptá- los à realidade de um mundo global e integral, se quisermos sair mais fortalecidos da atual crise. A crise nos permite ver que no mundo de hoje, os velhos paradigmas se tornaram disfuncionais e o melhor exemplo é o paradigma capitalista.

O Capitalismo na Era da Globalização

A crise mundial colocou dois dos princípios do capitalismo a um teste — um eles parece ser falho. Esses princípios são: 1) que a oferta e demanda se balanceiam, e 2) que, trabalhando em um interesse próprio, um indivíduo realmente beneficia o público. Para identificar o problema vamos voltar às origens do pensamento capitalista.

Em seu livro de 1776, A Riqueza das Nações, de Adam Smith escreveu: “Como cada indivíduo se esforça tanto quanto puder tanto para empregar seu capital no apoio da indústria nacional e assim, direcionar essa indústria para que seus produtos possam ser de maior valor; cada indivíduo necessariamente trabalha para tornar a receita anual da sociedade tão grande quanto ele possa”.

“Ele geralmente, de fato, não tem a intenção de promover o interesse público, nem sabe o quanto ele está promovendo”. Preferindo o apoio nacional ao da indústria estrangeira, ele pretende apenas a segurança própria, e por dirigir a indústria de tal maneira que sua produção possa ser de maior valor, ele pretende apenas seu próprio ganho, e é neste , como em muitos outros casos, guiado por uma mão invisível a promover um fim que não fazia parte de sua intenção.

“Nem sempre é o pior para a sociedade que não era parte dele. Ao perseguir seus próprios interesses, ele frequentemente promove o da sociedade mais eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo.” 23

Por esta razão, acrescenta Smith, “A demanda para aqueles que vivem de salários, portanto, necessariamente aumenta com o aumento da receita e estoque de todos os países, e não pode, possivelmente, aumentar sem isso. O aumento das receitas e estoques é o aumento da riqueza nacional”.

A suposição de Smith de que a oferta e a demanda equilibram-se por meio de uma “mão invisível” criou a regra que leva ao pensamento capitalista do dia de hoje, que o objetivo do indivíduo para maximizar os lucros leva o lucro máximo para toda a sociedade. No entanto, o desenvolvimento primário do pensamento econômico contemporâneo — como uma condição necessária para um eficiente mercado livre — é uma livre concorrência. O mercado deve incluir um número ilimitado de fabricantes e consumidores, os quais possuem todas as informações relevantes, nenhum deles tem qualquer efeito sobre os preços no mercado, e os custos de transporte de mercadorias são irrelevantes em relação ao comércio em si.

Essas condições deveriam se manifestar da maneira mais ideal em nosso mundo global. O desenvolvimento do comércio mundial aumentou o número de fabricantes e consumidores no mercado, e reduziu significativamente o custo do transporte de mercadorias. A Revolução da Informação por meio da Internet contribuiu significativamente para o aumento da competitividade. Isto também apresentou as informações necessárias para fabricantes e consumidores.

Atendendo a estes desenvolvimentos, seria de esperar que estivéssemos experimentando a economia de mercado livre em sua glória. Como, então, terminamos em uma crise global que não conseguimos resolver?

A razão para o surgimento da crise global é esta: enquanto a globalização aumenta as chances de determinados pressupostos clássicos se manifestarem, também ajudam a minar outra suposição, a consideração de conexão e efeito mútuo dos elementos do mercado. Em um mundo onde o livre mercado está se comportando de acordo com o ideal de Smith, as pessoas trabalham para seu próprio interesse e não estão afetadas pelos outros nem afetam o seu bem-estar. No entanto, as pessoas não vivem em uma bolha isolada. Eles são seres sociais, cujo bem-estar é interdependente ao de outros, e esta interdependência é vivida hoje mais do que nunca. Esta influência das relações sociais introduz um elemento que é aparentemente ausente da teoria de Smith.

Vários estudos descrevem a integração social que o mundo está passando, tudo parte do processo de globalização. Entre os mais notáveis está o estudo do Dr. Nicholas A. Christakis e o Professor James Fowler, que ficou famosa em seu livro, Connected: The Surprising Power of Our Social Networks and How They Shape Our Lives—How Your Friends’ Friends’ Friends Affect Everything You Feel, Think, and Do. Eles concluem que “a expansão da influência nas redes sociais obedece ao que chamamos de Regra de Três Graus de Influência. Tudo o que fazemos ou dizemos tende a ondular pela nossa rede, tendo um impacto sobre nossos amigos (primeiro grau),

os amigos dos amigos (segundo graus), e até mesmo nos amigos dos amigos dos amigos (terceiro grau)… Da mesma forma, somos influenciados por amigos dentro de três graus.” 24

Assim, a nossa saúde, riqueza e felicidade estão em grande parte em função do que as pessoas a três graus de afastamento de nós pensam e fazem.

Na mesma linha, o Professor Ludger Kühnhardt, diretor do Centro de Estudos de Integração Europeia em Bonn, declarou: “O século 21, ao contrário do período após o Congresso de Viena, não é mais um jogo de soma zero de vencedores e perdedores. Pelo contrário, é um século de vários nós de rede.” 25

Externalidades Negativas

Um exemplo da influência da interconexão humana sobre a dinâmica da economia é chamado de “externalidades negativas.” Esse termo descreve o custo infligido aos outros por uma ação pela qual os afetados não têm ligação. Assim, se uma fábrica polui um lago próximo, matando os peixes naquele lago, que inflige danos aos pescadores cujos meios de vida dependem dos peixes no lago. Esta é uma externalidade negativa.

A solução tradicional envolve supervisão pelas autoridades. No entanto, a superprodução e poluição abundam, apesar da supervisão e da crescente evidência de que estamos vivendo em um mundo interconectado e interdependente. Os métodos que os líderes e tomadores de decisão estão tentando aplicar a lidar com os problemas do nosso mundo interconectado são os mesmos métodos que eles usaram durante décadas, quando o mundo era muito menos interligado.

A questão, então, não é se os tomadores de decisão terão que renovar suas abordagens para a resolução da crise global, mas o quanto os contribuintes terão que pagar antes de perceber isso e agir.

Em Direção ao Futuro

O fracasso do capitalismo, como expresso na crise atual, demonstra a necessidade urgente de construir um novo paradigma econômico. Os chefes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento  Econômico   (OECD)  e  da  Organização   Internacional  do   Trabalho  (ILO) publicou recentemente um aviso de que “O número total de desempregados é ainda 200 milhões no mundo todo, perto do pico registrado na profundidade da Grande Recessão” 26

Mesmo nos países do G20, “A análise… expressa a preocupação de que o emprego pode… crescer a uma taxa de pouco menos de um por cento (0,8) até o final de 2012, resultando em um déficit de 40 milhões de emprego nos países do G20 no próximo ano [2012] e um déficit muito maior  em 2015”.

Na luz do futuro perigoso, os preços dos alimentos, e da intensificação da agitação social em todo o mundo, é claro que um novo paradigma é necessário, um que se adapte ao novo mundo globalmente interligado do século 21. O novo paradigma deve levar em conta a natureza integral e interdependente do mundo de hoje. Em vez de o conceito obsoleto que o egoísmo do homem acabará por levar a um maior bem comum, precisamos ver a humanidade como uma entidade complexa, com elementos interdependentes.

Além disso, a taxa em que a crise se espalha indica que a janela de oportunidade está se fechando. Estamos vivendo num tempo emprestado e devemos acelerar nossos passos em direção à transformação. A única pergunta é: “Que tipo de transformação deve ser isso?”

“O verdadeiro desafio hoje é mudar nossa maneira de pensar — não apenas nossos sistemas, instituições ou políticas. Precisamos da imaginação para captar a imensa promessa — e desafio — do mundo interconectado que criamos. O futuro está com mais globalização, não menos -. Mais cooperação, mais interação entre povos e culturas, de uma participação ainda maior de responsabilidades e interesses.” Em suas palavras de encerramento, Lamy previu, “O futuro está com mais globalização, não menos — mais cooperação, mais interação entre povos e culturas, e até mesmo uma maior partilha de responsabilidades e interesses. É “unidade na nossa diversidade global” … que precisamos hoje.”

 

Colocando Palavras em Ação

O novo mundo está empurrando as pessoas para ficarem mais próximas, forçando-nos a cuidar uns dos outros em solidariedade genuína, e repensar a concorrência agressiva e o consumismo excessivo. Esta crise está nos levando, chutando e gritando, em harmonia com as leis do sistema global integral.

Para se adaptar a este mundo global integral, devemos estudar como ele funciona e como todos os elementos estão ligados na indústria, no setor bancário, e em sistemas de governo. Portanto, a chave para o sucesso está em um novo sistema de educação que irá informar as pessoas sobre a natureza do mundo de hoje. Este programa não só informar, mas também ajudar-nos a praticar novos códigos de comunicação e relações humanas, mostrando-nos como construir nossas relações sociais para sobreviver em um mundo interconectado.

Como observado por Lamy, a evolução contínua da humanidade em direção à globalização e integração é uma certeza. Se aprendermos a ajustar as nossas inter-relações e economia à nova realidade, poderemos alcançar a harmonia e equilíbrio com as leis do novo sistema. Este novo equilíbrio compor-se-á de responsabilidade mútua (cada pessoa garantindo aos outros o bem- estar), solidariedade social, educação genuinamente livre para todos,ou seja, um reenquadramento de como usar nossos recursos naturais, e harmonia na economia global.

 

Enquanto mantivermos nossa percepção atual do mundo, nós não teremos compreensão da essência da mudança que o mundo está passando. Apenas se nós nos reeducarmos e aprendermos sobre a nova realidade, entenderemos as causas e a natureza da mudança exigida de nós. Por meio da educação, perceberemos que temos de superar os elementos que nos separam em todos os níveis, e que devemos buscar laços de responsabilidade mútua. Quando conseguirmos isso, descobriremos que a nova realidade também é uma grande oportunidade. A transformação do pensamento é a chave para o nosso sucesso e para a prosperidade global. E sem esta crise global, nunca consideraríamos tal transformação desejável ou mesmo possível.

18 Os mais notáveis estudos provavelmente se encontram em: Connected: The Surprising Power of Our Social Networks and How They Shape Our Lives—How Your Friends’ Friends’ Friends Affect Everything You Feel, Think, and Do, by Dr. Nicholas A. Christakis and Prof. James Fowler (NY: Back Bay Books, 2011), see chapter, “Benefits of the New Economy.”

19 “O curta metragem de the 2011 Lindau Nobel Laureate Meeting in Economic Sciences,” The New Palgrave Dictionary of Economics Online, http://www.dictionaryofeconomics.com/resources/news_lindau_meeting (the above-mentioned statement is in Stiglitz’s video after 10:05 minutes.

20 “Overconsumption? Our use of the world´s natural resources,” Sustainable Europe Research Institute (SERI) (September  2009), www.foeeurope.org/publications/2009/Overconsumption_Sep09.pdf

21 “Credit Suisse: Global wealth has soared 14% since 2010 to USD 231 trillion with the strongest growth in emerging markets,” Credit Suisse (October 19, 2011), https://www.credit- suisse.com/news/en/media_release.jsp?ns=41874

22 Thomas Friedman, “Something’s Happening Here,” The New York Times (October 11, 2011), http://www.nytimes.com/2011/10/12/opinion/theres-something-happening-here.html?_r=3&hp

23 O texto em negrito foi enfatizado pelo autor deste ensaio

24 Nicholas A. Christakis and James Fowler, Connected: The Surprising Power of Our Social Networks and How They Shape Our Lives—How Your Friends’ Friends’ Friends Affect Everything You Feel, Think, and Do (NY: Back Bay Books, 2011), 26

25 Ludger Kühnhardt, “A Call for the United States to Rediscover Its Ideals,” The Globalist (May 24, 2011), http://www.theglobalist.com/StoryId.aspx?StoryId=9149

26 “ILO warns of major G20 labour market decline in 2012 and serious jobs shortfall by 2015,” International Labor Organization (September 26, 2011), http://www.ilo.org/global/about-the-ilo/press-and-media- centre/news/WCMS_163835/lang–en/index.htm

Publicado em Artigos

Responsabilidade mútua Como Uma Solução Prática

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

A Responsabilidade é uma solução prática para os problemas sociais e econômicos no mundo?

Pontos-chave

  • Tentativas monetárias e fiscais de alcance sem precedentes nos últimos anos não têm poupado a economia global da crise profunda.
  • A crise econômica atual não é apenas uma extensão natural da crise de 2008, mas é maior e mais ameaçadora do que a anterior. Isto é devido à nossa centralização nos (e tratamento incorreto) sintomas, em vez de diagnosticar e tratar a raiz da crise.
  • Soluções econômicas tradicionais são baseadas em princípios incongruentes com a nova economia necessária para ter sucesso no mundo global-integral com sua resultante interdependência.
  • A única solução prática para a crise é mudar nossas relações para as relações de responsabilidade (onde todos são responsáveis pelo bem-estar uns dos outros) como base para uma economia equilibrada, funcional e sustentável.
  • Facilitar um ambiente de apoio por meio da educação e fornecimento de informações é necessário para que possamos nos conectar em responsabilidade mútua.

Não Há Disputa Sobre a Crise Econômica e Financeira Sendo Global

A atual crise econômica e financeira está na mente de cada economista e tomador de decisões em todo o mundo. Quase contra a sua vontade, eles concordaram com o fato de que uma mudança global está acontecendo, o resultado de um mundo que se tornou global e conectado, onde cada pessoa e cada país afeta e é afetado por todos os outros. Em nosso mundo novo, todos nós somos parte de uma rede única, global, que continuamente aperta os laços econômicos, financeiros e sociais — alguns evidentes, alguns encobertos.

A interdependência econômica entre os países impede que qualquer país, mesmo aqueles cuja economia atualmente parece se sobressair como a Alemanha, China e Brasil, evite as consequências da crise global e o efeito dominó que traz esta crise à sua porta.

Assim, a China está experimentando uma desaceleração em seu crescimento porque os principais compradores de seus produtos — EUA e a Europa — estão sob uma grave crise que afeta o consumo privado e o nível de vida dos consumidores.

A Alemanha, a mais forte economia na Europa, também poderia enfrentar dificuldades devido ao colapso iminente da economia grega e a subsequente reação em cadeia, dos países do PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) e do resto da Europa.

 

 

A Tradicional “Caixa de Ferramentas” Falhou

Presidentes, primeiros-ministros, ministros das Finanças e chefes dos bancos centrais em todo o mundo têm tentado sanar os mercados financeiros globais e a economia desde 2008. Não é de surpreender que todos os programas de auxílio, planos de cicatrização e incentivos econômicos tentados em todo o mundo dependiam de um paradigma econômico, simples, antigo e familiar que afirma que a solução para a crise encontra-se em uma combinação de expansão monetária (cortes das taxas de juros) e expansões fiscais (aumento de extensões de governo e derramamento de fundos no mercado). As únicas diferenças entre essas soluções estavam no montante de dinheiro derramado e a quantidade expansão tomada.

  • Expansão monetária se manifesta principalmente em cortes das taxas de juros sob a suposição de que aumentar a oferta de dinheiro barato vai incentivar a atividade comercial e o consumo privado e, assim, impulsionar o crescimento e o emprego.

     

  • Expansão fiscal significa crescente intervenção estatal nas atividades econômicas através do aumento de gastos públicos, derramando fundos no mercado, cortes fiscais e outros incentivos do governo. Aumentar o déficit do governo para incentivar a atividade econômica é visto como um mal necessário e tem como objetivo nesses lugares onde o mecanismo da “mão invisível” e as forças do mercado livre falharam.

 

Tratando Novos Problemas com Antigas Soluções

Dois problemas principais exemplificam as tentativas para resgatar as economias da crise global:

  1. Todos são baseados no mesmo paradigma, combinando expansões monetárias e fiscais. A base teórica do paradigma econômico atual foi estabelecida no início de 1900 mudou muito No entanto, desde então, os sistemas econômico e financeiro mudaram radicalmente. O processo de globalização tem acelerado exponencialmente, trazendo crescentes riscos financeiros provocados pelo desenvolvimento da tecnologia, abundância de financiamento barato para especulações, engenharia financeira, e ganância.

Especialistas estão lutando para avaliar com precisão os riscos embutidos em tal sistema financeiro global. O elemento humano é o componente mais imprevisível, junto com o desejo desinibido da humanidade para maximizar os lucros. Clássicas teorias econômicas são incapazes de lidar com os novos desafios que o mundo enfrenta. As inter-relações entre mercados financeiros, a economia real, e as atividades das empresas só complicam a imagem e torna ainda mais difícil de encontrar uma solução adequada dentro do arsenal familiar. 2. A corrida para encontrar “soluções práticas” continua a falhar. “Prático” significa algo que pode ser medido e quantificado. As pessoas esperam mudanças sugeridas no orçamento, nas taxas de juro, na divisão de recursos, em cortes de impostos, em desequilíbrio entre impostos diretos e indiretos, nos currículos escolares, na assistência social, subsídios de hipotecas e assim por diante.

No entanto, sem a compreensão completa das razões para a crise e as alterações necessárias nas relações humanas, na atual realidade global e integral, essas soluções irão falhar.

Um agregado de soluções “práticas” sem precedentes tanto no orçamento quanto no caráter realizados em todo o mundo por governos e bancos centrais nos últimos três anos, não conseguiram produzir o resultado esperado. A atual crise econômica global não é apenas uma extensão natural da crise de 2008, é maior e mais ameaçadora. Todos os planos11 de recuperação de governo dos EUA não apenas falharam, mas agravaram a crise, porque nos impediram de tratar suas raízes e falsas esperanças foram dadas. Esses planos se estabeleceram para tentar lidar apenas com os sintomas da crise em vez de suas causas reais.

 

O Fracasso dos Passos “Práticos” nos Estados Unidos

Para enfrentar a crise de 2008, resgate de três planos de magnitude sem precedentes foram lançados, o primeiro pela administração Bush e os dois últimos pelo Presidente Obama.

  • Em três de outubro de 2008, com o espectro do colapso do banco de investimento Lehman Brothers apenas algumas semanas antes, o governo dos EUA promulgou o Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (TARP). O governo comprou ativos “tóxicos” e patrimônio das instituições financeiras para socorrer o setor financeiro de um padrão provável. Nesse programa sozinho, o governo foi autorizado a gastar até  700   bilhões  de  dólares  para  salvar   o   setor      No   entanto, essa quantidade colossal de dinheiro logo seria considerada manifestamente insuficiente como a crise continuava crescendo.
  • Em 13 de fevereiro de 2009, na sequência do fracasso do TARP para proteger a economia americana, o Congresso aprovou Lei de Recuperação e Reinvestimento Americano de 2009 (ARRA) com o pedido do Presidente Obama. O Presidente acreditava que se ele derramasse até 787 bilhões de dólares na economia americana, nacionalizasse os bancos, reduzisse as taxas de imposto e suporte para o setor financeiro, ele iria resolver a crise. Ele também reforçou o regulamento da indústria financeira para controlar a “magia” financeira que tinha acelerado o estouro da bolha em 2008 e a fez muito mais dolorosa. O ARRA falhou, também.

     

  • Em 2010, um segundo plano de recuperação, maior do que o primeiro, foi lançado. Ele foi chamado de Lei de Recuperação e Reinvestimento Americano, Fundo Federal de Estímulo no Plano Financeiro²¹ em Janeiro de 2010 e baseou-se nos mesmos princípios de aumentar o déficit e derramar fundos no sistema financeiro, em empresas e doméstico. A Lei de Recuperação e Reinvestimento Americano foi também outro fracasso.

Mas no final de 2011, o Presidente Obama lançou um quarto e diferente tipo de plano. A Lei Americana de Empregos focada no mercado de trabalho dos EUA, oferecendo dólares 450 bilhões de incentivos fiscais. Os resultados deste plano ainda não foram vistos.

Juntamente com o governo, o Federal Reserve Bank (FED) está trabalhando para apoiar a economia. Ele baixou a taxa de juros para quase 0%, acreditando (com base em leis tradicionais da economia) que, ao fazê-lo e mantê-lo lá por um tempo suficiente, a economia americana seria revitalizada porque dinheiro barato incentiva gastar e tomar empréstimos, e assim a economia se recuperaria da crise. A taxa de juros tem estado perto de zero, por quase três anos agora com sinais de alívio da crise. Na verdade, ela só está piorando. O FED começou a lançar dois planos de incentivo e estímulo de tamanho gigante, que incluía a compra sem precedentes de 70% dos títulos do governo americano. Isso também falhou.

 

O Fracasso dos Passos “Práticos” na Europa

Na Europa, também, o Banco Central Europeu (BCE) baixou a taxa de juros na Zona do Euro de 4,25 para apenas um por cento 12 mas que também se revelou inútil.

A Zona do Euro criou um fundo de resgate europeu com centenas de milhões  de Euros para ajudar os países mais vulneráveis do bloco. Este fundo tem lutado para levantar dinheiro de seus membros. No entanto, as demandas por reformas econômicas e sociais que são condições para receber os fundos são tão duras, que poderiam causar tumultos generalizados nos países que os receberiam, como está acontecendo na Grécia.

No final de 2011, na sequência de um perigo real de que a Grécia poderia dar o calote em sua dívida — o que poderia levar a uma escalada dramática em toda a Zona do Euro e no mundo — o princípio do fundo foi aumentado significativamente para mais de um trilhão de Euros. O acordo sobre o aumento foi assinado depois de muitos debates desafiantes entre os países da Zona do Euro. Muitos especialistas acreditam que esta tentativa, também, irá falhar em resolver a crise de dívida soberana na Europa. Na melhor das hipóteses, ele atrasará um pouco o colapso  financeiro  e possivelmente social.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) também saltou para ajudar a Europa, na alocação de orçamentos substanciais para esse propósito. Muitos países da Europa também começaram a “apertar o cinto” para reduzir o déficit e preencher as condições para receber o auxílio  dos  fundos. Os cortes nesses países dificultam suas habilidades para colocar suas economias de volta aos trilhos. Em consequência, os cortes estão agravando a situação em muitos países. Esta situação criou um efeito de bola de neve, agravando, em vez de diminuir o problema. Agora, a integridade da Zona do Euro inteira está em perigo iminente.

O bloco da Zona do Euro, que foi concebido para fornecer responsabilidade entre seus membros, está prestes a desmoronar em efeito dominó que começou na Grécia e está rapidamente se espalhando para Itália, Espanha, Portugal. A partir daí, é só uma questão de tempo antes que ele afete as economias mais fortes da França e da Alemanha.

O desemprego em grande parte da Zona do Euro é muito elevado: na Espanha, a taxa de desemprego da força de trabalho total é superior a 20%, e entre os jovens universitários, a taxa de desemprego sobe para cerca de 45%. 13 Muitas empresas e estados soberanos estão se aproximando a um estado de inadimplência em suas dívidas, e os protestos contra os planos de austeridade atestam a complexidade da situação na Europa.

Nos EUA, também o desemprego é elevado 14 e a dívida está subindo rapidamente 15 A atividade econômica é lenta e se esforça em direção à recuperação, enquanto os preços da habitação ainda estão caindo. Em 2011, os EUA sofreram sua primeira diminuição de sua classificação de dívida 16 e todos os mercados financeiros no mundo estão pagando pesadamente por isso.

Embora o teto da dívida norte-americana tenha sido elevado, para evitar o aumento do déficit, qualquer ajuda adicional ou cortes de taxas devem ser acompanhados por cortes no orçamento. Outra opção seria aumentar os impostos em outros setores da economia. O crédito ilimitado que o Presidente Obama teve de lidar com a crise foi perdido, e daí em diante, ele vai ter que cortar e apertar o cinto. Isso prejudica sua capacidade de resgatar a vacilante economia americana da crise.

Além disso, o sistema político americano é golpeado e dividido, a pobreza é crescente e o consumo privado — o mecanismo primário de crescimento da economia americana — está em parada cardíaca. Parece que a economia americana chegou a um beco sem saída.

 

E Agora?

Após mais de três anos de tentativas fracassadas de sanar as economias e os mercados financeiros em todo o mundo, claramente é hora para reexaminarmos nossa tendência de aplicar soluções familiares, mas, evidentemente, ineficazes para os problemas atuais.

A conclusão de que podemos tirar com o fracasso de cada operação de salvamento e plano de resgate, por um lado, e a tenacidade e a gravidade da crise econômica e financeira, por outro lado, é que o paradigma existente esgotou-se. Portanto, temos que urgentemente adotar uma nova postura. As ferramentas atuais para resolver a crise falharam e continuarão a fazê-lo porque são insuficientes para lidar com a rede socioeconômica global da qual somos todos dependentes.

Se adaptarmos os sistemas econômicos e financeiros à rede de ligações econômicas e sociais, se a economia também se adaptar e se pudermos adquirir as características da nova economia — a economia de responsabilidade mutua, então encontraremos diante de nós as ferramentas para resolver a crise.

A incapacidade de lidar com a crise mundial levou muitas pessoas a concordar que a verdadeira causa da crise não é a economia, mas nossas relações humanas. Em uma entrevista ao Der Spiegel, Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, disse que “Tem havido uma clara crise de confiança que agravou seriamente a situação”.17

Muitos concordam que a mudança de conceitos e valores é necessária agora, uma mudança de relacionamentos baseados no poder , com o objetivo de maximizar o ganho pessoal ou nacional para a solidariedade e a coesão social. A conexão entre as pessoas é o tema na agenda pública, e isso é o que exigido para remendar e ajustar as leis do mundo global e conectado. A economia é destinada somente para apoiar e manter a conexão entre as pessoas; afinal, fomos nós, seres humanos, que criamos a economia, e não a economia que criou uma sociedade.

A economia não é uma lei da natureza. É um produto das visões das pessoas e um reflexo das relações humanas e interesses. Portanto, para mudar a economia, devemos primeiro mudar a nós mesmos e nossos relacionamentos. Nós podemos induzir mudanças na economia e na sociedade, concordando que essa responsabilidade é a base para o sistema socioeconômico e educativo em cada país e de fato, em todo o mundo.

Não há discussão de que a situação socioeconômica está seriamente danificada, e que o anseio por justiça social tenha mérito. Deve-se perguntar: “O que impede de vermos que a raiz do problema está na falta de responsabilidade mútua da compreensão de que é aí que reside a solução para todos os nossos problemas?”

A resposta é: “É a incapacidade de entender que essa mudança de mentalidade é a etapa mais prática que se pode tomar. E pode ser atingida através da criação de um ambiente social e meios de comunicação que explicam e ensinam sobre o valor da responsabilidade mútua. Sem essa mudança, nenhum plano de serviço econômico ou social terá sucesso”.

Na verdade, apenas um elemento chave está faltando em todos os planos de resgate: responsabilidade mútua ,ou seja, um cuidado genuíno de uns para com os outros e acordo feito em um processo de decisão do tipo mesa redonda, sentindo que todos devemos ajudar uns aos outros e fazer concessões, como uma família. Sem essa mudança de mentalidade necessária, qualquer novo pacote de resgate que possa parecer bom, invariavelmente falhará.

Os Benefícios de uma Economia Baseada em Responsabilidade Mútua

A nova economia de responsabilidade mútua tem várias vantagens. É o único que permite verdadeira e sustentável justiça social que existe entre o Estado e seus cidadãos, e entre os estados. Uma economia de responsabilidade mútua será constante, caracterizada por substancial diminuição voluntária das distâncias sociais e econômicas, e um declínio no custo de vida.

É fácil imaginar os sistemas econômicos e sociais no final da transformação que a crise global impõe sobre nós. Vamos dar uma olhada em alguns deles.

Na economia de responsabilidade mútua, a sociedade se adaptará à rede global de conexões. Como resultado, as bolhas financeiras e a corrida interminável por lucros especulativos mudarão, levando a uma economia saudável, equilibrada e global que se baseia em sistemas globais de comércio, produção, consumo, a divisão do excedente e recursos, sistemas de ajuda internacional, e uma maneira mais saudável e menos exigente da vida. Certamente isso estaria em forte contraste com a corrida de ratos em que estamos hoje.

O consumo pessoal deverá voltar à sanidade, ao invés do consumo excessivo que se alimenta de publicidade e pressão social, com o único objetivo de nos convencer a consumir produtos e serviços redundantes. A sociedade de responsabilidade mútua seguirá o princípio de agir como responsáveis do bem-estar uns dos outros e a economia derivará disso. Isto manifestará harmonia entre os seus membros em parcerias de comércio justo, fundos e recursos com foco no progresso, bem-estar, justiça social, e uma divisão justa dos recursos, ao invés de defesa militar e armas.

Em vez de competição desenfreada entre as empresas e países, o apoio mútuo para o bem comum prevalecerá.

A Economia Mudará Quando Criarmos um Ambiente que Promova a Responsabilidade Mútua

A chave para mudar as nossas relações em uma direção melhor encontra-se em informar e educar crianças e adultos semelhantemente. Devemos criar um ambiente de mudança de apoio que possa ajudar as pessoas a se ajustar à realidade global, integral e atingir a responsabilidade mútua entre nós. Como resultado, o princípio da responsabilidade mútua será a base de todos os sistemas futuros, seja de ordem política, social ou econômica.

Estudos recentes 18 têm mostrado que os nossos ambientes têm um impacto crítico sobre os nossos valores, hábitos e até mesmo a nossa saúde. Se construirmos um ambiente que é integral, por natureza, teremos um quadro mais claro de como mudar com sucesso do sistema socioeconômico atual, o que causou a atual crise sobre nós, para o novo sistema, baseado na solidariedade, responsabilidade mútua, e harmonia mútua, estendendo-se nossas relações com a Terra.

11  http://www.recovery.gov/Pages/default.aspx

12 “Euro Area Interest Rate,” Trading Economics, http://www.tradingeconomics.com/euro-area/interest-rate

13 “Spain Unemployment rate,” Index Mundi, http://www.indexmundi.com/spain/unemployment_rate.html

14 “United States Unemployment Rate,” Trading Economics, http://www.tradingeconomics.com/united- states/unemployment-rate

15 “The Debt to the Penny and Who Holds It,” http://www.treasurydirect.gov/NP/BPDLogin?application=np

16 “Instant view: U.S. loses AAA credit rating from S&P,” Reuters (August 5, 2011), http://www.reuters.com/article/2011/08/06/us-usa-debt-downgrade-view-idUSTRE77504J20110806

17 “There Has Been a Clear Crisis of Confidence,” Spiegel Online International (April 9, 2011), http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,784115,00.html

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Um Mundo Global-Integral Requer uma Nova Economia

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

O presente método económico não pode continuar a existir no mundo global-integral

Pontos-chave

  • Quando cada país está ligado por laços comerciais e financeiros, uma interdependência irrevogável é criada.
  • A crise global se expos à medida que os destinos de todos os países estão ligados entre si em um mundo global-integral. As soluções relativas a um único país são inaplicáveis, e a resolução desta crise mundial será possível somente através de uma solução sistêmica que leve em conta a interdependência entre os países.
  • Cada medida tomada pelos líderes mundiais para resolver a crise falhou e causou confusão apesar dos meios apropriados de ação prevalecerem.
  • A chave para resolver a crise é fechar as lacunas entre as leis do mundo global-integral e a economia egoísta, competitiva. É vital adaptar os sistemas econômicos ao princípio da responsabilidade, em que todos são responsáveis pelo bem-estar uns dos outros.
  • É imperativo fornecer educação e informação e criar um ambiente favorável para que possamos nos conectar em responsabilidade.

 

O Enorme Escopo do Comércio Global Cria a Dependência Mútua

O comércio internacional tem sido parte da economia desde os tempos antigos. Os meios de negociação melhoraram junto com a tecnologia e junto com eles as trocas internacionais evoluíram.

No passado, os países poderiam fechar-se em um mercado autárquico, existente dentro de uma economia autossuficiente, que não se baseia no comércio com outros países. Hoje, no entanto, isso não é possível. Não há um país no mundo que não exporte ou importe bens e serviços. Na verdade, não há um país no mundo que possa abastecer todas as necessidades de seus próprios cidadãos ignorando o sistema internacional.

De acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), desde a Segunda Guerra Mundial, o âmbito do comércio  internacional aumentou acentuadamente. Os Estados Unidos foi  o líder no comércio internacional de mercadorias em 2010, com um volume de comércio de 3,250

trilhões de dólares (1,97 que é importação); a China ficou em segundo lugar, com cerca de 2,970 trilhões dólares em volume (com 183 bilhões de dólares em superávit comercial de mercadoria), e a Alemanha foi terceira com 2,340 trilhões em volume de comércio de mercadorias (com um excedente de 202 bilhões de dólares). ³

O enorme alcance do comércio internacional exemplifica as conexões e dependência entre os países, tanto na economia real e em finanças.

 

Laços Mútuos e Conexões na Produção de Bens e Serviços (Economia Real)

Na economia real, há diversos laços econômicos que se manifestam no comércio de bens e serviços. Um exemplo são as conexões de comércio na indústria automobilística entre Japão e Estados Unidos. O terremoto que atingiu o Japão em 11 de março de 2011 teve um grande impacto sobre a indústria de automóveis dos EUA já que as linhas de produção e a importação de peças de reposição pararam e as importações de carros do Japão para os EUA diminuíram .

Após o aumento de preço dos carros,as vendas caíram, o que levou a uma redução na despesa de consumo pessoal (PCE), e, consequentemente, no desempenho da economia americana como um todo.

 

O Sistema Financeiro — Um Espelho do Mundo Global

Como na economia real, a profunda interdependência evoluiu no setor financeiro, também, seja por meio de empréstimos (títulos) que países tomaram de outros países ou por outros meios. O exemplo mais visível dessa interdependência é a grande quantidade de títulos dos EUA, mantidas pelo governo chinês. Por causa da velocidade que os mercados financeiros respondem a mudanças nas políticas e na economia, estes mercados tornaram-se a característica mais proeminente do mundo global e interligado em que vivemos. A interdependência entre países e investidores é palpável e tangível nesses mercados.

Outro exemplo distinto é a crise da dívida soberana, que atualmente está se desdobrando em países da Zona do Euro. A enorme dívida de muitos países demonstra como todos estão no  mesmo barco. Os Estados Unidos devem trilhões de dólares para países da Zona do Euro e Japão e trilhões mais para a China, Rússia e muitos outros proprietários de títulos dos EUA. A Alemanha deve 5,460 trilhões de dólares para os países acima mencionados; os países do PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) devem um total de 6,40 trilhões de dólares para esses países, e França deve a eles 5,460 trilhões de dólares. 2

Os laços econômicos e financeiros obrigam os países a se envolverem mais nos assuntos internos uns dos outros por medo de suas próprias economias. Por um lado, a interdependência financeira acelera os esforços internacionais para ajudar países em dificuldades, tanto diretamente como através do Fundo Monetário Internacional (FMI). Por outro lado, a interferência financeira e/ou política poderia ser interpretada como uma ameaça à soberania do país e pode instigar tensão e conflito.

Em relação à crise da economia americana, funcionários chineses criticaram os Estados Unidos por seu déficit colossal, que poderia comprometer a estabilidade da economia americana e sua capacidade de pagar sua dívida à China e a outros detentores de dívida. A tensão causada pela crítica levou o vice-presidente chinês, Xi Jinping, afirmar, “A economia dos EUA está sempre altamente resistente e tem uma forte capacidade de se auto reparar. Acreditamos que a economia dos EUA vai conseguir melhor desenvolvimento no processo de lidar com desafios”.3

Porque cerca de metade dos títulos dos EUA é comprada por investidores estrangeiros, principalmente China, Japão, Rússia e Índia, a sensibilidade do sistema monetário internacional para a economia americana e para o tratamento que o governo dos EUA lhe dispensa, é óbvia. Um comentário que demonstra o envolvimento entre os países foi feito pelo Secretário  de Tesouro americano, Timothy Geithner. Em um comunicado oficial para o FMI, Geithner disse, em relação à Europa, “A ameaça de default em cascata, corridas bancárias e risco catastrófico devem ser tirados da mesa, caso contrário ela irá prejudicar todos os outros esforços, tanto na Europa e globalmente. …Decisões tais como enfrentar conclusivamente os problemas da região não podem esperar até que a crise fique mais grave.” 4

 

O Fortalecimento Econômico e Financeiro Entre os Países

O comércio internacional começou como um meio para satisfazer as necessidades de um país. Conforme o capitalismo se espalhou por todo o mundo, a principal motivação dos países mudou de provisão das necessidades para maximizar seus lucros para manter uma economia forte e estável e permitir o desenvolvimento contínuo de suas economias e bem-estar dos seus cidadãos. O balanço global foi formado através da demanda internacional e do abastecimento a nível econômico e financeiro.

Na economia real, a eficiência da produção em alguns países e as diferenças nos custos de produção podem levá-los a exportar seus produtos para outros países que têm uma demanda para esse produto. Em termos financeiros, cada país se esforça para lucrar em sua moeda e daí empresta aos outros. Assim, como o país precisa de dinheiro para manter o governo e os gastos públicos e continuar investindo para ter crescimento significativo, ele irá pedir emprestado também a outros países.

Os países também diversificam os seus investimentos entre os diferentes países para diminuir o risco e para construir uma carteira de investimento segura. Seu desejo de maximizar os seus lucros obriga-os a acompanhar a evolução na indústria, tecnologia e finanças dos outros países. Isso reforçou o comércio, bem como conexões políticas entre os países e em todo o sistema econômico global. Foi assim que o mundo tornou-se irrevogavelmente global e integral.

 

O Desamparo dos Economistas e dos Tomadores de Decisões

A interdependência entre os países foi uma das principais razões para a expansão da crise dos Estados Unidos para a economia internacional em 2008. Agora, como em 2008, todos os países são afetados pela crise. As complexas ligações entre os países e corporações exigem movimentos integrados entre os países, bem como a consideração mútua e genuína vontade de apoiar a economia vacilante. Parece que a mensagem, “estamos todos no mesmo barco” surtiu efeito. Ainda assim, as tentativas de resolver a crise através de estímulos monetários ou financeiros falharam amargamente nos EUA e na Europa.

A incapacidade do mundo para lidar com as raízes da crise global desde 2008 deixam perplexos nossos economistas e tomadores de decisões. Eles refletem sobre como conduzir o comércio e usar o vasto sistema financeiro em um mundo global e integral, bem como gerenciar o desejo dos países para maximizar seus lucros separadamente, usando reciprocidade econômica.  O  fosso entre a reciprocidade obrigatória imposta pela interdependência entre os países do mundo global- integral e a atual natureza do sistema econômico internacional — com base em abordagens estreitas e egocêntricas — é agora reconhecido pela comunidade internacional econômica como uma crise.

Nouriel Roubini, Professor de economia na Universidade de Nova York e um dos poucos que previu a crise de crédito global em 2004, declarou no verão de 2011 sobre a escalada da crise global: “Karl Marx tinha razão. Em algum momento, o capitalismo pode se autodestruir.” Igualmente, o vencedor do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz, afirmou, “De certa forma, não existe somente uma crise na nossa economia, deve haver uma crise na ciência econômica.” 5

Além disso, em 13 de setembro de 2011, Mohamed El-Erian, CEO e cofundador da PIMCO, a maior empresa de investimento e fundos de obrigações do mundo, declarou em uma entrevista de rádio no programa “Vigilância Bloomberg” com Tom Keene e Ken Prewitt, “estamos chegando perto de uma completa crise bancária na Europa. … Estamos em uma desaceleração global sincronizada. Há muito pouca confiança nas políticas econômicas na Europa e nos Estados Unidos.” 6

Em uma ocasião diferente, o Sr. El-Erian, “deu quatro razões para a restrição de uma melhoria na economia global”. Preços do petróleo… estão muito elevados, os mercados imobiliários ainda não se estabilizaram suficientemente, a Europa ainda não resolveu a sua crise da dívida e os líderes mundiais estão preocupados que políticos americanos são ‘discutindo muito.’ Diferentes seções da orquestra estão tocando uma música diferente e soa confuso¹¹.

Estas declarações e outras feitas por economistas e financistas demonstram como as aspirações dos países para maximizar seus lucros os têm levado à interdependência. Ao mesmo tempo, estas declarações atestam sua confusão e incapacidade de lidar com a realidade da econômica global.

 

A Integração Global é um Facto Inevitável?

Juntamente com a integração necessária tendo em conta as conexões econômicas descritas acima, a China, a segunda economia mais poderosa do mundo, declarou recentemente que pretende parar sua política de investimento na Europa e nos Estados Unidos. Wen Jiabao, primeiro-ministro da China, disse em um discurso na Reunião Anual dos Novos Campeões 2011, “os governos devem cumprir suas responsabilidades e pôr ordem em suas próprias casas”. “As principais economias desenvolvidas devem adotar políticas fiscais e monetárias responsáveis e eficazes, tratar devidamente os problemas da dívida.” Além disso, o Banco da China congelou as ofertas de moeda estrangeira com vários grandes bancos europeus, incluindo o BNP Paribas, Société Générale e Crédit Agricole à luz da crise da dívida na Europa e o rebaixamento da classificação de crédito pela Moody de vários grandes bancos europeus.

O Japão expressa uma visão semelhante em uma declaração do Ministro das Finanças japonês, Jun Azumi, em um Encontro do G20 entre Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais reunidos em Paris, em outubro de 2011, “A Europa precisa organizar suas ações porque a menos que a crise tenha um fim, ela vai começar a afetar as economias emergentes que têm apresentado forte crescimento”.7

As atitudes da China e do Japão à crise da dívida na Europa levantam as questões, “A tendência ao isolamento da China e do Japão é viável no mundo global e integral de hoje? O protecionismo e separatismo dos poderes podem manter a sua estabilidade econômica? Podem eles desligar suas relações com outras nações e tornar-se autossuficientes?”

A resposta a tudo acima é um retumbante “não”. Os dias em que um país sozinho poderia abastecer todas as suas necessidades sumiram e não vão voltar. No mundo global-integral, mesmo as economias mais poderosas dependem uma das outras e de todo sistema internacional (talvez mais do que todos os outros). Assim, uma desaceleração na economia dos EUA vai induzir um declínio acentuado nas exportações da China e do Japão e vai prejudicar as economias desses países.

Além disso, os mercados de títulos de governo tornaram-se uma arena global onde países levantam fundos de outros países e investem suas próprias reservas em títulos de outros países. Imagine o que aconteceria com a economia chinesa, agora um dos dois maiores detentores de títulos do governo dos EUA, se América fosse incapaz de pagar sua dívida ou declarasse um acordo de reestruturação da dívida.

 

Os Esforços para Superar a Crise Global Tem Sido um Fracasso

Desde a crise global que começou em 2008, os Estados Unidos e países da Zona do Euro vêm tentando salvar suas economias do colapso usando vários planos emergenciais. Em geral, estes programas dependem da expansão monetária, principalmente usando cortes na taxa de juros e expansão fiscal, o que significa derramar fundos do governo no sistema econômico e oferecer benefícios fiscais para reanimar a atividade econômica.

A política negligente de estímulo do governo dos Estados Unidos incluía três programas de estímulo de magnitude sem precedentes. No entanto, Charles I. Plosser, o Presidente do Fed da Filadélfia, disse nesse sentido: “A noção persiste que a política monetária ativista pode ajudar a estabilizar a macroeconomia… Em minha opinião, a capacidade da política monetária para neutralizar as consequências econômicas reais de tais choques é realmente bastante limitada… Tentativas para estabilizar a economia irão, mais provavelmente do que não, acabar proporcionando estímulo quando nenhum é necessário, ou vice-versa. …Então, pedir à política monetária  para  fazer  o  que  não  pode  fazer  com  agressivas  tentativas  de  estabilização pode realmente aumentar a instabilidade econômica em vez de reduzi-la.” 8

Marc Faber, um renomado economista e autor do relatório “Gloom, Boom and Doom”, foi um pouco mais direto em sua resposta ao referido plano. Ele descreveu o pacote como “Outra falha completa da economia keynesiana e intervenções corruptas,” Dr. Faber resumiu suas palavras sobre o programa, chamando-o “Uma piada completa.” 9

Como nos Estados Unidos, os países da Zona do Euro passaram por várias etapas que incluíram bombear fundos em seus mercados e cortar as taxas de juros dos bancos centrais na Europa.

Também, a Zona do Euro criou um fundo de resgate europeu com centenas de bilhões de Euros para os países mais vulneráveis do bloco.

O FMI também contribuiu com sua parte em ajudar a Europa, alocando muitos bilhões de dólares em dinheiro de resgate. Muitos países na Europa realizam, agora, medidas de austeridade para reduzir o déficit e para satisfazer os critérios para receber a ajuda dos fundos de resgate. No entanto, os cortes de orçamento estragaram as habilidades dos países de  reavivar suas economias e ajudar seus cidadãos. Isso fez o quadro piorar, levando milhões às ruas em protestos na Grécia, Espanha, Portugal e outros países da Europa.

O fracasso das políticas de incentivo dos Estados Unidos e países da Zona do Euro preparou o palco para uma crise em 2011 que diminui aquela que havia começado alguns anos antes. O tratamento de problemas a nível local não só falhou em resolver os problemas, mas os agravou, com grandes dívidas se movimentando dos bancos e instituições financeiras para os orçamentos de estado.

Christine Lagarde, chefe do FMI, disse que “O espectro das políticas disponíveis para os vários governos e bancos centrais é mais estreito, porque um monte de munição foi usado em 2009.” Prof. Roubini disse a respeito, “atingimos uma velocidade de estol na economia, não apenas nos Estados Unidos, mas também na Zona do Euro e no Reino Unido… Infelizmente, nós estamos ficando sem ferramentas políticas.” 10

 

A Receita para Resolver a Crise

Os laços globais entre os países é um assunto encerrado, resultado da evolução natural que ainda continua. Na verdade, os laços são apenas o reforço, e a crise de 2008 claramente expos que  única rede na qual os destinos de todos os países estão interligados.

Em 2008, a rede tentou reanimar-se através de tratamento local dos sintomas mais evidentes da crise. Além disso, tentou-se fazê-lo em proporções sem precedentes.

No entanto, o sistema internacional está seguindo paradigmas econômicos, sociais e políticos que foram formados após a Segunda Guerra Mundial e não são mais adequados para a rede global de hoje baseada em laços econômicos e sociais. Agora, ligação de responsabilidade mútua foi formada entre todos os países, e a discrepância entre a natureza do sistema econômico global e do modus operandi anacrônica que refletem os valores de independência econômica a todo o custo, maximizando lucros e ganhos, e desenfreada competição está no centro da crise global.

Os tomadores de decisão e economistas de todo o mundo não conseguiram adotar uma perspectiva mais ampla sobre a realidade global, pela qual as ligações entre os países os obriga a desenvolver laços de responsabilidade mútua entre eles, se não por vontade própria, então pelos fatos da vida que demandam isso. No mundo global integral de conexões de comércio, economia, bancos, finanças, um país que se preocupa apenas com própria economia, independentemente do resto dos países economia, vai falhar completamente, prejudicando todo o sistema internacional, que se esforça para conseguir equilíbrio, harmonia e colaboração, como deve ser quando suas partes são interdependentes. Mesmo que a economia de um país forte se esforce, vai inevitavelmente ser afetada pelas crises nas economias mais fracas, como é o caso da Alemanha na crise da dívida da Zona Euro em 2011.

Assim, a elaboração de uma solução requer um movimento abrangente, global, com a cooperação e a responsabilidade entre os países. Isso se manifestará em consideração mútua, cuidado, sinergia, vontade de fazer concessões e unificação fiscal, monetária e mecanismos reguladores.

Não só os laços de responsabilidade são necessários, mas um país que não siga esse princípio e não considere as necessidades dos outros países, realmente irá se prejudicar. Os países mais fortes devem ajudar o sistema internacional usando fundos internacionais de resgate e auxílio.

A mudança conceitual de valores vai motivar a reestruturação da economia internacional, onde um país ajuda o outro, ou todo o sistema, porque todos os países entendem que se não o fizerem, irão prejudicar a si mesmos devido às inter-relações estreitas no sistema.

Ao mesmo tempo deve haver oferta de educação e de informação sobre a realidade global, conectada, no qual o sistema internacional tem evoluído. Isto mudará gradualmente a visão da população do mundo e de seus tomadores de decisão. Como resultado, a nova natureza da economia internacional não vai ser percebida como um mal necessário, mas como uma nova ideia que tem em si grande potencial econômico e social para o mundo inteiro.

Além disso, devemos entender que a economia global é um reflexo das relações internacionais. Por esta razão, a mudança necessária em primeiro lugar é uma mudança conceitual das relações entre eles. Isso exigiria a construção de laços de responsabilidade entre os países de acordo com as necessidades de cada um, juntamente com as necessidades de todo o sistema internacional.

Isso se manifestará em ampla colaboração e solidariedade entre os países.

Como dito acima, a economia reflete os laços sociais entre os indivíduos e nações. Portanto, alterando as relações internacionais e adaptando os laços à natureza global e interdependente do sistema econômico mundial resultará na mudança antecipada de uma ameaça de crise global para uma economia internacional equilibrada e sustentável. Isto será radicalmente diferente do que conhecemos hoje. A mudança de valores é necessária para a melhoria das relações interpessoais e internacionais.

Para resumir, a economia é uma ciência que reflete as relações existentes entre as pessoas. A nova economia, que é adequada para o mundo global e integral, é radicalmente diferente da que temos hoje.

A crise econômica é uma ameaça para todos nós. Todas as tentativas para lidar com ela usando meios econômicos tradicionais falharam. A única esperança de alcançar o equilíbrio econômico está na implementação da responsabilidade. A crise global resulta do abismo entre a natureza competitiva e individualista do sistema atual e o que deve existir em um sistema global e integral. Essa crise também vai acelerar a transformação.

Os principais economistas já estão começando a entender que a predisposição para manter o sistema existente mesmo quando ele já está falhando não serve aos nossos interesses. Em vez disso, temos de nos concentrar na construção de uma boa, harmoniosa e sólida realidade.

É importante notar que um caminho em direção a uma economia equilibrada, harmoniosa e estável não implica revolução. Em vez disso, ela implica em deliberação, transparência de informações e processos de tomada de decisão e mais claras explicações e educação sobre as leis de nosso novo mundo global-integral.

 

2 “Eurozone debt web: Who owes what to whom?,” BBC News Business (November 18, 2011), http://www.bbc.co.uk/news/business-15748696

3 “Xi Jinping and US Vice President Biden Attend China-US Business Dialogue,” Ministry of Foreign Affairs of the People’s Republic of China, (August 19, 2011), http://www.fmprc.gov.cn/eng/zxxx/t850833.htm

4 Ben Rooney, “Geithner sounds alarm on Europe,” CNN Money, (September 25, 2011), http://money.cnn.com/2011/09/24/markets/geithner_debt/index.htm

5 “Short films from the 2011 Lindau Nobel Laureate Meeting in Economic Sciences,” The New Palgrave Dictionary of Economics Online, http://www.dictionaryofeconomics.com/resources/news_lindau_meeting (the above-mentioned statement is in Stiglitz’s video after 10:05 minutes.

6 John Detrixhe and Tom Keene, “Europe Close to Banking Crisis, El-Erian Says: Tom Keene,” Bloomberg (September 13, 2011), http://www.bloomberg.com/news/2011-09-13/europe-close-to-banking-crisis-el-erian.html

7 “G20 nations urge Europe to act decisively on debt,” Reuters (October 15, 2011), http://www.france24.com/en/20111015-debt-crisis-europe-us-g20-pledges-adequate-funding-for-imf

8 James Saft, “Don’t expect coordinated easing,” Reuters (September 22, 2011),http://blogs.reuters.com/james- saft/tag/federal-reserve/

9 Patrick Allen, “Marc Faber: Obama’s Job Package ‘a Complete Joke,’” CNBC (September 9, 2011), http://www.cnbc.com/id/44449276/Marc_Faber_Obama_s_Job_Package_a_Complete_Joke

10 “Roubini on U.S. Recession Risk, Europe and China,” Bloomberg (August 31, 2011), http://www.bloomberg.com/video/74655083/

Publicado em Artigos

A Economia como um Reflexo das Relações Humanas

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

Uma melhoria econômica verdadeira e duradoura depende das mudanças nas relações humanas.

Pontos-chave

  • A economia é um reflexo das nossas relações sociais. Portanto, a crise na economia é em primeiro lugar e principalmente uma crise em nossas inter-relações.
  • A função do homem é egoísta — com o objetivo de maximizar o lucro para si. Na realidade de escassez, esta função cria um conflito inerente entre as pessoas, manifestando-se na competição e num jogo de soma-zero onde o ganho de um é necessariamente a perda do outro.
  • Existe interdependência entre nós no mundo global-integral em que a humanidade evoluiu. Por isso as conexões egoístas entre nós param de funcionar. Essa lacuna entre o nosso egoísmo e nossa interconexão é a razão para a crise.
  • As leis do mundo global-integral nos compelem a nos conectarmos em responsabilidade mutua e atuarmos como células de um organismo único em benefício da população inteira.
  • Quando a responsabilidade e a solidariedade social forem a base de um novo paradigma econômico — uma economia equilibrada e funcional — como ditado pelas leis do mundo global-integral, alcançaremos uma vida de conforto, com prosperidade pessoal e social e um sistema equilibrado, harmonioso e sustentável.
  • Fornecer informação e formação, e criar um ambiente de apoio são necessários para nos conectarmos em responsabilidade mútua.

A Crise Econômica Mundial Está Desafiando o Paradigma Econômico

De acordo com a economia clássica, as pessoas aspiram maximizar os lucros por motivos completamente egoístas. O filósofo britânico do século XVII, Thomas Hobbes, colocou desta forma: “Cada homem deve supostamente buscar o que é bom para si mesmo, naturalmente, e o que é, só pela causa da paz,  por acaso”¹. Essa visão, que ainda prevalece, afirma que o comportamento social é apenas um resultado após o fato, e que nossos antepassados fizeram tratados sociais apenas pelos lucros que eles  renderam,  não porque eles foram atraídos pela companhia uns dos outros.

Na última década, uma nova escola de pensamento surgiu, conhecida como “economia comportamental”. Esta nova escola centra-se sobre o comportamento humano real, em vez de nas forças do mercado abstrato e considera esse comportamento como um meio para compreender a forma como tomamos decisões financeiras. A economia comportamental descreve a natureza e o poder das relações humanas, suas colaborações na medida em que as tendências e percepções fundamentais da economia humana dependem de valores de mutualidade.

A atual crise mundial e nossas tentativas sem sucesso de resolvê-la pode significar que as respostas aos desafios da humanidade se encontram nessas novas vias de investigação. Na verdade, até agora todos os esforços para resolver a crise falharam. Cortes de taxa de juros, resgates, programas de expansão e aumento      do déficit governamental baseiam-se na economia clássica, que depende de um conjunto de movimentos monetários (principalmente cortes nas taxas de juros) e medidas fiscais ¹Thomas Hobbes, Rudimentos,1651, iii (expandindo os orçamentos governamentais redução de impostos e assim por diante).

A intervenção do governo e a assistência do banco central pretendia mover o mercado de volta ao equilíbrio. A falha subsequente para conseguir isso sugere que é hora de substituir o paradigma econômico existente. Qualquer novo paradigma deve subir a um nível acima, apontar o problema e, portanto, a solução está no nível das relações humanas, e não no nível monetário.

 

Economia comportamental implica um novo rumo e uma nova solução para a crise

Se entendermos o impacto crítico que a natureza das relações das pessoas tem na economia, entenderemos o tipo de sistema econômico que devemos construir para que desempenhe suas funções de forma eficaz e mantenha a sua estabilidade. Quando os sistemas econômicos e financeiros se adaptarem ao mundo global-integral, onde laços econômicos atravessam fronteiras, e onde as pessoas dependem e afetam umas as outras, haverá uma estabilização do sistema socioeconômico. Só então o sistema evitará choques e frequentes crises que nos abalam. Soluções anteriores para estas crises são insuficientes, por isso, desde o início de 2012, o mundo está enfrentando uma situação econômica grave, que é na verdade uma continuação da crise que começou no Verão de 2007.

Assim, não só a economia deve mudar. Porque os sistemas econômicos e financeiros são reflexos das relações humanas, toda a comunidade internacional deve fornecer soluções que reorganizem o sistema das relações humanas. Em outras palavras, quando nossas atitudes mudam em direção à conexão, à unidade, à coesão social, e à responsabilidade mútua, vamos descobrir a solução para o paradigma econômico de hoje…

A Evolução da Economia

As pessoas não podem existir sem levar em conta a sociedade. Como seres sociais, nós somos obrigados a viver entre as pessoas, sermos assistidos por elas e contribuir com nossa parte para o bem comum. A evolução da humanidade, do clã do homem das cavernas através do feudalismo e depois o capitalismo reflete a evolução de nossas interconexões e nossa interdependência. De acordo com essas mudanças, a maneira que nós comerciamos e intercambiamos bens e serviços também evoluiu para refletir as épocas e suas características.

Em tempos pré-históricos, humanos viviam em clãs. Então vieram as vilas e cidades e em seguida,os estados. Por milhares de anos, as pessoas trabalharam para se sustentarem a si mesmas,aos seus parentes e as pessoas que as rodeiam. Mas como comércio internacional evoluiu, as Nações mais desenvolvidas começaram a conquistar as subdesenvolvidas e novas terras foram descobertas. A revolução industrial levou a urbanização e estreitou as conexões entre as pessoas.

As pessoas não podem existir sem levar em conta a sociedade. Como seres sociais, nós somos obrigados a viver entre as pessoas, sermos assistidos por elas e contribuir com nossa parte para o bem comum. A evolução da humanidade, do clã do homem das cavernas através do feudalismo e depois o  capitalismo  reflete a evolução  de nossas interconexões e  nossa  interdependência.  De acordo com essas mudanças, a maneira que nós comerciamos e intercambiamos bens e serviços também evoluiu para refletir as épocas e suas características.

Comércio e Intercâmbio

É através do comércio e do intercâmbio que a economia atual evoluiu. Esta economia é impulsionada pelo egoísmo da humanidade, que se esforça para lucrar, mesmo em detrimento de outros. Uma pessoa pode ser um agricultor, outra pode ser um fabricante e conectando-se, ambos se beneficiam. Eis porque nós construímos todas as nossas conexões em paridade com a nossa natureza egoísta. No passado, ela envolveu a e troca de produtos sem o uso de dinheiro. Mais tarde, nós aprendemos a usar moedas de metais preciosos e, em seguida, notas de papel que representavam o valor financeiro de quem as emitiram.

Hoje, a maioria das transferências de dinheiro é, na verdade, virtual. A transferência é feita de uma conta para outra através de redes de computadores. A Revolução da Tecnologia da Informação mudou drasticamente as relações humanas, e a virtualização das relações é expressa através das finanças e também dos mercados financeiros.

Segue-se que a economia é um tipo de compromisso entre egos individuais e a necessidade de conectar-se a fim de se sustentarem mutuamente, através de algum tipo de consentimento geral. Claramente, a economia global tem muito a ver com jogos de poder e política, bem como considerações sobre moral, que não são tomados em conta no paradigma da economia clássica.

Em vez disso, a economia lida com elementos contrastantes e não está sujeita às leis físicas da natureza. Pelo contrário, ela é nossa própria criação, expressando um dos meios que usamos para sobreviver como espécie, e como nós lidamos com certos relacionamentos. Isso é de suma importância, porque em vez de tentar forçar um paradigma ultrapassado em nós mesmos, nós podemos desenvolver um paradigma diferente que expresse a mudança na interação humana que existe no mundo interconectado de hoje, na interdependência e na reciprocidade dos laços econômicos e sociais, que estão apenas se estreitando.

 

Toda a Verdade Sobre a Crise Econômica

Esta crise manifesta-se em nossa abordagem ao mundo e à sociedade. A crise está dentro de nós e em nossas inter-relações. A natureza funciona em harmonia e equilíbrio, e agora nos cabe mudar  a nós mesmos e como nos relacionamos com as outras pessoas. Como resultado, os sistemas que temos construído, incluindo o sistema socioeconômico, devem ser equilibrados e harmoniosos, como é a Natureza.

Entre as características da crise econômica estão os preços inflados de produtos, serviços, ações e empréstimos. Como resultado, assistimos a uma crise de confiança na economia. No final do dia, a imagem falsa do mundo que foi construída e cultivada durante muitos anos por aqueles que faziam suas próprias agendas se desintegrou. As pessoas começaram a entender que em uma economia baseada em mentiras, especulação e manipulação é impossível confiar em alguém. Não surpreendentemente, em um estado de desconfiança geral, o sistema econômico de hoje é insustentável.

Assim, a nossa economia contemporânea é uma fotografia de um mundo de interconexões distorcidas, manipulações e falsos valores. Uma concorrência desenfreada e sem escrúpulos foi criada, juntamente com o comportamento irracional do consumidor, já que os consumidores acreditam erroneamente que o que eles compram define sua essência (“eu compro, logo existo”). Hoje, os valores da sociedade são determinados por marcas, celebridades e símbolos de status, não por interesses racionais das pessoas. Nestas circunstâncias, o colapso da economia foi apenas uma questão de tempo.

 

A Diferença Entre um Mundo Transformado – Global e a Economia Anacrônica

Uma explicação mais sistêmica da raiz da crise é que o mundo tornou-se global e conectado. Todos os sistemas, incluindo o econômico e o social, estão vinculados, um afeta o outro. Os mercados financeiros, por exemplo, constituem um único sistema global. Portanto, tudo o que acontece nos Estados Unidos afeta a Europa e o resto do mundo e vice-versa. Os mercados de ações tornaram-se há muito tempo um barômetro global que expressa as nossas esperanças,  nossas crises , nosso desespero e nosso crescimento.

Além disso, os mercados financeiros estão afetando outros sistemas, especialmente o mundo dos negócios, o desempenho das economias e nosso bem-estar financeiro pessoal. O mundo tornou-se um complexo sistema global de sistemas interdependentes, ligados de uma forma que não escolhemos, mas que não podemos ignorar.

Ao mesmo tempo, no entanto, as nossas relações humanas ainda se baseiam em valores individualistas. Nossas relações são inerentemente egoístas e competitivas e mudaram muito pouco nos vários séculos passados. Naturalmente, já que nossa economia reflete essas relações, também reflete esses valores.

Estamos diante de uma enorme lacuna entre as leis do mundo global-integral e a natureza egoísta das relações humanas e a economia deles derivada. Essa lacuna é a verdadeira razão porque atravessamos crises econômicas e sociais. Até que nós preenchamos essa lacuna, vamos  continuar a experimentá-la como uma crise.

As leis do novo mundo nos obrigam a nos unirmos e mudar os sistemas econômicos e sociais para que se tornem baseados na consideração mútua, cooperação e sinergia, compartilhamento de recursos e conhecimento, no consumo equilibrado e na unificação dos mecanismos econômicos, monetários e fiscais. Ambos os sistemas expressam a responsabilidade entre as pessoas, enquanto que a economia atual continua a se basear na maximização do benefício e ganho pessoal e concorrência e assim apoia o conflito inerente entre as pessoas.

Devido à importância do dinheiro em nossas vidas, a crise econômica está recebendo muita atenção, e a dependência econômica entre os países e mercados de ações é clara e aceita por todos. Ainda uma interdependência semelhante existe em outros sistemas, como na ecologia, na educação e ciência. Na verdade, cada sistema afetado pelas relações humanas está agora em crise.

 

A Crise como uma Oportunidade

Em geral, a ascensão de um novo sistema econômico tomou a humanidade de surpresa. No passado, nós construímos conexões e sistemas sociais e econômicos para coincidir com nossas necessidades e a maneira com que nós nos inter-relacionávamos.Agora, de repente,  esses sistemas parecem insuficientes para gerir nossas vidas, assim podemos viver em paz e conforto. Em vez disso, o sistema global-integral parece ter suas próprias leis.

A interdependência e estreitamento das conexões entre todos os sistemas de vida nos deixam sem escolha a não ser mudar nossas próprias interconexões em conformidade.A interdependência  entre as pessoas, empresas e países não podem existir em um sistema econômico baseado em um jogo de soma zero, caracterizado pela concorrência agressiva, ênfase na maximização do ganho pessoal, e da manipulação.

A interdependência entre os diversos elementos do sistema global está em contraste com as diferenças sociais e econômicas que continuam a existir dentro e entre países.  Este sistema  global, baseado no ego tornou-se completamente ineficaz, tornando-se impossível continuar a usá-lo. Na verdade, as relações que construímos anteriormente levaram a esta crise. Em certo sentido, a crise nos oferece a oportunidade de examinar a natureza das nossas relações e mudá-lo para que se encaixe no que é necessário neste mundo global, e da necessária interdependência de suas partes. Tal harmonia e congruência necessariamente criam uma economia diferente, mais otimista, equilibrada e estável.

A Economia e as Relações Humanas

No final do dia, a rede de conexões entre nós determina tudo. Essa rede é espalhada em todo o mundo e consiste de muitos elementos — países, exércitos, fundos, matérias-primas, domínios religiosos, laços sociais, esperanças para o futuro e assim por diante. Todos são partes desta rede entre nós, é por isso que o conceito é tão difícil para nós compreendermos… Por enquanto, aqueles que podem entendê-lo são aqueles que lucram o máximo dele.

Muitas pessoas argumentam que devemos examinar o sistema financeiro e corrigi-lo. Mas precisamos entender que toda a realidade mudou. O sistema tornou-se global e integral, e isso é o que impede nossas tentativas de vivermos com o atual sistema socioeconômico. Tudo o que construímos no sistema existente resultou da nossa natureza egoísta. Mas nossa realidade atual requer que retribuamos ao invés de explorarmos. A conexão entre nós agora é muito mais forte e nos obriga a “atualizar” as nossas conexões para a união e responsabilidade (em que todos são responsáveis pelo bem-estar uns dos outros).

Porque não sabemos como nos aproximar da rede global-integral, estamos perdendo nossa capacidade de nos comunicar corretamente uns com os outros. Eis porque nós enfrentamos esta crise mundial de confiança. Os bancos não acreditam nos fabricantes, os cidadãos não acreditam em seus governos e os governos não acreditam uns nos outros.

No passado, a comunicação era clara e baseada no dar e receber, na consideração individual de ganhos e perdas e na necessidade de cooperar, mesmo contra nossa vontade. O ego desempenhou um papel fundamental e todos nós entendíamos que isto era assim.

No sistema global integral de conexões, no entanto, precisamos de uma economia que reflita a interdependência entre nós, mas nós ainda não adaptamos o nosso “sistema operacional” a ele.

Estamos ainda vivendo no sistema econômico e social, com base em como lidamos com os relacionamentos no passado.

Ao mesmo tempo, estamos descobrindo a interdependência entre nós. O problema é que ainda temos que entender como isso funciona. Ainda não detectamos a sua natureza altruísta! Aqui reside o problema: Esta crise contemporânea não pode ser resolvida pelas formulas antigas, uma vez que tudo depende de como rapidamente a humanidade pode se unir e avançar na direção da responsabilidade mútua.

 

Os Economistas Estão Perplexos

A caixa de ferramentas da economia clássica é inadequada para o nosso tempo e nosso pensamento antiquado está nos conduzindo ainda mais profundamente para a crise atual. Claramente, isso deve ser alterado, como Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel em economia, disse em uma palestra no 4º Encontro de Ciências Econômicas em Lindau, “Os modelos macroeconômicos padrão falharam em todos os testes mais importantes da teoria

científica. Eles não vaticinaram que a crise financeira aconteceria; e quando aconteceu, eles subestimaram seus efeitos.” 1

Precisamos nos adaptar e à natureza das nossas relações com as qualidades de nossas conexões no sistema global-integral. Ao continuar a desenvolver a economia comportamental, estamos dando um passo na direção certa — assim como a economia tornou-se global, assim também nossas relações sociais.

É por isso que as relações baseadas no ego não funcionam mais. Temos de aprender  as qualidades necessárias para os relacionamentos no novo mundo. Isso nãoapenas nos levará ao equilíbrio com o mundo global-integral, mas nos permitirá entender e acolher as mudanças que devem ser feitas nos sistemas social e econômico.

A mudança é inevitável; ela não pode ser interrompida. Quanto mais a negamos, mais iremos experimentar a mudança como uma crise. Mas, se em vez disso, chegarmos a compreender o significado da mudança e fazer as alterações necessárias, sentimentos de angústia darão lugar à esperança , à prosperidade , à harmonia e paz, entre nós e entre a humanidade e a natureza.

Portanto, tudo o que precisa mudar é a natureza de nossas inter-relações. Se nos comprometermos com um novo tratado econômico e social, um integral e global, com a responsabilidade entre nós, poderemos começar a transformar o paradigma econômico existente, e cada sistema vida que a humanidade construiu. Tal mudança é possível somente através de ampla educação e informação. Isto irá criar um ambiente de empatia que nutre os valores de responsabilidade e destaca as suas vantagens. Apenas tal processo evolutivo pode garantir uma economia estável e eficiente que permite a vida harmoniosa, equilibrada e sustentável para todos.

 

1 “Curta Metragem de 2011, Lindau Nobel Laureate Meeting in Economic Sciences,” The New Palgrave Dictionary of Economics Online, http://www.dictionaryofeconomics.com/resources/news_lindau_meeting

 

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Prefácio

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

Duas questões marcam 2011 como um ponto de viragem na história. A primeira é a agitação social em todo o mundo, e a segunda é a crise econômica mundial.

A agitação social começou com “A Primavera Árabe”, uma revolta que levou à queda de regimes no Egito e Líbia e caos e derramamento de sangue na Síria. A agitação social, rapidamente se espalhou para a Europa, com cidades de tendas que aparecem na Espanha, os motins na Grécia e no Reino Unido e várias formas de protesto civil em vários outros países. Finalmente, o protesto chegou aos Estados Unidos com o “movimento ocupe” que começou em Nova Iorque e se espalhou como incêndio florestal em todo o país.

Esta inquietação global tinha uma raiz comum — o sentido que a injustiça social estava perpetrada. Finalmente, as pessoas se levantaram determinadas a que suas vozes já não poderiam ser ignoradas; Elas exigiram que a suficiência econômica e a democracia, no caso da Primavera Árabe, seriam dadas a todos. Na Europa e nos EUA, outra exigência foi colocada sobre a mesa — diminuir a lacuna entre o 1% mais rico da população e os outros 99% e mudar ou pelo menos consertar o sistema capitalista que permitiu que essas lacunas fossem criadas.

A segunda questão importante foi a crise econômica mundial. As ferramentas que os tomadores de decisão utilizaram, tais como taxas de juros, derramando torrentes de dinheiro no mercado, corte ou criação de fundos de ajuda, tornaram-se absolutamente ineficazes já que a economia global continuou sua espiral descendente. O mundo parou de se comportar da maneira que os economistas haviam previsto porque o mundo mudou desde que os paradigmas da economia clássica foram estabelecidos. Infelizmente, os economistas não mudaram seus paradigmas na mesma proporção. O novo mundo é global-integral, onde cada evento, uma catástrofe natural ou uma crise global, afeta todo o mundo. A interdependência entre todos os elementos do sistema global é um fato que deve ser levado em conta, como demonstram claramente tanto a crise da dívida na Europa comoo terremoto no Japão.

A agitação social e a crise econômica estão intimamente ligadas. Como os mesmos grupos realizaram os protestos contra o sistema econômico e injustiças sociais, tornou-se claro que a economia e sociedade estão interligadas. Na verdade, nossa economia reflete a natureza da nossa sociedade, a forma como nos relacionamos uns com os outros.

A expansão do comércio mundial e o avanço tecnológico ajudaram a reforçar as nossas ligações ainda mais, transcendendo fronteiras, cultura, religião e raça. O mundo tornou-se uma pequena aldeia, onde qualquer pessoa está a uma chamada gratuita, de distância, pela Internet, de qualquer outra pessoa.

E ainda, o paradigma econômico que temos seguindo por décadas tornou-se obsoleto. Pior ainda, suas premissas de livre concorrência e maximização do ganho pessoal, fundados na crença de que esses traços manteriam o sistema saudável e funcionando, provaram estarem errados. Fizemos do consumo uma cultura que chamamos de “consumismo”, temos consagrado e venerado o individualismo e os privilégios, e criamos uma desigualdade tão extrema que 1% da população mundial possui 40% da riqueza do mundo! O resto do mundo sofre de profunda insegurança financeira, ou pior. Mesmo nos países mais desenvolvidos, milhões vão para a cama com fome todas as noites, e milhões de pessoas não têm nenhum seguro de saúde e milhões não são apenas indigentes, mas também não têm esperança.

A crise global e os protestos globais são testemunhos de que as pessoas não estão mais dispostas a tolerar essa injustiça, e essa transformação tornou-se o clamor do momento.

A primeira coisa a ser mudada é as relações humanas, afinal de contas, elas são a raiz do problema. Quando esse elemento for alterado, o resto dos sistemas de vida consequentemente muda. Em um mundo global-integral onde todos são interdependentes, o espírito predominante das relações humanas deve ser o da responsabilidade, onde todos são responsáveis pelo bem estar dos outros.

Se nós refletirmos sobre o significado da rede de conexões que temos formado através da globalização, veremos que a incongruência entre a nossa abordagem auto-centrada e a natureza interdependente das nossas conexões é a causa da crise. E desde que a globalização é uma realidade irreversível, o que nos resta é ajustar as nossas relações a esta realidade. Portanto, se nós assumimos um modus operandi de responsabilidade — que é congruente com a interdependência — vamos resolver a crise global e a agitação social.

Este livro contém treze ensaios “independentes” escritos em 2011 por vários economistas e financistas de diferentes disciplinas. Cada ensaio aborda um problema específico e pode ser lido como uma unidade separada, mas um leitmotiv os conecta — a ausência da responsabilidade como a causa de nossos problemas no mundo global-integral.

Você pode ler os artigos na ordem de sua escolha. Nós, os autores, acreditamos que se você ler pelo menos vários dos ensaios, você vai formar uma imagem mais inclusiva da mudança sugerida nas páginas à frente, a transformação necessária para resolver a crise global e criar uma economia próspera e sustentável.

Para facilitar a mudança mais rápida e eficaz quanto possível, a influência do ambiente é fundamental. A chave para uma transição bem sucedida do independente ao paradigma interdependente encontra-se na educação expansiva e na circulação da necessidade de a) mudança, b) a natureza da mudança necessária. A mídia e o sistema de educação podem e devem desempenhar um papel de liderança na criação de um ambiente que informe as pessoas o tipo de mudança necessária e apoie a sua expansão.

Uma solução não deve ser forçada. Isso levaria a um doloroso fracasso. Para alcançar a responsabilidade, devemos mutuamente participar na reconstrução de nossos valores sociais. Isso deve ser feito no âmbito de um tratado socioeconômico, que deve se desdobrar gradualmente, mantendo um amplo consenso e deliberação durante todo o processo. Se nós trabalharmos desta forma, acreditamos que a crise global vai se manifestar como uma oportunidade de ouro para toda a humanidade. Ela nos permitirá viver em duradoura segurança econômica e financeira, com base em uma conexão de responsabilidade entre todos os povos. A mudança deve, naturalmente, começar dentro de nós.

 

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Os Benefícios da Nova Economia

Você alguma vez se questionou por quê, com todos os esforços dos melhores economistas no mundo, a crise econômica se recusa a esvaecer? A resposta para essa pergunta reside connosco, todos nós. A economia é um reflexo de nossos relacionamentos. Através de desenvolvimento natural, o mundo se tornou uma aldeia global integrada onde todos são interdependentes.

Os Benefícios da Nova Economia: Como resolver a crise econômica através da responsabilidade mútua foi escrito por preocupação pelo nosso futuro comum.

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Índice

Apêndice: de Publicações Anteriores do Instituto ARI

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Um Mundo Global-Integral

Do livro “Os Benefícios da Nova Economia”

Globalização: “Globalização” refere-se às crescentes relações internacionais, envolvendo cultura, pessoas e atividade econômica. Na maioria das vezes se refere à economia: a distribuição planetária dos locais onde são produzidos os bens e serviços, através da redução das barreiras ao comércio internacional, tais como tarifas, taxas de exportação e quotas de importação. A Globalização tem acompanhado e contribuído para o crescimento econômico nos países desenvolvidos e em desenvolvimento através do aumento da especialização e do princípio da vantagem comparativa (a capacidade de uma pessoa ou de um país produzir um determinado bem ou serviço a um custo menor). O termo também pode referir-se à circulação transnacional de ideias, línguas e cultura popular.

Integral: inteiro, completo, pleno. Além disso, consistindo ou composto de partes que juntas constituem um todo.

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Um Programa Curativo Para a Sociedade

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– Suponhamos que criamos o meio ambiente ideal no qual a criança se forma, mas mais tarde ela tem de ser integrada na sociedade maior. O problema é que não há nada em que se integrar. Não há sociedade e as instituições sociais estão destruídas. E as crianças não aspiram a lugar algum pois vêem que não há lugar algum para onde elas possam ir.

Educar estas crianças sobre as leis da Natureza, deve criar novas instituições sociais enquanto durante o seu crescimento, ou terão elas se fazer parte de algo amorfo e nada claro?

– Agora não falamos da sociedade, mas das crianças. Sem destruir coisa alguma e sem criar algo de novo, nós temos de entregar o nosso sistema de educação a toda a pessoa.

Se falamos da sociedade, então precisamos de um programa governamental especial que se resumisse a que toda a pessoa tivesse de receber uma hora por dia do seu empregador no seu lugar de trabalho para assistir e participar neste tipo de programa durante o trabalho. Ela continuaria a receber o mesmo salário, mas estaria obrigada a estudar durante uma hora desse período.

Falamos de programas de TV no local de trabalho onde as pessoas de um ou vários departamentos se reúnem num salão. Nós transmitimos um programa especifico para elas onde vemos um grupo que lhes dê um exemplo da interacção certa e análise de situações conflituosas especificas.

Em toda a empresa deve haver um educador de preparação que comece a trabalhar com estas pessoas depois de elas terem assistido a vários programas destes. Tudo está direccionado a mostrar à pessoa que a unificação acima do egoísmo é produtiva.

Penso que o inteiro colectivo imediatamente começará a sentir o resultado, incluindo o empregador que não sentirá que está a desperdiçar uma hora do dia para que seus empregados façam isto. Porém, este não é mais um programa escolar, embora ele siga na prática o mesmo método. Nós mostramos à pessoa quem ela é, o que a impulsiona, como se elevar acima de si mesma e ser incluída na próxima e como ela consegue sair de si mesma. Isto envolve role-play onde representando diferentes papeis nos vemos do lado de fora.

Penso que veremos como as pessoas começam a entender e a aceitar calorosamente esta abordagem. Este programa foi inicialmente preparado para crianças. Ele reanima a sociedade a fazendo mais consolidada e calorosa, baixando a tensão e a criminalidade. Ele está destinado a ser aceite com gratidão e acolhido pelo governo. Se apresentado correctamente, através de distintos e famosos cientistas e activistas da sociedade, ele não pode falhar.

Não temos qualquer outra escolha. Senão agora, então dentro de alguns anos isto será muito mais necessário e procurado, mas é uma pena deixar o tempo passar!

Veremos quão benéfica esta educação é para todos e para tudo aquilo que nos rodeia. Temos de demonstrar que todos os problemas do homem residem na atitude do homem para com os outros, para o seu meio circundante.

Entendemos que é muito fácil transformar uma sociedade numa ditadura, onde nesse caso ela deixa de ser sociedade por completo. As sociedades democráticas no mundo existiram ou existem com a presença de muitas reservas, leis e limitações porque a natureza do homem está direccionada para comprar tudo, suprimir, não dando coisa alguma a ninguém e compartilhar com os outros somente na medida que eles lhe agradam ou lhe prestam serviço de alguma maneira. Esta é a lei do egoísmo.

Todas as chamadas democracias estão edificadas sobre a prevenção do egoísmo da pessoa selvaticamente se libertar. Isto é, é necessário criar um circulo de egoístas. Estes conseguem fazer praticamente tudo, enquanto aos outros é permitido fazerem ligeiramente menos. Nós lhes daremos algo também para a sua existência e daremos ainda menos a um circulo mais amplo e inferior. Serve isto para dizer, pelo bem da auto-preservação, uma hierarquia é criada na sociedade egoísta.

O mundo é controlado por indivíduos, um pequeno grupo cujos membros se conhecem muito bem uns aos outros e que são donos de tudo. Todos os outros obtêm o que quer que caia na sua porção. É assim que está organizado de cima para baixo.

Mas agora alcançamos um estado onde estes círculos poderosos também entendem a natureza finita da sua existência. Eles podem ter uma enorme quantidade de metais preciosos, pedras e dinheiro, mas isto não os salvará pois se não nos tornarmos um mundo integral, simplesmente nos consumiremos como o câncer e deixaremos de existir. Portanto, penso que há um público para o qual nos podemos voltar e uma meta que podemos alcançar.

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Ensino Para Jovens Delinquentes

Do livro “A Psicologia da Sociedade Integral”

– Nós recebemos muitos pedidos de organizações que trabalham com crianças cujo comportamento é aberrante e que foram incapazes de se encaixar na estrutura, tais como jovens delinquentes. Estas organizações dizem, “Venham até nós e façam o que quiserem,” porque elas desistiram completamente e não têm qualquer ideia do que fazer. Devemos iniciar um diálogo com elas?

– Antes de mais, estas organizações estão abertas para nós e isso torna-as uma boa escolha. Em segundo lugar, elas têm a oportunidade de fazer perdurar instrutores e educadores. Isso significa que nós temos de entrar aqui, mas antes de mais, trabalhar sobre psicologia.

As crianças que estão lá não estão receptivas a coisa alguma e estão isoladas em si mesmas. Elas têm um comportamento normativo especifico que é rigidamente fixo e não as permite escutar coisa alguma. Mas elas estão prontas para ouvirem sobre si mesmas, “O que me impulsiona? Por que isto me impulsiona ou a outra pessoa qualquer? Por que ela é desse jeito?” E etc.

Eles também têm de ser abordados do ponto de vista da psicologia geral. Isto é interessante. Ela deixa que a pessoa se revele a si mesma e ao comportamento das outras, “Por que ele é agressivo? Por que ele entra em brigas?” Fazendo uma gravação em vídeo delas de fora e começando a mostrar-lhes quem elas são. Isto vai atingi-las. Elas se verão a si mesmas do lado de fora num passeio e numa briga e depois os educadores devem começar a explicar-lhes o que impulsiona cada uma delas e por que cada uma delas se comporta desse jeito.

Deste modo você vai cativar o seu interesse. Elas se começarão a ver a si mesmas do lado de fora e a escutar os seus motivos para os seus comportamentos que elas nem sequer suspeitavam. Isto vai beliscá-las e as fará estar em alerta.

E depois você será capaz de conversar com elas, “O que são as forças negras dentro da pessoa que a obrigam a agir desse jeito? Isto é ela? Ou é a Natureza que deliberadamente joga com ela deste jeito, como se zombando delas, fazendo um monstro delas apesar de tudo? E como fantoches, elas têm de se mover segundo suas ordens.”

Se lhes mostrarmos isto, vamos tocar em todo e cada um deles pois este tipo de criança levanta seu nariz para qualquer um, incluindo para si mesma. Perder o seu sentido de auto-estima é a coisa mais horrível que pode acontecer nesse tipo de meio ambiente.

Isto significa que se conseguirmos comunicar com elas com este primeiro golpe contra o amor próprio, vamos ganhá-las e seremos capazes de trabalhar com elas. Por outras palavras, teremos de as trazer a um estado onde o amor próprio está verdadeiramente satisfeito.

Nós temos de revelar o facto de que neste momento elas não são livres, que elas operam segundo a influência de instintos, na prática representando um papel que é programado dentro delas e que elas não têm nada que lhes pertença. Mas é possível se representar a si mesmo de uma maneira diferente e começarmos a trabalhar com a permuta de papeis, eu estou no seu lugar, você está no lugar dele e etc.

Quando lhes ensinamos a representarem-se umas às outras e a “entrarem” umas nas outras, as crianças começarão a entender-se melhor. Daí para a frente é um caminho directo para as fazer se olharem umas para as outras, estudando e se entendendo umas às outras, se tornando incluídas umas nas outras. Quando uma criança representa o papel de outra pessoa, ela cria o modelo da pessoa dentro dela e depois ela consegue de algum modo unir, conectar e entender a outra pessoa.

Penso que essa correcção facilita a disposição ideal para a educação pois as crianças lá estão numa área cerrada. Nós temos de nos certificar que a nossa abordagem é muito equacionada. Também, devemos ser pacientes, especialmente no começo. Mas vai começar a resultar rapidamente. Se usarmos a gravação e depois análises psicológicas, as crianças problemáticas estarão muito receptivas a isto pois seu amor próprio é muito desenvolvido, então alcançaremos grande sucesso nesses lugares.

– Eu servi no exército soviético nos anos 80, que era de muitas maneiras construído como uma prisão. Externamente há somente uma coisa, mas na prática há algo completamente diferente. Durante o dia haviam discussões patrióticas e à noite, abuso e formas extremamente abomináveis de interacção.

As discussões oficiais que tomaram lugar durante o dia irritavam as pessoas ainda mais, de facto, as enfureciam pois havia uma diferença colossal entre aquilo que acontecia de noite e aquilo que era discutido durante o dia.

Quando começarmos a aplicar nosso método, o que acontecerá com esta diferença? O que deve ser feito acerca da brutalidade nocturna?

– Quando uma pessoa começa a representar o papel de outra pessoa além do seu próprio papel, ela começa a ver o que a impulsiona e perde a motivação para agir do jeito que ela fazia no passado. Ela já não tem mais a energia para os mesmos tipos de acções. Isso assim é porque ela não é ela própria, há algo que se senta dentro dela e que a faz se mover. Ela já perde a sua paciência com o seu próprio eu.

Estou seguro que isto terá um efeito imediato no comportamento das crianças tanto em comunidades fechadas como em sociedades abertas.

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