Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

Esqueça os Opiáceos, Fique Viciado em Conexão

A verdade surpreendente é que o oposto da adição não é a sobriedade, é a conexão humana.

Johann Hari é um jornalista e escritor cuja vida foi afectada pelo vício das drogas na sua família. Todavia, a história triste da sua família impulsionou-o a lançar uma busca pessoal pelas respostas e o que ele achou pode beneficiar-nos a todos. Hoje, quando o abuso de substâncias se tornou uma epidemia matando dezenas de milhares de pessoas anualmente apenas nos EUA, achar as causas e soluções para a adição tornou-se uma necessidade urgente pelo mundo inteiro, mas em especial nos EUA.

Foto: Pixabay, Licença: N/A2017-01-12

Johann Hari, um jornalista e escritor: “O oposto da adição não é a sobriedade é a conexão humana.” Foto: Pixabay

Está Tudo na Gaiola

Numa peça fascinante no The Huffington Post, o Sr. Hari detalha como ele descobriu a verdade sobre o vício e aquilo que ele acredita que o vai solucionar. Hari descobriu que a teoria inicial para o vício em drogas foi desenvolvida através de experiências em ratos que foram colocados em gaiolas com duas garrafas de água, uma com água normal, a outra com mistura de heroína. Eles beberam somente da garrafa misturada com a droga até que morressem.

O problema, escreveu Hari na sua peça, foi que os ratos foram colocados numa gaiola sozinhos, enquanto os ratos são animais muito sociais, tal como nós. O professor de psicologia em Vancouver, Bruce Alexander, decidiu ver se a teoria sobre a adição se manteria sob circunstâncias diferentes. Ele conduziu a mesma experiência com as duas garrafas, mas colocou os ratos numa gaiola que Hari descreveu como “Parque dos Ratos,” repleta de “bolas coloridas, a melhor comida para ratos e túneis para escorregar e bastantes amiguinhos: tudo o que um rato na cidade gostaria.”

Tal como antes, os ratos experimentaram ambas as garrafas, mas desta vez quase não regressaram à água drogada e nenhum deles ficou viciado. Em conclusão, Hari escreveu que “embora todos os ratos que estavam sozinhos e infelizes se tornaram viciados, nenhum dos ratos que tinha um ambiente feliz se tornou assim.”

Ainda mais surpreendente que as conclusões de Hari sobre a adição entre ratos foram suas conclusões sobre adição entre humanos. Hari descobriu dados que revelaram que pacientes hospitalizados que recebem tremendas quantidades de analgésicos baseados em ópio raramente ficavam viciados. O mesmo era verdade para soldados na Guerra do Vietname. Embora fossem para o terreno, cerca de vinte por cento deles ficava viciado em heroína. Mas quando regressavam, simplesmente a deixavam de usar, sem programa de reabilitação ser necessário. Tal como os ratos, assim que as pessoas regressam a um meio ambiente que as apoia e ama, elas deixam de usar drogas pois simplesmente não necessitam mais delas. Em conclusão, Hari afirmou que “O oposto da adição não é a sobriedade, é a conexão humana.”

O Que Acontece Quando Fugimos da Boa Gaiola

Falta de conexão humana resulta em mais que simples vício em drogas. Ela causa, ou agrava, tantos problemas físicos e mentais que parece que se a curássemos isso eliminaria praticamente a necessidade de cuidados médicos por completo. Numa entrevista para o Canal 2 em Israel, Thomas Friedman do The New York Times disse que recentemente questionou ao Cirurgião General, Vivek Murthy, “Qual a doença mais prevalecente na América, é o câncer, diabetes ou doença cardíaca? Ele disse, ‘Nenhuma destas, é o isolamento.'” Não a doença cardíaca, nem a depressão, nem sequer o abuso de substâncias, mas o isolamento social causa mais enfermidades nos EUA que qualquer outro problema de saúde. Junte isto à crescente acessibilidade e baixo custo de tanto drogas de rua como drogas receitadas e vai descobrir que criámos inadvertidamente para nós as próprias condições que conduzem os ratos e humanos ao abuso de substâncias e adição. Nos colocámos na gaiola errada, nomeadamente o isolamento social e então tentamos fugir ao nos voltarmos para as drogas.

William Lisman é o médico legista do Condado de Luzerne, na Pensilvania. Este condado é oficialmente “o Lugar Mais Infeliz na América.” Com os anos, vimos numerosas mortes causadas pela overdose da prescrição de drogas. Na sua visão, a situação é bastante directa: “Temos imensas pessoas que estão infelizes com a vida. As pessoas que usam drogas estão a procurar escapar.”

Por Quê a Infelicidade

Foto: screenshot., Licença: N/A2017-01-12

Thomas Friedman: “Vamos ver um inteiro novo conjunto de empregos e indústrias à volta do coração, à volta de conectar pessoas às pessoas.” Thomas Friedman do NY Times no Tucker Carlson Tonight show. Foto: screenshot.

Se fossemos como ratos, seria muito simples tornar-nos a todos felizes.Os ratos ficam perfeitamente felizes com bolas coloridas, boa comida e boa companhia. Nós humanos já temos isto e mais. A vida oferece toda a forma concebível de entretenimento, há uma abundância excessiva de comida e há pessoas à nossa volta. Todavia muitos de nós fogem de todas estas e se se isolam. Por que nos estamos a alienar uns dos outros? Por que há tanto ódio entre nós quando podíamos viver alegremente para sempre no “Parque de Humanos”? Há somente uma resposta: o ego.

A estrutura dos desejos humanos é única. Todos os outros animais procuram somente satisfazer suas necessidades. Quando eles têm comida suficiente para se sustentarem e abrigo para suas crias, eles ficam sossegados e contentes. Mas para nós, quanto mais temos, mais queremos. Além da alimentação e reprodução, desejamos poder, fama, conhecimento e respeito. Alimentação não é suficiente, queremos superioridade. Em 1998, o Jornal do Comportamento e Organização Económica publicou um estudo conduzido pelos professores de economia da Universidade de Harvard, David Hemenway e Sara Solnick. No seu trabalho de pesquisa, intitulado, “Ter mais é sempre melhor? Uma sondagem sobre preocupações posicionais,” Hemenway e Solnick concluem que muitas pessoas prefeririam receber um salário anual de $50,000 enquanto outras ganham $25,000, que ganharem $100,000 por ano enquanto as outras ganhassem $200,000. Por outras palavras, desde que consigamos cuidar das nossas necessidades básicas, o que nos importa não é se somos ou não ricos, mas se somos ou não mais ricos que os outros.

Nossa inveja e ódio pelos outros tanto nos conectam, pois constantemente nos comparamos aos outros como nos alienam, uma vez que não queremos conectar-nos com eles mas ganhar superioridade. Deste modo, o ego corrompe nossos relacionamentos com os outros. Se nos pudéssemos livrar do ego, ficaríamos descansados e contentes, mas essencialmente seríamos como ratos – nos acomodando com a comida e abrigo.

Nós não podemos ser como ratos. O ego é o motor da nossa evolução, a força condutora por trás do progresso. Nossos sábios nos dizem no Midrash (Kohélet): “Uma pessoa não deixa este mundo com metade de seus desejos satisfeitos. Aquele que tem cem quer duzentos e aquele que tem duzentos quer quatrocentos.” Como a pesquisa acabada de mencionar demonstra, nossos egos cresceram até ao ponto que não se acomodam com ter mais, eles querem ter mais que os outros. Pior ainda, frequentemente temos prazer em causar dor às outras pessoas por mera recriação de as magoarmos. Nenhum animal tem prazer em causar dor sem uma finalidade, só os humanos têm.

O pesquisador de abuso de drogas pioneiro, Professor Peter Cohen da Universidade de Amesterdão, salienta que as pessoas têm uma profunda necessidade de se conectar e formar conexões, que é assim que derivamos satisfação. Quando o ego corrompe nossas conexões, ele destrói nossa maior força de satisfação, ele faz-nos detestar o contacto humano, todavia nos aterroriza de ficarmos sozinhos.

Inverter os Danos do Ego

Como o Sr. Hari o colocou na sua publicação, “Se absorvermos verdadeiramente esta nova história,” de que a adição não é causada pela química mas pelo isolamento das pessoas, “teremos de mudar muito mais que a guerra das drogas. Teremos de nos mudar a nós mesmos.” Regressando por um momento a Thomas Friedman, numa entrevista com Tucker Carlson no Tucker Carlson Tonight show, o Sr. Friedman disse em respeito ao iminente desafio do desemprego permanente e os desafios que isso apresenta, “Primeiro trabalhávamos com nossas mãos, então trabalhávamos com nossas cabeças e agora vamos trabalhar muito mais com nossos corações. …Penso que conectar pessoas às pessoas será um trabalho tremendo. …Penso que os melhores trabalhos serão empregos de pessoas-para-pessoas. Vamos ver um inteiro novo conjunto de empregos e indústrias à volta do coração, à volta de conectar as pessoas às pessoas.”

Friedman está certo. Em 2013, O Instituto ARI publicou o livro, Os Benefícios da Nova Economia: Resolvendo a Crise Econômica Global Através da Responsabilidade Mútua. Seus autores, alguns dos quais são meus estudantes, afirmaram que “uma mudança de conceitos e valores é agora necessária, uma mudança de relacionamentos baseados em poder para a solidariedade e coesão social. A economia está destinada a apoiar e manter somente a conexão entre as pessoas.”

Em recentes anos, o Movimento Arvut (Garantia Mutua), também fundado pelos meus estudantes, tem conduzido eventos de Mesa Redonda e sessões de Círculo de Conexão pelo mundo inteiro com sucesso retumbante. Estas duas técnicas, sobre as quais elaboro no meu livro, Completando o Círculo, implementam o princípio descoberto por Abraão o Patriarca e aperfeiçoado pelos seus descendentes e discípulos: “O ódio incita ao conflito e o amor cobre todos os crimes” (Provérbios 10:12).

Simplificando: Não tente esmagar ou suprimir o ego, cubra-o com amor e ele vai levantá-lo\a novas alturas. Os autores do Livro do Zohar sabiam isto e escreveram, “Eis, quão bom e quão agradável é que quando irmãos se sentam juntos. Estes são os amigos quando se sentam juntos e não estão separados uns dos outros. Inicialmente parecem pessoas em guerra, desejando se matar umas às outras. Depois, eles retornam a estar em amor fraterno. Doravante, também vós não vos separareis … E pelo vosso mérito haverá a paz no mundo” (O Livro do Zohar, Aharei Mot).

Embora esteja deleitado que as pessoas finalmente estejam a perceber que o isolamento social é nosso maior problema e que devemos aprender a nos conectar uns com os outros, também temo que estejamos a despertar muito lentamente. A menos que nos apressemos, as pessoas serão conduzidas para tamanhos níveis de violência (que já estão a atingir novos máximos) que não seremos capazes de prevenir uma catástrofe social ou até global. Quanto mais rápido percebermos que devemos introduzir ampla educação para a conexão, melhores serão nossas chances de passar pela mudança no nosso trabalho e conexões sociais rápida, fácil e agradavelmente.

Publicado originalmente no Haaretz

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